Há um novo museu em Alcobaça que conta com uma coleção dedicada às formas de comunicar. Abriu portas nos 50 anos da Revolução e é num espaço moderno e com design contemporâneo que se podem conhecer os mais variados telefones de fios, gramafones, rádios, num sem fim de equipamentos. Estão expostos mil de um total de cinco mil objetos
Abriu um novo Museu das Máquinas Falantes, situado no coração da cidade de Alcobaça, e que está a dar que falar. Não só pela importante coleção que o originou e que pertenceu a José Madeira Neves (1933-2003) como pela forma contemporânea com que apresenta os diferentes equipamentos da área da tecnologia do som, das telecomunicações e da radiodifusão.
Está sob a alçada do município de Alcobaça, que adquiriu a coleção à família de José Neves, natural da Cela Velha. Este ingressou ainda jovem na antiga Emissora Nacional de Radiodifusão (atual RDP/RTP), mas só viria a contratualizar a 10/08/1967 como Operador Auxiliar, ascendendo posteriormente a Técnico de Áudio, tendo-se reformado em 1993.
Partindo da sua experiência e conhecimento técnico do sector da rádio, ao longo de décadas, constituiu em espaço privado uma das mais relevantes coleções nacionais da especialidade.
Além da sua profissão, o colecionador foi mais além pois a sua pesquisa foi até à arqueologia da tipologia do som , passando pela música mecânica – fonógrafos e gramafones – o que permitiu uma coleção muito completa.
Após a aquisição do espólio à família do colecionador houve um processo de estudo, conservação e instalação, que permite tornar esta coleção pública e acessível a toda a gente. Este projeto museológico custou 400 mil euros e obteve financiamento da Leader Oeste, através de programas europeus.
O Museu das Máquinas Falantes em Alcobaça, cuja instalação e curadoria pertence a Alberto Guerreiro e Rui Custódio (fundador da Rádio de Alcobaça), enriquece a rede museológica municipal e também o próprio panorama museológico nacional.
Projeto do museu tem 16 anos
No fundo este novo museu dedica-se a três setores: a música mecânica, as telecomunicações e à radiodifusão. “É inovador por relacionar as três áreas”, disse o responsável, acrescentando que o Museu das Máquinas Falantes já é membro da Rede Euterp (fórum de museus e coleções de música e de som que é impulsionado pelo Museu Nacional da Música) e como é um projeto com 16 anos “há uma grande expectativa entre quem faz parte deste universo”. Ao todo estão expostas mil das cinco mil peças que este novo espaço museológico possui.
O museu começa com uma viagem no tempo e com referência a duas importantes figuras: Thomas Edison e Nikola Tesla. O primeiro por causa das descobertas relacionadas com a tecnologia do som e o segundo pela descoberta do eletromagnetismo que permitiu a evolução das telecomunicações e da eletrónica e que também teve repercussões na radiodifusão. Segue-se um pequeno núcleo ligado às telecomunicações e um outro que se dedica à radiodifusão.
O novo espaço museológico abriu portas no dia 25 de abril e, logo no primeiro mês de abertura ao público, somou dois mil visitantes”.
“O museu está próximo do mosteiro, dentro do circuito histórico da cidade e é de entrada gratuita”, justificou Alberto Guerreiro. “Tentámos fazer uma abordagem contemporânea e com equilíbrio estético que permitisse dar a conhecer a história destes equipamentos”, referiu o curador.
Há também algumas propostas sonoras como, por exemplo, o primeiro som gravado por uma máquina, em 1856, e que só foi possível de ouvir no século XXI e as primeiras gravações de Edison no fonógrafo e no gramafone. Há uma outra componente, que são os discursos históricos de Martin Luther King, de Winston Churchill ou ainda audios da peça radiofónica de Orson Wells de 1938 (sobre a invasão marciana) ou referentes a acontecimentos como o 11 de setembro. “Damos ainda uma atenção especial à rádio local e envolvemos as duas que existem, a Benedita FM e a Cister FM, que participaram logo com objetos para o museu. Estão presentes edições experimentais e alguns programas icónicos”, referiu.
O Museu das Máquinas Falantes guarda várias relíquias relativas a estas áreas e, por isso, já atrai grupos de investigadores. O novo espaço museológico fica na Rua Araújo Guimarães, 28 (centro histórico) e funciona de terça-feira a domingo, entre as 10h00 e as 12h30 e das 14h00 às 18h00. As entradas são livres. ■
“Comunicar em Abril” está patente em Óbidos no verão
Centro de Design de Interiores acolhe equipamentos com os quais se comunicava há 50 anos. Os mais novos estão a adorar conhecê-los
No Centro de Design de Interiores, em Óbidos, situado junto à Torre do Facho, abriu recentemente a mostra “Comunicar em Abril” que é composta por equipamentos icónicos referentes à década de 70 e que destacam a importância que a Comunicação teve nas mudanças que decorreram em Portugal.
Presentes na mostra estão a televisão a preto e branco, vários rádio e os jornais que divulgaram o golpe militar ocorrido na madrugada de 25 de abril de 1974 e, mais tarde, todas as alterações políticas e sociais daí decorrentes. “Estão presentes os jornais que pela primeira vez deixaram ser visados pela censura”, explicou o historiador João Tormenta que teve a responsabilidade de organizar “Comunicar em Abril”. A fazer sucesso estão as antigas máquinas de escrever que conquistam sobretudo os visitantes mais novos. As crianças adoram escrever o seu nome numa máquina de escrever sem perceber, no início, que é preciso força para carregar nas teclas. Poderá ser vista uma máquina de escrever que foi usada nos serviços públicos de Óbidos. “Serviu nas finanças até aos anos 90”, contou o historiador acrescentando que esta máquina robusta e que já imprimia em A3, “trabalhou até ao advento da informática”.
Nos jornais, nos escritórios e repartições, o som das máquinas de escrever fazia parte do dia a dia, enquanto os computadores, eram então uma raridade. “Temos a notícia da chegada dos computadores a Portugal e que, de certa forma, marca a despedida do analógico para o digital”, afirmou João Tormenta.
Os equipamentos “foram cedidos pela população de Óbidos, o que acaba por contribuir para atrair mais visitantes aqui à exposição”, referiu o historiador. Estão igualmente presentes telefones, ainda eram mecânico-analógicos e muitos discos de rock e da música de intervenção, que tiveram um papel importante no combate à ditadura. Presentes estão também pequenos rádios transístores e gira-discos. Da mostra farão parte atividades para os mais novos e outras que se dirigem aos seniores que irão recordar como era a utilização da maioria dos objetos que estão na mostra. .
A vereadora da Cultura, Margarida Reis, sublinhou que foi escolhido o espaço do CDI “por ser moderno” e assim poder contrastar com os objetos que serviam para comunicar nos anos 70. “Muitas crianças não conheciam equipamentos como as máquinas de escrever ou os telefones de fios, podendo assim conhecer como se comunicava noutras épocas”, disse a autarca que convida todos a conhecer melhor a exposição.
Segundo a autarca, “Comunicar em Abril”, que ficará patente durante todo o verão, “é também uma preparação para o Fólio”. A próxima edição doFestival Literário obidense terá como temas centrais os 50 anos de Abril e também os 500 anos do nascimento de Luís Vaz de Camões. ■