“Na Irlanda as pessoas são muito amáveis e gostam de receber visitantes de outros países”

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SOC_4Henrique Vazão de Almeida
33 anos
Caldas da Rainha
Dublin – República da Irlanda
Investigador e bolseiro de Doutoramento em Bio-Engenharia na Trinity College Dublin
Percurso escolar: Escola Secundária Raul Proença, Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa (Licenciatura e Mestrado em Engenharia de Materiais), Trinity College Dublin (Doutoramento em Bio-Engenharia), Academia de Inovação: Trinity College Dublin, University College Dublin e Queens University Belfast

Do que mais gosta do país onde vive?
A Irlanda tem muitas características atractivas. As pessoas são muito amáveis e gostam de receber pessoas de outros países.
Dublin é uma capital pequena, mas muito dinâmica, com indivíduos muito qualificados. Muitas das empresas existentes em Dublin atraem profissionais muito jovens e competitivos. Estas características geram muito capital e estimulam a economia e inovação. As universidades e respectiva investigação estão em subida, facilitada pelos fundos disponíveis e boas relações com potências internacionais. A Irlanda é considerada um país que serve de plataforma para voos mais altos como os EUA, Singapura, ou Austrália.
A aliar às boas posições em universidades e em empresas dinâmicas, também existe uma vida social muito activa. Na Irlanda existe uma interacção muito próxima com os colegas e chefias. Um bom exemplo é o de eu chegar ao pub, onde vou frequentemente com os meus amigos e colegas, e ver o primeiro-ministro irlandês a pedir uma Guinness ao balcão. Dublin é uma cidade com muita vida, energia e muito dinâmica.
Outra das características importantes de Dublin é o número de voos internacionais existentes a preços acessíveis. Por este motivo vou regularmente a Portugal, e sou visitado regularmente por amigos e família. Esta característica também me possibilitou conhecer muitos destinos internacionais.
Os ingredientes da cozinha irlandesa são de excelente qualidade. Por exemplo, o peixe e o marisco que são muito saborosos e frescos. As bebidas que acompanham uma boa conversa são também de qualidade superior, como a cerveja e o “whiskey” irlandês.
As paisagens Irlandesas são das mais inspiradoras que vi, com os seus penhascos e campos verdes. Para quem gosta de bodyboard e surf, a Irlanda é um dos melhores destinos do mundo. Apanhei ondas de classe mundial na costa oeste irlandesa.

O que menos aprecia?
Eu gosto muito de capitais grandes e cosmopolitas. Dublin ainda não tem, e penso que nunca vai ter, a dimensão de uma capital mundial. Como em muitos locais, a Irlanda ainda tem algumas feridas políticas e sociais do passado a sarar. Por vezes, sente-se a mentalidade fechada e retrógrada motivada por muitos anos de exclusão e distância do continente europeu. A religião ainda tem poder e influência na maioria das famílias irlandesas. Penso que está a mudar para melhor, principalmente pela existência de uma nova geração com a mente aberta, dinâmica e muito qualificada. O clima não é o melhor, mas é o ideal para trabalhar.

De que é que tem mais saudades de Portugal?
Da minha querida mulher, família, amigos e de apanhar ondas nas nossas praias.

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A sua vida vai continuar por aí ou espera regressar?
Vou voltar em breve, mas não vou perder o contacto com as instituições irlandesas, com as quais tenho laços. O trabalho que irei realizar no futuro irá ter sempre uma componente internacional e a Irlanda irá para sempre fazer parte dela.


“A área de Bioengenharia em que trabalho é a engenharia de tecidos e medicina regenerativa”

Foram anos muitos intensos profissionalmente. Fazer investigação numa universidade como a Trinity abriu-me a porta para muitas oportunidades profissionais. Fui a duas conferências internacionais por ano onde privei com os melhores da minha área. Tive total liberdade na condução do meu projecto e financiamento com poucas limitações. Também tive a oportunidade de leccionar na Trinity College Dublin na cadeira de Biomateriais, ou seja, materiais para aplicações médicas. Tive alunos dos quatro cantos do mundo, de Engenharia a Medicina. Está a ser uma experiência única e inesquecível. A Trinity College, particularmente o centro de Bio-Engenharia, também me possibilitaram colaborar com laboratórios nos EUA e publicar artigos científicos. A área de Bioengenharia em que trabalho é a engenharia de tecidos e medicina regenerativa. Trabalho com cartilagem e em novas técnicas que possibilitem a sua regeneração eficazmente. Para esse fim uso biomateriais, desenvolvidos por mim, e células estaminais humanas, numa relação simbiótica o mais eficaz possível.
Em Dublin morei em três locais diferentes todos perto da Trinity College Dublin onde trabalho. Morei num chamado bairro problemático (Phibsborough), mas nunca tive problemas, muito pelo contrário. Pessoas simpáticas provenientes de diferentes áreas profissionais e países, trabalhadoras, e edifícios antigos de arquitectura georginana. Também morei no oposto, perto do chamado “google ghetto”. Nesta zona da cidade, chamada Grand Canal Dock, é possível ver uma Dublin moderna e com os olhos virado para o futuro. O único senão são os preços altos e as filas para os “brunch trendy”.
Sempre usei a bicicleta como meio de transporte. Como dizem os “Dubliners”: “Dublin é pubs, parques e bicicletas”. Os meios de transporte são caros para o que estamos habituados. As rendas estão de acordo com os salários locais (o salário mínimo e médio são muito superiores aos existentes em Portugal). Um apartamento de qualidade média, com um quarto, no centro pode chegar a uma renda mensal de 2000 euros. Não é uma cidade barata. Tudo o que é um bem de luxo é altamente taxado pelo governo, fazendo com que os preços de um jantar e uma saída à noite sejam muito superiores aos que temos em cidades portuguesas.
Ainda assim, o estilo de vida em Dublin é bastante relaxado. Com muito tempo passado em pubs e parques (quando o clima o permite). A cidade está sempre em movimento, não pára, com estudantes e turistas a encher as ruas de uma Dublin cada vez mais turística.
Em termos culturais Dublin é inevitavelmente muito forte. Com o seu passado literário e cientifico, Dublin é uma das capitais mundiais com mais prémios Nobel. Em termos literários temos nomes como Oscar Wilde, Abraham “Bram” Stoker, James Joyce, Samuel Beckett, Bernard Shaw e William B. Yeats entre outros. Nomes estes que continuam a inspirar uma nova geração de escritores e dramaturgos que enchem salas de teatro lendárias, como aquelas que podem ser encontradas em Dublin. Existe também uma corrente de novos talentos na área da música que usam como maiores influências o folclore irlandês, música electrónica britânica entre outras influências. Por esta razão, novos locais mais cosmopolitas, ecléticos e alternativos começam a aparecer, que poderiam ser considerados típicos de uma outra capital mundial.
Dublin é uma boa cidade para se viver. Aconselho a quem esteja interessado uma visita e – porque não? – uma experiência mais longa. Agora está na hora de voltar a casa com um sorriso nos lábios.

Henrique Vazão de Almeida

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