Que expectativas tem para a etapa deste ano do Campeonato do Mundo aqui em Peniche?
As expectativas são sempre muito elevadas, mas quero primeiro começar a referir que temos muita confiança na empresa que trabalha connosco e que tem como responsável máximo o Francisco Spínola. Corre quase sempre tudo bem. Estão estruturados para o efeito. Nós, no essencial, apoiamos financeiramente e damos um grande apoio logístico, que é uma enormidade. Há alguns sectores da Câmara que, praticamente, durante três a quatro semanas, antes começam a trabalhar para ajudar a montar tudo e depois no final. Dá-nos muita tranquilidade a competência, o profissionalismo e até a forma de nos relacionarmos que acho que é de excelência. Eu praticamente não me preocupo. Eu só me preocupo, em termos de estrutura municipal, em criar as condições para que aconteça, nomeadamente a parte financeira, que é suportada, de certa forma, em termos municipais através de uma candidatura que nós fazemos para este evento. Foi um dos maiores momentos que o concelho teve nas últimas décadas. Nós temos as melhores ondas do país e se calhar da Europa para esta prática, porque senão, se outros concelhos aqui relativamente perto tivessem ondas que se comparassem, têm muito mais capacidade financeira e o evento já não estaria cá há muito tempo. Para além de também sabermos que contamos com a simpatia e com o apoio dos grandes atletas de surf mundiais, e isso é também uma grande vantagem.
Mas entristece-me que não tivesse a tranquilidade política para desenvolver a nossa gestão e construir as infraestruturas que o evento já merecia, nomeadamente, os acessos e outras obras que iam enriquecer este evento, outros similares e o próprio concelho.
Que infraestruturas são essas?
Estou a falar particularmente em toda a zona onde se desenvolve a atividade principal, na envolvente dos Supertubos, desde a rotunda à praia do Molhe Leste, aos acessos, mas também aquilo que era um sonho meu de poder desenvolver, e executarmos em termos municipais, um grande calçadão, um passadiço em madeira, entre Supertubos e a Consolação.
Há 10 anos a realização da etapa em Peniche tinha um impacto económico acima dos 10 milhões de euros. E atualmente?
O estudo da WSL estima que em 2024 os espetadores do evento (turistas e residentes) gastaram mais de 13 milhões de euros em mercadorias e serviços, que inclui alojamento, transporte, alimentação e outros.
A prova é vista por 120 mil espetadores e, desde 2009, atingiu os 1,4 milhões. Entre os visitantes, 36,5% são estrangeiros e destes, quase 40% são do Brasil. A capacidade hoteleira tem uma ocupação de 95%. No último ano foram 40 horas de evento, com 1089 ondas surfadas num evento que envolve 25 empresas e 600 pessoas na montagem.
A realização da etapa está garantida até quando?
Neste momento está garantida por três anos: este, o próximo e o seguinte, em 2027. Só nos deixaram fazer a candidatura de apoio financeiro dos fundos comunitários até 2026. Diga-se que para um concelho como Peniche, o montante que está em causa é considerável, portanto, espero que o município daqui a 2 ou 3 anos esteja em melhores condições financeiras do que está hoje. O grande problema é fazer mais receitas e nós estamos a fazê-lo, não só na taxa turística como noutras medidas que tomámos e noutras que estão para tomar, mas o próprio desenvolvimento da sociedade proporciona às câmaras municipais mais receita, se estivermos num processo de criação de riqueza, de desenvolvimento, porque arrecadamos mais dinheiro em impostos, mesmo estando a baixar.
No último ano houve mudanças no financiamento. Faltam apoios?
Quando entrei em 2017, surpreendentemente para mim, que não conhecia como é que era financiado sequer o apoio, percebi que era através de uma candidatura de fundos comunitários da Comunidade Intermunicipal. E a primeira surpresa que eu tive foi, no primeiro mandato, particularmente um presidente de Câmara que, por elegância, não vou dizer quem é, manifestou logo a vontade de dizer que não ia continuar assim, porque os outros concelhos também precisavam e não era justo. Eu disse que, no dia em que a CIM não apoiasse, a Câmara de Peniche ia ter que inventar receita ou ir buscar a outro lado. Surpreendentemente neste quadro comunitário, no 2030, houve um presidente, que não foi o mesmo, que já não estava lá, que também referiu que não estava de acordo. Depois, nós pedimos ao responsável da organização para ir a uma reunião da CIM e dois presidentes mostraram o apoio, que foi a Nazaré, com o Walter Chicharro e Óbidos, com o Filipe Daniel. Provavelmente, se nós fossemos obrigados a fazer uma votação, aquilo ficava um bocado dividido, mas admito que três ou quatro pudessem não estar confortáveis com a situação.
O que é que aconteceu? A partir daquele momento, a candidatura alterou-se. O grande apoio à WSL das Câmaras Municipais era através da CIM e hoje é através do plafond da Câmara de Peniche. Trata-se de um plafond de 9 milhões que nós temos para as outras obras. Tivemos que tirar um bocadinho das outras obras para pôr nesta candidatura. No fim as contas vão dar certas. Já aprendi, já tenho a experiência de como se fecha um quadro comunitário e a Câmara no fim, provavelmente, vai recuperar esse dinheiro todo. O que me entristece é a falta de solidariedade que existe entre as Câmaras. Há coisas em que nós nos entendemos muito bem, mas eu acho que há presidentes que nunca perceberam qual é a dimensão internacional deste evento. Não há nenhum no Oeste que possa ter um impacto por esse mundo fora, como tem esta prova da WSL.
Qual o impacto da economia do mar no concelho?
Há uma palavra que os políticos gostam muito de usar, que é o paradigma. O paradigma económico do concelho alterou-se substancialmente. Peniche chegou a ter mais de 4.000 pescadores, antes dos anos 90 do século passado. Hoje, de Peniche, não sei se são 400. Houve uma alteração muito grande, com uma redução de alguns segmentos de pesca muito grande. A pesca da sardinha tínhamos 120 ou 130 embarcações e hoje temos talvez 10 embarcações e com muita dificuldade para compor as tripulações. Tínhamos uma frota muito considerável da pesca do anzol, que praticamente hoje não existe, é residual. Tínhamos aqui uma chamada pesca longínqua, que praticamente não existe. Existem palangreiros do alto e existe uma pesca que eu não simpatizo nada, e nem nunca o escondi, que é muito lucrativa, mas em termos ambientais é o descalabro, que é o arrasto. A nossa sorte é que no Porto de Peniche, em termos de pequenos arrastões, não são muitos, mas cria um impacto muito negativo. Em termos de resultados em lota, isto parece um paradoxo, Peniche é o Porto que mais fatura, mas tem a ver com isto, com o arrasto e com as frotas que pescam os atuns e outras espécies do alto, os postos de trabalho e empresas reduziram substancialmente.
Fortalecemos a nossa posição na agricultura. Hoje a agricultura no concelho tem bons resultados económicos, não só, mas particularmente nos hortícolas. Depois, arriscaria a dizer que, neste momento, mesmo que os números possam não o representar, o turismo será o principal setor da economia do concelho.
A existência da ESTM tem sido uma grande mais-valia!?
O facto de termos aqui a Escola Superior de Tecnologia do Mar, foi uma grande vantagem, que tem inovado, tem criado competências, conhecimento. Temos resultados interessantes, o facto de termos conseguido avançar com a construção das instalações para o Smart Ocean, pode ser uma pedrada no charco, se bem utilizado, se politicamente não estragarem. Poderá ser um grande fator de desenvolvimento para a economia azul no futuro. Vamos ter um grande investimento, no curto prazo, o projeto que está financiado relacionado com a aquacultura.
Que projetos estruturantes tem para o futuro?
Temos quatro candidaturas muito fortes referenciadas e acordadas com os tais 9 milhões dos fundos comunitários. A do portinho do meio, a segunda fase e última das muralhas, a última fase da envolvente do fosso e depois uma obra que é importante e que já devia estar mais acelerada em termos de tempo, que é a reabilitação e ampliação das piscinas municipais, que estão a precisar muito de obras. Temos essas quatro candidaturas negociadas para sair do pacote dos nossos nove milhões.
Depois temos outra, uma grande obra que penso que se desenvolverá a partir de 2025, que é a construção da nova Marginal Norte. A APA, em 2015, fez um estudo sobre as falésias e chegaram à conclusão de que havia lá quatro ou cinco segmentos que estavam em risco e que teríamos que intervir. A intervenção é fazer uma estrada nova, que é uma obra de grande dimensão. Estamos a trabalhar em coisas mais pequenas como os acessos às praias e temos outras coisas que são para anos. Uma das grandes obras que Peniche vai ter que fazer é aquilo que o PDM prevê que é o eixo central, que é uma via nova entre a praça do tribunal, no norte do mercado e os Remédios, que vai revolucionar isto tudo, e essa não é para mim de certeza, mas se for bem feita, pode fazer a diferença nesta cidade, que é criar uma avenida que em termos de acessos pedonais, de convívio, até de zonas verdes, até porque está também previsto ali perto um parque urbano novo, com árvores e equipamentos.
Que obra é essa do portinho do meio?
As escadas, as rampas e as muralhinhas está tudo degradado e vamos requalificar, até porque este espaço vem para nós com outra transferência de competências da Docapesca. Vamos intervir naquilo que chamamos a eclusa, também a breve trecho, através dos serviços municipalizados. No Forte das Cabanas temos uma parte que já é nossa, temos um processo de aquisição para demolir para limpar, para fazer praça. O Campo da República foi intervencionado há 20 anos de uma forma que não agradou a população, com fundos comunitários, e nos últimos anos temos estado a intervir por etapas. Neste momento estamos com o calçamento de um terço, vai ficar mais bonito, com melhores condições de mobilidade.
Estamos em ano de eleições autárquicas, vai ser candidato a um terceiro mandato?
A minha decisão está tomada há muito tempo e em breve vou dizer.