Natal Sénior comemorado com tarde de animação e música

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O avançar da idade não afasta muitos dos seniores da pista de dança improvisada em frente ao palco da Expoeste

A tradição voltou a cumprir-se no passado dia 14, com mais de dois mil idosos das várias freguesias do concelho das Caldas da Rainha na Expoeste participando no “Natal Sénior”. Câmara Municipal, juntas de Freguesia e Instituições de Solidariedade Social unem-se todos os anos para proporcionarem aos munícipes mais idosos uma tarde de convívio e de muita animação, cientes de que para muitos esta é uma das poucas celebrações de Natal que têm.
Teatro e dança, pelas alunas da Escola Técnica e Empresarial do Oeste, a actuação do Grupo de Cavaquinhos e um baile ao som de um organista local animaram a tarde, onde não faltou o já habitual bailarico. Uma vez por ano esquecem-se as dores e as doenças que a idade traz consigo, põem-se à prova as habilidades que outrora se aprendiam nos bailes de aldeia. E até para os que não dançam ou por diversos motivos se vêem obrigados a permanecerem sentados durante toda a festa, a presença é quase obrigatória.
“Esta é uma festa de todos e para os mais idosos, que bem merecem”, defende Fernando Costa, o presidente da autarquia caldense, que sabe que o Natal não é obrigatoriamente um período feliz para todos os seniores, embora pretendam assim que seja uma festa alegre. “Há aqui muitos idosos que já são viúvos, outros até já perderam filhos, outros têm filhos mas não os vêem, porque cada vez há menos tempo para estar com os mais velhos”, e esta é uma época que traz muitas recordações.
O número de participantes na festa tem-se mantido constante nos últimos anos. Mas muitos outros que igualmente gostariam de estar presentes não o puderam fazer porque lhes falta a saúde ou a força. Mesmo assim, nesta festa estiveram representadas as 14 instituições de apoio ao idoso do concelho, que trataram das filhós e das sopas que à hora do lanche confortaram o estômago aos presentes. Às juntas de Freguesia coube a oferta do bolo rei, à Câmara as bebidas, o pão e o frango que compunham as mesas.
Se há mais de uma década o Natal Sénior começou por ser um almoço, a adesão de mais de um milhar de pessoas obrigou a que a organização optasse por uma tarde de animação com um lanche, mas os seniores não se queixam. Não é a comida que importa, mas sim o convívio e os momentos de boa disposição que ali vivem, fazendo com que voltem ano após ano, seja individualmente, através das instituições ou no transporte facultado pela autarquia, que percorre todas as freguesias para trazer os idosos à Expoeste. No final a autarquia tratou também de oferecer um saquinho com rebuçados que os idosos levaram como lembrança daquela tarde.

“O que importa é o convívio!”
Aos 70 anos, Mário Tavares veio pela segunda ou terceira vez a esta festa, não sabe precisar. Mas apesar de ser uma presença recente, sabe bem o que o faz vir. “Esta festa é agradável e para mim o mais importante é o convívio entre todos. Não está em causa a animação ou a comida que está nas mesas, o que importa é o convívio”, garante.
Residente nas Caldas da Rainha, o septuagenário recusa enfiar-se em casa e passar horas em frente à televisão. “Ando na Universidade Sénior, no Grupo Coral e assim passo o meu tempo”. Acompanhado pela esposa, afiança que tenta envolver-se em diversas actividades que o façam sair de casa durante o ano e deixa aos outros idosos o conselho para que façam o mesmo. “Procurem uma actividade que dê espírito, força, energia, para não ficarmos em casa, só a ver televisão, isso também chateia”. E tão importante como estar com outras pessoas é nunca deixarem de se mexer. “Andem a pé, como eu faço todos os dias”, aconselha.

“Gosto muito de cá vir”
Presença assídua na festa de Natal dos idosos, Clementina Ferreira só faltou nas duas edições anteriores depois de o seu marido falecer. Agora que está sozinha, diz que “é um bocadinho mais difícil, mas pronto, gosto muito de cá vir”. A residir nas Caldas, e com 71 anos, faz-se acompanhar das vizinhas, das amigas e familiares neste encontro anual. “É importante sentir-me acompanhada nesta altura do ano”, afirma. Alguns problemas de saúde não a deixam fazer outras actividades durante o ano, mas por altura do Natal não dispensa o convívio, que diz ser “muito importante”. E quer continuar a marcar presença noutras edições, “é preciso é que haja saúde”. Até porque garante conhecer muita gente que está por detrás desta festa, como “doutoras da Câmara e das freguesias”, de quem diz “gostar muito”.

“É uma pena que não adira mais gente”
O que Gustavo Rocha mais gosta desta festa, onde costuma vir todos os anos, é “do convívio e da música”. Vindo de Santa Catarina, o idoso também não dispensa um pezinho de dança.
Quando lhe perguntámos se é importante sair de casa e vir a iniciativas como esta, não hesitou: “então não é, e bastante”. E lamenta que não venha mais gente. “É pena que se faça tanto gasto e não adira mais gente”. E dá como exemplo os seus vizinhos. “Lá no lugar onde eu vivo, há lá tanta gentezinha idosa, da minha idade e mais velhos, e nós convidamo-los e eles dizem: ‘ah, não preciso de andar a comer à conta dos outros’, a gente não vem pelo comer, é mais pelo convívio que por outra coisa”, afiança.

Joana Fialho
jfialho@gazetadascaldas.pt