“É uma experiência maravilhosa viver e sentir que somos cidadãos do mundo”

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JoanaMarciano_GazetaCaldas_Fev2015Joana Rita Querido Marciano
Caldas da Rainha
25 anos
Odense – Dinamarca
Estudante universitária na Southern Denmark University
Percurso escolar: Colégio Rainha Dona Leonor, Escola Superior de Comunicação Social

O que mais gosta do país onde vive?
Gosto de como tudo é feito a pensar no indivíduo e no seu bem-estar. Gosto das facilidades que o país oferece aos seus e a quem vem de fora. Como cidadã da União Europeia, não pago propinas. Como estrangeira registada na Dinamarca, não pago para ter aulas de dinamarquês. Aqui ninguém paga para ir a uma consulta no hospital, ser operado ou ir ao médico (excepto dentista). Todos falam Inglês e a universidade tem uma ampla oferta de cursos leccionados nesta língua, fazendo com que o ambiente seja muito multicultural. São vários os estudantes não-dinamarqueses e é uma experiência maravilhosa viver e sentir que somos cidadãos do mundo.

O que menos aprecia?
Apesar de entender os preços praticados, este é o aspecto que menos aprecio por ser o que me foi mais difícil de adaptar. Nos primeiros meses convertia sempre o valor de coroas para euros. Agora já sei que, por exemplo, 1,20 euros por um quilo de arroz é o mais barato que há. A mentalidade é que é justo pois o preço tem sempre em conta o bem-estar final de quem produz, distribui e vende e por isso, para eles, justifica-se este valor. E com o salário que se aufere, os preços não parecem assim tão altos.

De que é que tem mais saudades de Portugal?
Dos meus pais. Da família. Dos amigos. Do nosso sol quente e de estar perto do mar. De passear de norte a sul de Portugal e ter uma paisagem diferente em cada região.

A sua vida vai continuar por aí ou espera regressar?
Espero continuar por aqui mais uns tempos e espero um dia regressar definitivamente a Portugal.

“Tal como a maior parte dos dinamarqueses, desloco-me de bicicleta para todo o lado, faça sol, chuva ou neve”
Depois de estar dois anos a trabalhar, voltei a ser estudante a tempo inteiro. Já terminei os três primeiros semestres do mestrado e agora dedico-me a escrever a tese. A universidade tem sido diferente do que tive até agora: os professores são chamados pelo primeiro nome, pode-se levar comida para a sala de aula ou para a biblioteca, a cantina tem três mesas de buffet e a piscina é gratuita para os alunos. Além de estudar, trabalho algumas horas por mês na cozinha de um lar e desde que cheguei à Dinamarca que frequento aulas de dinamarquês. É difícil tornarmo-nos rapidamente fluentes na língua e saber apenas Inglês não é suficiente para encontrar trabalho na maioria das áreas profissionais.
Tal como a maior parte dos dinamarqueses, desloco-me de bicicleta para todo o lado, faça sol, chuva ou neve. Principalmente no Inverno o clima é um desafio nos cinco quilómetros até à universidade.
Em relação aos dinamarqueses, estes são muito prestáveis e simpáticos e o respeito que têm pelas regras da sociedade e pelo espaço do outro é algo que se sente quando estamos com eles. Tem sido muito interessante viver aqui e adaptar-me às coisas, à língua, a pequenos gestos.
O choque cultural foi-se desvanecendo no dia-a-dia e já não acho estranho alguns vizinhos não cumprimentarem quando me vêem, ou no supermercado só colocarem as compras na passadeira quando a pessoa da frente colocou a divisória – o respeito pelo espaço e bem-estar do outro está em cada gesto.

Joana Rita Querido Marciano