Pedro Pinheiro
Coimbra (vive nas Caldas da Rainha desde os 7 anos de idade)
27 anos
Maputo – Moçambique
Director Internacional em Moçambique da Winresources
Percurso escolar:
Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro,
Universidade Nova de Lisboa – Faculdade de Economia
O que mais gosta do país onde vive?
Moçambique é, em primeiro lugar, um país de gente muito simpática e alegre. O moçambicano, mesmo aquele que vive com algumas dificuldades económicas, está sempre pronto para uma festa, para o convívio com os amigos, para comer, beber e ouvir música e para receber bem os outros. “Estamos Juntos” é a expressão com que se acaba aqui qualquer conversa.
Os portugueses, ao contrário do que por vezes se diz, são bem vindos e muito bem recebidos em Moçambique, na condição de tratarem de igual para igual, como deve ser, o povo moçambicano – e essa condição, infelizmente, não é cumprida por todos os nossos compatriotas que aqui residem.
O país atravessa uma fase de grande crescimento e desenvolvimento económico e todos os dias surgem novas oportunidades de negócio, que os seus habitantes e também os estrangeiros vão sabendo aproveitar e é entusiasmante sentir essa dinâmica.
Para além disso, Moçambique tem um clima óptimo para quem gosta de sol, como é o meu caso e é um país muito belo, com óptimas praias (o país tem cerca de 2500 km de costa), contando com numerosas reservas naturais e com condições excelentes para fazer, por exemplo, safaris fotográficos ou mergulho. E há muito mais para descobrir, como as tradições do seu povo.
O que menos aprecia?
O que menos aprecio em Moçambique é a grande distância de Portugal (11 horas de avião) e o elevado custo das passagens aéreas, que dificulta eventuais visitas de familiares e amigos. Felizmente, razões de ordem profissional obrigam-me a ir a Portugal duas a três vezes por ano, e aproveito então para matar as saudades.
Uma característica negativa que atravessa a sociedade moçambicana é a corrupção, que começa logo ao nível mais baixo (a exigência do célebre “refresco”). Com algum jogo de cintura e experiência de vida por aqui, conseguem evitar-se os actos de extorsão e passar ao lado do fenómeno.
Maputo assistiu no princípio de 2014 uma série de raptos de empresários que viviam já há muitos anos em Moçambique – factos que foram relatados pela comunicação social portuguesa, por vezes com algum exagero. A situação foi sendo resolvida pela polícia e a vaga de crimes terminou.
A constante crispação entre os dois maiores partidos políticos (Frelimo e Renamo) também é causa de alguma preocupação, tendo crescido após as eleições gerais de Novembro do ano passado, mas esperamos que eles se consigam entender de forma a manter a paz e a não pôr em causa o processo em curso de desenvolvimento do país.
No entanto, no Maputo vive-se um clima de paz e tranquilidade e a cidade pode considerar-se segura, não dispensando, como é óbvio, a observância das precauções comuns a qualquer grande metrópole.
De que é que tem mais saudades de Portugal?
Para além de Moçambique, eu já vivi, no estrangeiro, em mais dois países: Grécia e Bulgária. Em todos eles, aquilo de que mais senti e sinto saudades foi da família e dos amigos. Naqueles outros países, sentia também a falta da gastronomia portuguesa. Mas esse problema não se põe aqui. Em Moçambique, país que foi colónia portuguesa e onde ficaram e perduraram muitos hábitos lusitanos, há inúmeros restaurantes que servem comida portuguesa, sendo até grande parte deles propriedade de portugueses; e muitos dos produtos alimentares comercializados nos supermercado são até importados directamente de Portugal.
A sua vida vai continuar por aí ou espera regressar?
Essa é a pergunta que me fazem com frequência e a que eu não sei responder. Vivo em Moçambique há três anos e, apesar de a adaptação à vida do país, nos primeiros tempos, não ter sido fácil, mas agora cada vez gosto mais de estar por aqui. Vim para Moçambique para aproveitar uma oportunidade profissional e para encarar um novo desafio e, felizmente, as coisas têm corrido bem, a todos os níveis. Não tenho ainda definido cabalmente o meu futuro e não fechando naturalmente as portas a novas oportunidades que possam surgir, prefiro deixar a pergunta sem resposta…
Só poderia escolher uma das hipóteses se já estivesse a acabar o livro, mas a verdade é que ainda tenho umas quantas páginas por ler. De qualquer forma, tendo em conta as minhas experiências de vida no estrangeiro, aconselho todos os jovens que tenham essa possibilidade a viverem pelo menos seis meses fora de Portugal – faz sempre bem.
“Tenho uma paixão antiga pelo hóquei em patins e jogo no Desportivo de Maputo que disputa o campeonato nacional”
Trabalho na Winresources, uma empresa portuguesa de consultoria ao agronegócio desde 2009. Em 2009 trabalhei no escritório da Bulgária e entre 2010 e 2012 trabalhei no escritório de Portugal, em Lisboa. Em 2012 surgiu o convite por parte da empresa para que eu viesse abrir uma filial da empresa em Maputo e foi isso que me trouxe para cá.
Os primeiros tempos não foram fáceis em termos profissionais, uma vez que a empresa era desconhecida, mas com muito trabalho e persistência a empresa foi-se integrando no mercado e crescendo. Neste momento, no nosso escritório, trabalham comigo três pessoas, dois moçambicanos e uma portuguesa, todos licenciados, equipa que é pontualmente reforçada com técnicos vindos de Portugal, quando necessário e outros contratados temporariamente para trabalhos de consultoria específicos.
Tenho uma paixão antiga pelo hóquei em patins, desporto que comecei a praticar, e pratiquei durante vários anos, no Hóquei Clube das Caldas. Chegado ao Maputo, cidade com grandes tradições na modalidade, que vêm ainda dos tempos coloniais, consegui recomeçar essa actividade desportiva, o que me dá uma grande satisfação. Nesta altura, jogo no Desportivo de Maputo, que disputa o campeonato nacional.
O dia-a-dia em Maputo é agitado. A cidade é cada vez mais pequena para o cada vez maior número de carros que nela circulam e para já não há alternativa, pois os transportes públicos urbanos são deficientíssimos: os chamados “Chapa-Cem” transportam 20 pessoas em cima dos assentos projectados para uma lotação de… 9!
Os grandes prédios em altura crescem como cogumelos no centro de Maputo, com isso se pretendendo aproveitar a enorme procura de habitação, principalmente por parte dos expatriados. Ainda assim, os preços de arrendamentos das casas são muito elevados (quase o dobro de Lisboa comparando preço/qualidade).
Os passeios das ruas e avenidas estão permanentemente cheios de vendedores que vendem todo o tipo de coisas, úteis ou inúteis, com a finalidade angariarem a magra subsistência que de outro modo não conseguem, pois a taxa de desemprego é elevada. Na rua vendem-se telemóveis e crédito para telemóveis, material eléctrico, cigarros, relógios, vestuário, artesanato, frutas, legumes, peixe e marisco, etc., o que faz da cidade um grande mercado ao ar livre.
Nos mercados de rua do Maputo podem ainda comprar-se animais vivos como galinhas, cabras, patos, coelhos, facto que já não assistimos nas nossas cidades em Portugal.
Os carros são um dos alvos preferidos dos amigos do alheio e o pisca ou o retrovisor subtraídos na noite anterior aparecem depois à venda no “Estrela” (um bairro onde tudo se pode comprar, seja legal ou ilegal). Quando ali vamos, podemos bem estar a comprar precisamente a peça que foi retirada do nosso carro.
Entretanto, na cidade, encontramos imensos restaurantes e bares modernos, alguns com música ao vivo, à noite, onde se houve jazz ou música moçambicana.
Muitos jardins vão sendo recuperados como espaços de lazer.
Continuam a construir-se hotéis, alguns de luxo e também centros comerciais, muito frequentados pela classe média crescente, onde se encontra à venda tudo o que existe nos seus congéneres europeus.
Aos fins de semana, a marginal, junto à Baía, fica cheia de automóveis, pessoas, música e vendedores. Uns procuram apanhar sol e descontrair, outros oferecem, para venda, cerveja, frango assado, camarão e “Xima” (o acompanhamento mais comum em Moçambique, que parece um puré de milho consistente).
Enfim, situações que demonstram que em Maputo a modernização de hábitos e de infra-estruturas convive com a ruralidade e com as antigas tradições das várias etnias que compõe a população moçambicana, o que confere à cidade uma enorne energia e um ambiente próprio e totalmente diferente de qualquer outra e dá sinais de que Maputo poderá voltar a ser uma cidade de referência em África.
Apareçam, “estamos juntos” !
Pedro Pinheiro