O Ambiente em Crise

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Carlos Pimenta
ambientalista

Quem veja os meios de comunicação sociais não pode deixar de notar um número crescente de reportagens sobre fenómenos meteorológicos extremos, poluição do mar, extinção de espécies, enfim um sem-número de questões que deveriam “mexer” com conosco e fazer-nos agir.
No entanto para quem como nós habite um dos países desenvolvidos nunca o “ambiente de proximidade” foi tão agradável:
Já não existem lixeiras, mas somos portadores de invisíveis micro-plásticos; o verde urbano melhorou significativamente mas a destruição dos ecossistemas nunca foi tão rápida; o ar que respiramos e a água que bebemos tem uma qualidade impensável há poucas décadas, mas nunca como hoje o Homem provocou tanta degradação do ambiente marinho e do equilíbrio na composição da atmosfera, levando à alteração dos ciclos naturais e a mudanças estruturais no clima.
Por isso é tão difícil fazer aceitar que o actual modelo económico baseado no crescimento permanente do consumo e do PIB está esgotado e que há que mudar de vida, desta vez a sério. Ou o fazemos rapidamente ou a Natureza procurará novos equilíbrios e, como no passado distante, o planeta conhecerá extinções e convulsões impensáveis. Com mais de oito mil milhões de seres humanos o nível de sofrimento e de vidas destruídas será impensável.
Muito do que há a fazer é conhecido, existem soluções tecnologicamente disponíveis viabilizadoras de acções individuais no quotidiano, de uma diferente planificação do espaço e de serviços urbanos e municipais e inclusive na inversão de lógicas ao nível da governação do País e da União Europeia.
No entanto a forma com permitimos o enraizamento de uma cultura do desperdício, da geração de quantidades crescentes de resíduos, de como ignoramos o impacto de uma alimentação que não é saudável para nós nem para o planeta, de como nos vestimos, transportamos ou divertimos, são a prova de que o fosso entre o conhecimento e a acção pode levar a consequências que racionalmente sabemos reais, mas que de facto não aceitamos.
A preservação do ambiente é uma questão crucial para a sobrevivência do planeta e de todas as espécies que nele habitam, incluindo os seres humanos. Esta dicotomia, esquizofrenia colectiva, tem de ser encarada a sério pois os “tipping points” (momentos de rotura) planetários estão perigosamente próximos.
Tal como uma ponte instável tende para um novo equilíbrio, o de um empilhado de destroços ou um velho circuito eléctrico para o momento de curto-circuito e o repouso que lhe sucede, assim a Terra busca já uma nova harmonia com ou sem a presença do Homo Sapiens, no mínimo na sua presente civilização.
Uma coisa é clara para quem estuda e investiga os ciclos planetários globais e a sua interdependência com a lógica das nações e o funcionamento da economia: caminhamos para uma catástrofe humana global, de que o Planeta muito provavelmente recuperará a prazo, mas não as pessoas que hoje vivem ou que verão a luz do dia nas próximas décadas.
É, pois, hora de fazer um exame de consciência e actuar. Enquanto cidadãos, consumidores, munícipes, votantes, membros de Organizações e Instituições com presença pública, trabalhadores, investidores, dirigentes ou empresários. Nunca a nossa espécie foi confrontada com um desafio de tal dimensão quer pela sua origem, o próprio homem, quer pelo seu carácter transnacional que põe em causa a ausência de mecanismos internacionais com capacidade real de decisão.
Mudar este estado de coisas é a prioridade das prioridades. Como escreveu Sophia de Mello Breyner Andresen, na Cantata de Paz, “Vemos ouvimos e lemos, não podemos ignorar”. ▪