O ativismo político e social de Andreia Galvão

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A jovem parte, no início do próximo ano, para Paris, onde vai fazer Erasmus e continuar o seu ativismo

Luta pela justiça climática nas ruas, mas também na esfera política, onde se tomam as decisões. Recentemente esteve em Glasgow, a protestar na Cimeira do Clima, mas também na Alemanha, onde estreou uma peça de teatro documental

Depois da Alemanha, onde participou no festival europeu contemporâneo de teatro e dança, euro-scene Leipzig, com a estreia da peça “Amores de Leste”, Andreia Galvão rumou a Glasgow (Escócia) onde participou numa manifestação durante a Cimeira do Clima e seguiu para Amesterdão (Holanda) para ter reuniões enquanto militante do Bloco de Esquerda. O mês de novembro ainda não acabou e a jovem já regressou a Lisboa e à Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova, onde frequenta o último ano do curso de Ciências da Comunicação, para participar em reuniões da luta contra as alterações climáticas, da qual é ativista.
A estudante, de 21 anos, nascida em Lisboa mas residente nas Caldas da Rainha desde a infância, recorda que sempre foi bastante pró-ativa nas atividades da escola, participando no Parlamento dos Jovens e na Euroescola. Foi, aliás, no âmbito deste programa criado pelo Parlamento Europeu, que conheceu Matilde Alvim, estudante e ativista na Greve Climática Estudantil, e teve o primeiro contacto com a causa. Aquela jovem contou-lhe que havia uma rapariga, chamada Greta Thunberg, que tinha começado um movimento pela luta ambiental e que ambicionavam trazer para Portugal, facto que suscitou o interesse.
“Já estava um bocado desperta politicamente e pensei: porque não?”, recorda Andreia Galvão, acrescentando que o grupo começou apenas com cinco pessoas e que, na primeira Greve Climática Estudantil que se realizou em Portugal, em março de 2019, saíram à rua mais de 20 mil pessoas. Na altura, a estudante na Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro esteve, juntamente com outros colegas, na criação do grupo de ativistas Greve Estudantil das Caldas e participou nas mobilizações em Lisboa.
Por essa altura começou também a ter uma maior consciencialização política e foi no Bloco de Esquerda que, dentro da sua visão do mundo, encontrou o seu lugar, explicou à Gazeta das Caldas. “Creio que se tornou claro que o problema [das alterações climáticas] tinha de ser enfrentado em várias frentes. A rua é incontornável, mas se esta não se tornar em políticas, permitimos que seja sempre a direita a legislar”, justifica a estudante, que integra a coordenadora de jovens daquele partido, a nível nacional e integrou as listas para a Câmara das Caldas nas últimas autárquicas.
Entretanto, o grupo de jovens caldenses continua a mobilizar-se e a dinamizar iniciativas pela justiça climática, como a que irá decorrer a 22 de dezembro, junto ao centro comercial La Vie . “É muito fixe que haja jovens ativistas nas Caldas e acho que eles estão com muita vontade de incomodar. É preciso uma cultura que não seja muito domesticável”, considera.
Entre as preocupações está a Linha do Oeste. Andreia Galvão entende que é preciso ver o problema nas suas múltiplas camadas, do global ao local. “Para além de horários e condições de conforto nos comboios, tem de haver ferrovias a funcionar para se poder reduzir o impacto da aviação: E se não o reduzirmos, sabemos que em 2045 esta será responsável por um terço das emissões a nivel global”, sustenta.
Na opinião da ativista, esta década é fulcral para se tomarem decisões que possibilitem algumas consequências benéficas, porque depois “será só mesmo lidar com o problema e arranjar planos de mitigação”. A falta de respostas concretas na Cimeira do Clima, “apesar de se terem celebrado (simbólicas) vitórias”, também deverá levar a mais mobilizações, acredita a jovem ativista.
Em inícios do próximo ano, ela parte para Paris, de Erasmus, onde pretende continuar também o seu ativismo, a par do percurso na área das artes e da cultura. Será lá que, depois da estreia em Portugal, em fevereiro de 2022, integrada na companhia de teatro Hotel Europa, irá apresentar a peça “Amores de Leste”, que tem como ponto de partida as vidas de pessoas que, como parte da luta contra o regime fascista e colonialista português, viveram na Europa de Leste. Baseado nos relatos recolhidos este teatro documental questiona as relações entre o amor, laços familiares e política.
“Considero que a arte pode ser muito interventiva, irreverente e incomodar um bocadinho”, afirma a jovem para quem é importante não ter medo. ■