
A Linha do Oeste não passa pelo Cadaval, mas chegou a ser estudada uma alternativa que fizesse a ligação ferroviária à linha do norte, atravessando o Cadaval e Alenquer. O projeto nunca chegou a sair do papel, mas o concelho resiste
O caminho-de-ferro foi uma das ambições que o Cadaval nunca viu concretizada, desconhecendo-se as razões que levaram a que no traçado da Linha do Oeste, no final do século XIX, a Companhia Real dos Caminhos de Ferro Portugueses tivesse optado pelo Bombarral. É essa a conclusão a que chegaram os autores do livro “Cadaval – Contributos para o estudo da memória de um concelho”.
Esta opção é tanto mais incompreensível porquanto o Cadaval já existia enquanto município e, no caso do Bombarral, só seria elevado a concelho em 1914, como reconhecimento pelo grande apoio que a então freguesia do concelho de Óbidos concedeu ao movimento republicano.
“Não nos parece muito provável que [essa opção] tenha sido [tomada] devido a causas internas ao próprio concelho, ou seja, a conflitos de interesses entre uma aristocracia local, detentora de grandes propriedades, e uma classe burguesa, constituída por pequenos comerciantes estabelecidos na vila”, destacam os antropólogos Paulo Ferreira da Costa e Helena Sanches Galante, que, assim, abordam o afastamento do concelho da rota da Linha do Oeste. Os autores da monografia adiantam que “é um facto que estes dois grupos sociais se opunham política e economicamente, mas também é verdade que o comboio traria prosperidade e progresso para ambos, facilitando o escoamento dos produtos agrícolas e fomentando a circulação de riqueza”.
Um grupo de cadavalenses defendeu a construção de um ramal que ligasse
as linhas do Oeste e Norte
Mas Augusto José Ramos, autor da monografia sobre o concelho do Bombarral, publicado no final da década de 1930, afiança que o projeto de traçado da Linha do Oeste nunca chegou a ponderar a hipótese de construir uma estação ferroviária no Cadaval.
A Linha do Oeste chegou a Torres Vedras a 21 de maio de 1887 e a Caldas da Rainha a 25 de junho do mesmo ano. O contributo para o desenvolvimento da região foi notável. O que chegou a ser defendido naquela época pelas gentes do Cadaval foi a construção de um ramal ferroviário que fizesse a ligação entre as linhas do Oeste e do Norte, atravessando os concelhos de Alenquer e do Cadaval até ao Bombarral. Esta ideia ganhou corpo nesse ano, quando foi inaugurado o transporte de passageiros na linha oestina.
A 22 de agosto de 1915, a reunião realizada na Câmara do Cadaval, onde estiveram presentes os principais comerciantes e proprietários do concelho, teve como objetivo constituir uma comissão para influenciar o poder central, em Lisboa, para que fosse levada por diante a construção do Ramal da Merceana. O objetivo era que o traçado desta nova linha ferroviária tivesse início no Carregado, passando pelas vilas de Alenquer e Cadaval, com estações na Merceana e em Vila Verde dos Francos, e entroncasse com a Linha do Oeste na vizinha vila do Bombarral.
“Aliança” entre Câmaras do Cadaval e Alenquer não chegou a concretizar-se
Esta “aliança” entre as Câmaras de Alenquer e do Cadaval era uma grande pretensão, na época, para potenciar o desenvolvimento dos respetivos concelhos.
“A linha destinava-se a servir cerca de 38.000 habitantes dos dois concelhos e beneficiar uma intensa atividade fabril em Alenquer e uma produção vinícola não menos importante nos dois concelhos”, sublinha o documento elaborado por Paulo Ferreira da Costa e Helena Sanches Galante. O financiamento integral da construção desta linha ferroviária estaria assegurado pelo interesse de uma empresa privada. O orçamento rondava os 710 contos para a sua construção e 100 contos anuais para a manutenção. Era grande a expectativa em torno do negócio, sobretudo pelo lucro gerado pelo grande tráfego no escoamento dos produtos comerciais e industriais.
Contudo, este projeto que se discutia desde 1886, nunca chegou a ver a luz do dia. O poder central, na capital, adiou sempre a construção deste ramal ferroviário, apesar dos alertas, na época, por parte de alguns deputados na Assembleia Nacional. E o comboio acabou por nunca chegar ao Cadaval. ■ Paulo Ribeiro