
“Por aqui, tudo é feito em grande…”. É assim que Paula Marques Perrone começa por explicar em que consistem os festejos de Halloween nos Estados Unidos da América, onde reside há 34 anos.
Filha de beneditenses, a portuguesa emigrou para a América ainda em criança. Hoje, a viver em Westford, no estado de Massachusetts, conta como são as tradições do lado de lá do Atlântico, como se toda a vida as tivesse vivido.
“No princípio do mês de Outubro, começa a ver-se as casas e empresas decoradas com coisas do Halloween, incluindo abóboras, bruxas, fantasmas, etc”, contou à Gazeta das Caldas numa conversa realizada por correio electrónico. As abóboras transformadas em lanternas, as “Jack-o’-lantern”, são feitas por “quase todas as famílias” no fim-de-semana antes do 31 de Outubro, retirando sementes e polpa da abóbora onde são depois recortados olhos, boca ou outros desenhos, que se querem sinistros. “Esta abóbora decorada é posta à porta da casa com uma velinha iluminada, a cada noite, até à noite de Halloween. É muito giro ver as decorações de cada família”, conta Paula Marques Perrone.
Já nas semanas anteriores à Noite das Bruxas, há vizinhos que se envolvem numa brincadeira a que chamam “Boo”. Há uma família que coloca doces ou brinquedos em sacos e durante a noite deixa o saco à porta do vizinho com a mensagem “You’ve been Boo’d!” (que não tem tradução para português, mas que significa “Foste assustado”). “A família que recebeu o saco agora tem que preparar dois e distribui-los da mesma maneira, deixando um papel na porta da sua casa para que os vizinhos saibam que o fantasma já passou por ali”, explica, acrescentando que este jogo faz as delícias das crianças, que “passam dias a ver se advinham quem lhes deixou o saquinho”.Quando se chega à última noite de Outubro, “crianças atá aos 10 ou 12 anos de idade, costumam ir de porta em porta mascarados”. E se há famílias que compram fatos “que custam bastante dinheiro, outras costuram e preparam o fato em casa”. Para os mais pequenos, os disfarces de animais são os mais populares. Já as crianças mais velhas optam normalmente por personagens populares da televisão e do cinema.
“Vão em grupos de amigos ou com a família ebatem a porta pela vizinhanca e dizem “trick or treat!” – que em português se pode traduzir por “truque ou doce”. “Hoje em dia, ninguém faz truques. As pessoas que abrem a porta dão-lhes chocolates, rebuçados, pastilhas ou brinquedos pequenos”, conta. Em cada cidade ou vila é anunciada a hora de início e fim do “trick or treat”. “E por causa do mundo em que vivemos, as crianças nunca andam sozinhas sem um adulto”, diz.
Para os jovens, que já não acham grande piada ao peditório pelas ruas, há festas “ou então escondem-se para meter medo (sem maldade) às crianças pequenas que fazem “trick or treat” com barulhos de fantasmas, etc”.
Há também a tradição de os produtores e comerciantes de abóboras enfeitarem os seus campos. “Há aqui perto um pomar que costuma decorar centenas de abóboras e depois de porem a vela colocam-nas nas árvores e pelo campo. Centenas de abóboras, cada com sua decoração… parecem lanternas… é mesmo lindo”. Um espectáculo que é habitualmente visto pelas famílias no fim do “trick-or-treat”.
Além disso, cada aldeia, vila e cidade também tem certos costumes durante este tempo. Por exemplo: as escolas primárias aqui não deixam as crianças virem mascaradas para as aulas no dia do Halloween. Por isso, convidam-nas a participar numa ‘parada’ mascarada à volta da escola”, acrescenta Paula Marques Perrone.
Prestes a festejar mais um Halloween, Paula conta o que vai fazer para assinalar a data. “Este ano a nossa aldeia vai ter uma parada mascarada para adquirir fundos para vários programas nas escolas. As crianças que querem participar pagam pela sua participação”. Este fim-de-semana, Paula vai decorar uma abóbora com a família, o marido David e o filho Michael. O petiz escolheu um fato de múmia para o “trick or treat”.
Joana Fialho
jfialho@gazetadascaldas.pt