Os destinos de sol e praia são diversos na região, mas, por mais curioso que possa parecer, também há quem procure o Oeste por causa dos dias mais frios.
Neste final de verão, a praia da Foz do Arelho ainda dá sinais de vida, recebendo veraneantes oriundos de várias latitudes. E por cá há quem lhe seja fiel até nos dias mais ensombrados pelo nevoeiro típico do Oeste, deslocando-se até ao areal como faria num dia encalorado. Ainda que, por vezes, recolhidos num abrigo improvisado com chapéus, neste caso anti-vento, muitos optam por jogos de cartas, piqueniques ou, simplesmente, desfrutam das vistas num dos bares de praia. Porque até os dias de nevoeiro têm fiéis adeptos.
“A Foz do Arelho é sempre uma incógnita. Há vezes em que saio de casa e está um dia lindo de sol e calor e, quando chego à Foz, está nevoeiro”, observa Teresa Leitão, aposentada e residente em Salir de Matos. A caldense, de 72 anos, afirma, sem vacilar, que aquela sempre foi a sua “praia de eleição”, mesmo nos dias de nevoeiro, não só por estar mais perto da sua morada como pelos atributos que apenas encontra nesta praia: “Se não for a Foz, aqui na zona, mais nenhuma conta. Aquele cheiro da maresia quando as rochas estão descobertas é uma coisa fora do normal, aquele cheiro que nós respiramos é uma maravilha! E gosto da paisagem, gosto do mar, gosto da lagoa…”, e a lista podia continuar. É por isso que aqui vem há quase cinquenta anos e apenas excecionalmente, perde um dia de praia: “Só se estiver a chover ou muito vento é que não vou. Se estiver nevoeiro, vou na mesma, levo um casaquinho, não me importo de estar na praia com esse tempo. Mas, quando morava na Foz e tinha uma barraca, ia todos os dias”.
Nos dias de nevoeiro, chega à praia por volta das 9h30 da manhã, como habitualmente, mas, em vez de se dirigir diretamente para o parque de estacionamento, dá uma volta maior pelo miradouro, descendo até à avenida marginal e continuando pela estrada da Escola de Vela, fazendo várias paragens para captar instantâneos da paisagem que tanto admira. De seguida, regressa à praia e desloca-se para o mar, onde mais gosta de estar e onde se encontra com vários amigos da sua geração. Faz uma caminhada, coloca a leitura em dia na biblioteca de praia ou vai tomar um café ao “Ala Norte”, de onde aproveita para tirar mais umas fotografias. A única diferença para os dias de sol é que não vai ao banho. Contudo, recorda que “já houve dias em que estava tudo encoberto e depois se meteu um dia lindo”.
À semelhança de Teresa Leitão, a emigrante Aura Horta, com raízes no Porto e em Torres Novas e diretora de uma clínica de estética em Londres, não é facilmente demovida pela neblina. Estando de férias com a família emigrada em Inglaterra (mãe, filhos, irmãos e cunhadas) por um mês, em São Martinho do Porto, onde tem um apartamento de férias, é à Foz do Arelho que vem passar a maior parte dos dias de praia há quatro décadas, desde que os pais adquiriram a casa. E não são os dias de nevoeiro que afugentam a esteticista, ainda para mais habituada ao tempo londrino, especialmente depois de dois anos em que não pôde realizar a viagem habitual devido à pandemia. “Adoro a Foz”, diz a mulher, de 57 anos, que também aproveita para realizar visitas culturais e passeios citadinos por diversas cidades da região.
Há ainda quem esteja de férias por um período inferior e, não tendo praia num raio de distância relativamente curto em relação à sua residência, aproveite todos os dias de férias, mesmo os de nevoeiro. É o caso da família de Patrícia Seguro, professora de 1º ciclo, e de Pedro Pereira, engenheiro civil, residentes em Alenquer, que vieram passar uma semana e meia à Foz do Arelho, tendo apanhado dias de tempo fenomenal na semana de 15 de agosto e outros menos bons na seguinte. Desde o ano passado que escolhem passar as férias nesta praia, inicialmente por permitir o respeito pelo distanciamento físico aconselhado face à pandemia, e também por possibilitar a realização de viagens diárias de ida e volta (cerca de uma hora), sendo esta a praia mais próxima da morada. Para além disso, apesar de terem conhecimento acerca da maior instabilidade do tempo – que, acrescentam, se portou “muito bem” aquando das suas férias no ano passado -, reconhecem a lagoa como um lugar ideal para o filho, que se apressa a comentar o facto da praia ter “uma lagoa e o mar juntos”.
Os dias de nevoeiro acabam por ser semelhantes aos de bom tempo: “normalmente ficamos pela praia. Chegamos perto da hora de almoço, almoçamos na praia, fazemos um piquenique, depois vamos ficando por aqui, o meu filho anda na prancha, fazemos uns passeios pela lagoa”, diz a docente.
Mas há também quem não conheça a Foz e seja apanhado de surpresa pelo tempo, não tendo outro remédio senão (esforçar-se para) aproveitar o dia o melhor que pode. “Não estávamos nada à espera deste tempo. Sabíamos que provavelmente estaria mais frio que em Itália, mas não tanto frio. Quer dizer, parece que estamos no outono…”, comenta Laura Tonelli, de 37 anos, uma professora de Matemática e de Física no ensino secundário, assentida por Alice Germani, de 28 anos, e especialista em marketing, que vieram passar férias para o Oeste com o grupo de amigos por três noites, depois da estadia em Lisboa e antes da partida para o Algarve. Estando albergados num apartamento arrendado para férias no Vau, naquela manhã tinham estado de visita ao centro da vila medieval, onde o tempo também estava de chuvisco, e, de tarde, decidiram vir conhecer a Foz do Arelho, depois de já terem passado pela Nazaré e por Alcobaça em dias anteriores. À chegada, não houve dúvidas de que teriam mesmo de substituir as toalhas de praia pelos corta-ventos e pelos hoodies, optando por fazer uma caminhada à beira-mar, seguida de uma conversa com sabor a um refresco e com vista para a lagoa num dos bares e, por fim, retomar a marcha ao longo do paredão, onde conversámos. “Era melhor se estivesse sol, mas assim também é lindo”, confessa Alice Germani, sorridente.
Junta agradada com verão
O presidente da Junta da Foz do Arelho faz um balanço “muito positivo” do verão que está a chegar ao fim, afirmando que “superou as previsões, porque se vinha de dois anos de pandemia”.
Fernando Sousa salienta que se verificou um aumento da comunidade de estrangeiros, particularmente da espanhola, aproximando-se dos níveis da inglesa e francesa, que já vinham escolhendo este destino em massa.
Relativamente às festas de verão, que são sempre um grande atrativo da população caldense e das redondezas, o autarca lamenta a impossibilidade de realização da Festa Branca e da festa dos anos 80, dado que “havia uma procura muito grande de palcos, de som”, não havendo já disponibilidade a preços acessíveis dos equipamentos de logística necessários para a realização da festa. Ainda assim, anota o sucesso da “festa anual realizada pelas coletividades” (a Festa da Foz do Arelho em honra de Nossa Senhora da Conceição), em agosto, e da Festa da Vila, organizada pela Junta de Freguesia, decorrida em junho.
Fernando Sousa assinala ainda, como ponto alto, o concerto dos The Gift, que atraiu milhares de pessoas à praia da Foz do Arelho e faz questão de anunciar que, no próximo sábado, a vila vai receber a Orquestra Ligeira Monte Olivett no Arraial, um evento apoiado pela Câmara das Caldas da Rainha. Além disso, já está confirmada a realização da festa de fim de ano.
Para o próximo verão, o líder do executivo da freguesia perspetiva o retorno à realização das festas habituais no areal da praia, a par de um concerto com uma banda de renome como o deste ano. “Tenho a ideia que as coisas vão melhorar bastante. E tenho a noção que vamos voltar novamente à Festa Branca e às festas temáticas”, concretiza o presidente da Junta.