Obidense em Moçambique realça a necessidade de evitar surtos de cólera e malária

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Várias equipas portuguesas ajudam no pós cliclone Idai
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Marco Martins, 2º comandante dos Bombeiros de Óbidos, chegou à Beira no dia 23 de Março e encontrou “um cenário de grande devastação, com um rasto de destruição pela cidade que tinha artérias interditadas pela queda de árvores e estruturas”, contou à Gazeta das Caldas pelo telefone.
Nos primeiros dias trabalhou na identificação de portugueses e na distribuição de bens (comida, roupas, produtos de higiene e outros) na zona do Dondo, a norte da Beira.
O obidense, que está a chefiar as equipas das ONG’s portuguesas Take C’Air Crew Volunteers e Estímulo ONGD, ajudou na montagem do hospital da AMI no local e nos próximos tempos o foco será a questão da saúde pública. “Começam a aparecer casos de cólera e malária e temos de nos concentrar em evitar contágios que podem levar a outra calamidade pública”.
Marco Martins realça que o caudal da água já diminuiu bastante, que as pessoas já estão em segurança e aos poucos começam a retomar a vida normal. Ainda assim, continua a haver situações complicadas, com carências ao nível alimentação, da higiene e da saúde pública.
E há outra questão preocupante: muitas das habitações, que eram feitas em materiais pouco duradouros, ficaram destruídas após a passagem do ciclone e ainda não foram encontradas soluções definitivas. Por enquanto, há ainda vários campos de desalojados com centenas de pessoas.
O bombeiro obidense salientou que a missão foi muito bem recebida e que os sorrisos genuínos das crianças que ajudam, “dão algum alento”.
Em Moçambique há também dois caldenses que estão integrados numa missão da AMI. A médica Inês Lopes e o coordenador de logística da missão, Pedro Monteiro.

“A cidade da Beira precisa de tudo”

Ema Carriço nasceu na Beira e veio para as Caldas com 16 anos, em 1977. Ainda lá regressou de férias três anos depois e, quatro décadas volvidas, ainda mantém a ligação, por via telefónica e online, com familiares e amigos. “Infelizmente está tudo destruído, foi horrível e causa-me uma tristeza profunda”, disse Ema Carriço à Gazeta das Caldas, acrescentando que “a cidade está caótica, precisa de tudo” e que “há coisas na Beira que não se conseguem identificar”.
A caldense fez notar que existem dificuldades nas redes de comunicação, pelo que tem feito contactos, sobretudo via Whatsapp. “A saúde está um pavor”, resumiu, esclarecendo que por exemplo, a mulher e os filhos de um amigo seu que vive na Beira foram para Maputo e para Tete para fugir a eventuais surtos de cólera e malária.

“Vai demorar 40 ou 50 anos a reconstruir”

João Girão, que vive nas Caldas desde 1975, foi para a Beira com dois anos e lá viveu durante os 28 anos seguintes. Conta que as suas recordações, muito vivas, são as de uma cidade desenvolvida e moderna, que depois “entrou num declínio constante desde a independência, porque os quadros se foram embora”.
Este caldense nota que vários dos hotéis e todos os cinco cinemas que existiam já tinham fechado antes desta catástrofe. “Tenho muita pena do povo moçambicano que é inocente, mas os políticos são iguais lá e cá”, analisou, traçando um paralelismo com a situação de Pedrogão Grande: “se os bens não forem doados através de uma instituição credível, não chegam às pessoas”.
João Girão referiu que “hoje a cidade está completamente destruída” e que se vive uma situação dramática. “Vai levar 40 ou 50 anos para reconstruir”, contou.
Acresce que, “ao contrário de Angola, em Moçambique a riqueza está na agricultura e não nos minerais”, pelo que a recuperação ainda será mais lenta, tendo em conta que grande parte das culturas ficaram arrasadas.
João Girão conta que a Beira foi criada devido ao seu porto, que possui excelentes condições naturais (de onde se fazia a exportação moçambicana e dos países vizinhos), e foi-se expandindo. Mas as construções foram feitas em cima de terrenos lamacentos e arenosos e parte está abaixo do nível do mar. “Todos os anos há inundações e mortes entre as pessoas envolvidas na agricultura, mas nunca assim”, realça.
Recentemente um familiar seu que tinha lá vivido, foi rever a cidade e “não reconheceu a Beira, que tem gradeamentos até ao 6º andar, com lojas fechadas e com os antigos elevadores sem funcionar a serem usados como lixeira”. Há pessoas a morar nos hotéis abandonados e não há maneira de resolver esse problema porque o próprio Estado moçambicano é pobre.

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