ontem & hoje

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Joaquim António Silva / José António Gonçalves (1984)

A Avenida 25 de Abril, que rompeu a velha Avenida da Independência Nacional, tem quase 50 anos, mas na imagem, datada de 1984, já se observava como parte de uma cidade termal estiolada, porque se havia perdido a tradição dos prédios não ultrapassarem a altura das copas das árvores.
Este exemplo, que devia ter sido colhido nas cidades com célebres termas europeias, perdeu-se nas Caldas ainda antes do 25 de Abril, quando o “processo de desenvolvimento” para as autoridades locais era crescer em cimento.
Muitos dirão que ainda bem e que assim é que deve fazer-se, porque é este o desenvolvimento que todos desejávamos.
Mesmo assim, transformou-se uma cidade simpática, acolhedora, sem confusões no seu tráfego, numa cidade onde hoje se misturam prédios de 11 pisos com outros de sete, quatro, três, dois e um, bem como muitos prédios e espaços abandonados.
Na fotografia ainda se vislumbra à distância o edifício dos paços do concelho, projectado sem qualquer critério de futuro, que esteve em construção (com períodos de prolongada interrupção) muitos anos nas décadas de 70 e 80.
Coitadas das habitações em redor destes monstros, que perderam qualquer réstia de sol, transformando algumas ruas em espaços insalubres.

Joaquim António Silva (2011)

O arranjo urbanístico caldense esteve sempre ultrapassado e pouco funcional, nunca tendo oferecido aos moradores os exigidos espaços de lazer. Nem sequer a preocupação dos estacionamentos foi muito levada a sério.
A foto actual brevemente deixará de o ser. Nos próximos meses estas artérias vão sofrer um processo de restyling que não saberemos se irá resolver o problema original. Como o povo, diz quem nasce torno tarde ou nunca se endireita.
Muitos caldenses, contudo, acham que ali encontram a principal via urbana da cidade que os leva da estação da CP até à Praça dos “três poderes” – o autárquico, o religioso e o judicial -, numa alusão incompleta e coxa, do legislativo, executivo e judicial.
A nós, que acompanhámos as transformações e recordamos o que existia antes, corre-nos um frémito nostálgico e de pena incomensurável.
Como a cidade das Caldas da Rainha poderia ser hoje um exemplo urbano, como é demonstrado por Guimarães património mundial da Unesco e em 2012 capital europeia da cultura! Provavelmente faltarão muitos outros atributos para que Caldas da Rainha pudesse merecer esta distinção, mas a cidade do primeiro hospital mundial construído de raiz, poderia ter merecido também alguma atenção.
Os caldenses, porém, quiseram jogar naquilo que lhes parecia o progresso “a la minuta” e hoje têm uma coisa que nem é carne nem é peixe.
Estas fotografias mostram bem o que foi feito para alguns que acharam que era isto que daria novos mundos ao mundo. Ficou-se por uma cidade descaracterizada que a muito custo consegue atrair os utilizadores da indústria do séc. XXI – o turismo.

JLAS

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