ontem & hoje

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Júlio Paramos

Poucos pares de imagens poderão ser tão contrastantes como este. Não há nada, uma simples referência, um resto de paisagem, absolutamente nada, que tenha permanecido no tempo entre uma foto e outra. Dir-se-ia até que foram tiradas em sítios distintos, se não fosse o rigor de Joaquim António Silva que procura com grande precisão captar as imagens nos ângulos exactos de onde há cem anos foram tiradas.
É Inverno, a julgar pelas árvores do parque, despidas de folhas, e pela actividade agrícola em curso pelos homens que se vêem no retrato de Júlio Paramos (filho do fundador do Hotel Lisbonense, Vicente Paramos) nos primórdios do séc. XX.
O Hotel Lisbonense, inaugurado nos anos 70 do séc. XIX é o edifício dominante. É o hotel ex-libris da cidade, mas, a julgar pelas manchas na parede lateral, acusa já alguma falta de pintura.
Cem anos depois o mesmo ângulo de visão é praticamente preenchido pela imagem do centro comercial Vivaci inaugurado em Novembro de 2008. Em torno já tinham crescido urbanizações e há muito que esta zona da cidade tinha perdido o seu aspecto bucólico e rural. O Hotel Lisbonense, agora designado Sana Silver Coast, ainda lá está, mas ficou escondido pelo shopping, construído nos terrenos traseiros do hotel onde em tempos também havia palmeiras.

Afinal… Sim, afinal há uma referência comum: a palmeira que se avista na segunda foto era do Hotel Lisbonense,embora não existisse à época da primeira foto. Nos fins do séc. XX eram bem visíveis as palmeiras que estavam plantadas na parte de trás do hotel e que foram arrancadas pouco antes do início das obras de reconstrução do edifício. Após alguma controvérsia, ficou

Joaquim António Silva (2011)

decidido que voltariam ao local, o que veio a acontecer. Esta palmeira é a prova disso mesmo.

C.C.