ontem & hoje

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Notícias das Caldas
José Neto Pereira, década de 1950 – Espólio Património Histórico – Grupo de Estudos
Notícias das Caldas
Joaquim António Silva – 2013

“ Em 1947 fui encarregado pelo Partido de tentar restabelecer essas relações. Levava também como tarefa (no caso de conseguir chegar á União Soviética), de solicitar aos camaradas que Soeiro Pereira Gomes (já então gravemente doente) fosse lá tratar-se.
A última vez que nos encontrámos foi em fins de 1947 (precisamente nas vésperas da minha partida). Foi em Salir do Porto, onde então Soeiro Pereira Gomes vivia na clandestinidade. Estava escrevendo o seu romance «Engrenagem» que nunca viria a acabar “
Álvaro Cunhal – Avante nº 1359

Sem poder precisar, calculo que seria pela época que a foto retrata, que Soeiro Pereira Gomes viveu clandestinamente em Salir do Porto.
Salir poderia ser muito naturalmente uma imagem quase perfeita dum lugar descrito em “Esteiros” e suas gentes personagens de qualquer livro da obra de Soeiro.

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Recordo-me vagamente do seu humilde casario, das ruas de areia fina e envelhecida, verdadeiros palcos de brincadeiras sem fim, dos homens e mulheres de aspecto sofrido que por qualquer acaso do destino, não tiveram a sorte, nem sequer vocação, para embarcar ou emigrar, fazendo a vida na jorna que a pequena agricultura lhes poderia proporcionar. Também haveria quem tivesse uns palmos de terra e se governasse com aquilo que dela tirava. Enfim, retratos dum País bafiento cujo conteúdo se repetia por cada canto e a cada passo.
Passei muito ao de leve por estes episódios. Não sei bem se são recordações de tempos vagamente vividas, se apenas histórias ouvidas e agora recordadas. De uma maneira ou de outra não me deixam recordações agradáveis senão a nostalgia de tempos muito difíceis, vividos por gerações sofridas, mas tão magistralmente retratados pelos pioneiros do neo-realismo.
Congratulo-me que este retrato não me traga mais que meras recordações… pois do ventre destas gentes tão sofridas, nasceram homens e mulheres que conseguiram aproveitar os tempos de mudança e souberam traçar um novo rumo para Salir do Porto.
E como as coisas mudaram….
Da água canalizada aos esgotos, das ruas aos ajardinamentos, dos espaços de lazer aos espaços sociais, quase tudo se soube conquistar. Porém a maior das conquistas foi sem dúvida o ter-se conseguido manter a identidade duma terra harmoniosa, equilibrada, muito bonita e cuidada.
Costumo dizer com alguma vaidade que a natureza nos privilegiou, mas sem dúvida alguma que se soube preservar Salir do Porto de modernismos exagerados, de construções descabidas e desajustadas.
Que esta longa história que tantos Homens conseguiram escrever, possa perpetuar a identidade criada e comungada por todos os Salirenses.  Que as novas gerações, possam ter orgulho naqueles que souberam conduzir  Salir a bom Porto.

Heraldo Carmo

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