Oposição contesta um ano de “política de continuidade” em Óbidos

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Praticamente todos os ex-candidatos à Câmara de Óbidos falam na “política de continuidade” executada por Filipe Daniel, queriam ver mais trabalho feito e pedem uma estratégia para o concelho.

O PS é o mais contundente nas críticas ao primeiro ano de mandato do atual executivo, liderado pelo social-democrata, Filipe Daniel, na Câmara de Óbidos. O ex-candidato, e atual vereador, Paulo Gonçalves considera que foi um ano “fraco”, em que “nem sequer houve estado de graça”. Apesar das expetativas “serem altas” pela eleição de um novo presidente da câmara, Filipe Daniel revelou-se um “autarca de continuidade, numa versão mais educada, mais democrata, mas com uma orientação estratégica tão vaga quanto ineficaz”. A equipa apresenta níveis “muito baixos de execução”, denunciando “falta de orientação, desconhecimento das matérias que tutelam, processos parados, iniciativa zero, estratégia titubeante, gestão difícil dos recursos humanos”, entre outros aspetos, concretiza.
Entre os aspetos negativos deste primeiro ano de mandato, Paulo Gonçalves realça o facto da Câmara estar “totalmente” dependente da Óbidos Criativa e do Parque Tecnológico, quando entende que deveria de ser o contrário. Também a “atração” deste executivo pela aquisição e construção de imobiliário não agrada ao socialista, que pretendia ver concretizadas outras obras. As críticas estendem-se a contratações de “amigos” e colegas de partido, “esvaziamento dos órgãos e conflitos de interesse”.
Também a “atração pela visibilidade efémera” das redes sociais merece reparo do PS, que neste primeiro ano de mandato queria já ter visto uma solução para o trânsito dentro da vila de Óbidos, a criação de um espaço de atendimento ao cidadão fora da muralha, um local para construir um terminal rodoviário e efetivada a ligação da estação da CP para o centro da vila. Reclamam mais investimento para as freguesias e, por outro lado, criticam o aumento do preço da água, a manutenção do subsídio à Óbidos Criativa e a ausência de melhorias ao nível dos serviços de saúde no concelho.
Pela positiva, Paulo Gonçalves destaca o ambiente descontraído e a disponibilidade do presidente para a discussão dos assuntos em reuniões de câmara, que o PS apresenta antes da ordem do dia.
Também Sabino Félix, candidato pelo Chega às autárquicas, considera que se tratou de um ano de “continuidade da governação anterior, com as mesmas apostas e sem novidades”, ressalvando que estas respostas apenas o vinculam a ele pois atualmente já não possui qualquer ligação ao partido.
Pela positiva, destaca a preocupação em recuperar o aqueduto, embora não compreenda a ausência de um plano para a recuperação da envolvente, nomeadamente a entrada sul da vila. Já a falta de uma visão “reformista” dos serviços do município merecem o reparo do ex-candidato, que defende um “canal de comunicação direto” com o cidadão, desmaterialização de procedimentos, redução da burocracia, a implantação de um gabinete independente “antifraude” e o premiar os bons recursos humanos, através de regulamento.
Sabino Félix gostaria que o executivo tivesse já um esboço da utilidade a dar ao património imobiliário municipal e incentivos na área da habitação, bem como um plano de investimento na autonomia energética e gestão inteligente dos edifícios públicos e uma “carta social” atualizada, de trabalho em rede. Também a correção das perdas de água e uma maior centralidade ao Parque Tecnológico são aspetos que gostaria de ver já concretizados.

“Tudo voltou ao mesmo”
João Paulo Cardoso, independente, candidato pelas listas do BE, tinha mais expetativas em relação a este ano. Entende que é nesse período que deve ser demonstrada a orientação que se vai seguir no futuro, mas em Óbidos, “houve como que um “sob e desce emocional político”, que culminou na manutenção das políticas, pela maioria”.
A libertação do espaço da cerca das construções em madeira foi um bom pronuncio, mas “depressa tudo voltou ao mesmo”, critica. Com esta opção ficou também “impraticável” o roteiro dos eventos, que seriam dispersos pelas freguesias, como chegou a ser afirmado pelo executivo e que o próprio candidato bloquista defendia no seu programa e já tinha proposto na Assembleia.
João Paulo Cardoso também não compreende porque a derrama não é aplicada e sublinha que este território “não deve ser gerido como um quintal vedado, parque temático e centro comercial a céu aberto”.
A falta de concretizações em prol do bem estar dos munícipes é a principal crítica apresentada por Carlos Pinto Machado, ex-candidato independente à Câmara pelo “O nosso partido é Óbidos”, que ainda está à espera de saber para que serve a Praça da Criatividade. Escusa-se a mencionar, para já, pontos negativos, pois considera Filipe Daniel um autarca “bem-intencionado, mas muito inexperiente” e, talvez por isso, o concelho “continue em marcha lenta”. Deixa, contudo, um aviso: “para ser autarca não basta ser simpático e fazer a gestão corrente do município”.
Como aspetos positivos, Carlos Pinto-Machado releva o diálogo aberto com o município das Caldas e mostra-se expectante quanto ao resultado desta parceria. Regista a “melhoria gradual do Fólio” e que é necessário reestruturar os outros eventos, sob pena de deixarem de ter afluência. Neste primeiro ano de governança, o candidato independente gostaria que se tivesse apostado mais no desenvolvimento das freguesias, na área da saúde, habitação jovem e política de turismo para este território. Também a gestão agrícola e a captação de investimento deviam ter tido um maior incremento, nomeadamente no “desenvolvimento do Parque Tecnológico, que se está a tornar num “elefante branco” para o município”, alerta.
Também o independente Luizinho Leal, candidato pela CDU, não viu evolução relativamente a mandatos anteriores. “A mudança e afirmação presidencial ainda não revelou diferenças e, nalguns casos, até piorou”, considera, referindo como exceção, a viagem ao Brasil de uma pequena comitiva autárquica que, acredita, trará mais valias num futuro próximo. A falta de soluções para os problemas de saúde e os eventos de turismo “repetidos, não repensados, mantendo a apetecível espetacularidade, ao nível de marketing”, mas “sem estudo financeiro transparente e objetivo na divulgação junto da opinião pública concelhia”, merecem o reparo deste candidato.
Surpreende-o que obras há bastante tempo anunciadas ainda estejam por concretizar como o novo quartel da GNR ou inauguração da Praça da Criatividade. Por outro lado, admite que haverá “boas intenções, consonantes com as que defendemos quanto à aposta de iniciativas nas freguesias”.
Luizinho Leal fala da falta de exercício da democraticidade e de respeitar a pluralidade. “Estas atitudes argumentam-nos, entre outras, que os classifiquemos, metaforicamente, como um ‘regime’”, diz, propondo que mudem este comportamento, respeitando o cumprimento do direito da oposição. O candidato da CDU entende que já devia ter sido feito um estudo sociológico para compreender as causas demográficas impeditivas da fixação de novos munícipes e envolver os estrangeiros na comunidade, assim como explorar a promoção do património, arte, hábitos e costumes nas suas aldeias. “O concelho muito beneficiaria de uma postura modesta, dialogante, realista, jamais fechada no torreão do castelo como donos do poder, senhores da verdade e, por consequência, protagonistas das “más” coisas…também”, resume, crítico, sobre o primeiro ano de mandato.
A Gazeta tentou também ouvir a candidata do CDS, Patrícia Silva, mas não obteve resposta até ao fecho desta edição.