A gestão da água, uso de pesticidas e agricultura intensiva, as questões da mobilidade e o crescimento urbano desordenado estão entre os principais problemas ambientais da região. Os desafios são grandes mas as associações do setor acreditam que, se houver diálogo e políticas concertadas entre as organizações ambientais e o poder político, o futuro será mais verde
A região Oeste de Portugal enfrenta diversos problemas ambientais que impactam a qualidade de vida da população e a sustentabilidade dos ecossistemas locais. As alterações climáticas e secas prolongadas estão a afetar a agricultura local, principalmente a produção de vinhos e hortícolas, alerta o GEOTA, que defende uma gestão eficiente da água, através de tecnologias de irrigação e sistemas de captação de água da chuva. A diversificação agrícola com culturas mais adaptáveis à seca e promoção de práticas agrícolas sustentáveis, também são uma solução.
A perda de biodiversidade é outro problema, que tem vindo a crescer com a expansão agrícola e a urbanização, pelo que o GEOTA defende a reflorestação com espécies autóctones e a criação de corredores ecológicos para preservar a biodiversidade.
O uso excessivo de pesticidas e fertilizantes químicos tem contaminado o solo e as águas subterrâneas, afetando a saúde humana e os ecossistemas. Um problema cuja solução passa, de acordo com esta ONGA, pelo fomento da agricultura orgânica e sustentável, reduzir o uso de químicos e monitorizar a qualidade da água e do solo.
A erosão do solo, agravada pela agricultura intensiva e desflorestação, e o risco de incêndios florestais, especialmente no verão, são problemas crescentes, pelo que devem ser criados planos de gestão de risco de incêndios com limpeza de mato e vigilância. Também a recuperação dos solos e plantação de espécies resistentes ao fogo é um contributo para reduzir a vulnerabilidade das florestas.
O GEOTA alerta ainda para o crescimento urbano desordenado, que tem levado à perda de áreas verdes e ao avanço sobre terrenos agrícolas e naturais. Defende, em contraponto, o planeamento urbano sustentável, criando espaços públicos verdes que promovam a biodiversidade, bem como a delimitação de zonas de proteção para evitar a urbanização descontrolada e revitalizar áreas urbanas com jardins comunitários e hortas.
Apesar das zonas húmidas serem dos ecossistemas mais ricos e produtivos do mundo, são também o ecossistema mais ameaçado e a região conta com duas: o Paul de Tornada e a Lagoa de Óbidos. Entre as ameaças estão a remoção da vegetação ripícola nas margens de linhas de água doce, com a construção de margens artificiais de betão e as alterações no uso do solo, com drenagem, usos de produtos químicos na agricultura e construção urbana, alertam Paula Vieira e Sara Moreira, da Associação PATO.
Também a pesca e a mariscagem ilegal, bem como a presença e proliferação de espécies exóticas invasoras ou ainda a poluição por resíduos descartados e descargas nas linhas de água, são ameaças. De acordo com as ambientalistas, a resolução para os desafios ambientais da região passam pela implementação de programas de monitorização e fiscalização eficazes e o desenvolvimento de planos de ordenamento do território que integrem a conservação ambiental e o desenvolvimento sustentável, revendo o dossier e classificar a Lagoa de Óbidos como Área de Paisagem Protegida de âmbito regional.
Sensibilizar a comunidade local e os visitantes para a importância da preservação destes ecossistemas e a promoção da educação e sensibilização para a boa gestão da água doce, para redução e reciclagem dos resíduos, para a problemática das espécies exóticas invasoras, bem como promover o controlo e remoção destas espécies e a recuperação da vegetação nativa, são também medidas a implementar.
A PATO defende ainda que a “colaboração entre autoridades locais, organizações ambientais e a comunidade é fundamental para garantir a proteção e sustentabilidade destas áreas de grande valor ecológico”, uma solução que é partilhada pelas outras associações ambientais.
Entre os principais problemas ambientais da região, a Ágora enumera os incêndios rurais e florestais, a gestão ineficiente da água (pelas perdas de água limpa e pela falta de recolha das pluviais), a gestão incorreta dos resíduos, a excessiva agricultura com fertilizantes, a urbanização desenfreada com o uso dos terrenos agrícolas e florestais para construção, a perda de biodiversidade e a falta de preparação para os impactos das alterações climáticas, assim como a questão da falta de transportes públicos que satisfaçam as necessidades.
Os transportes estão também no foco da LinDoMar, que aponta como principais problemas as emissões desse setor, dado que “faltam soluções de mobilidade sustentável”. Nesse campo, aponta ainda a eletrificação da linha do Oeste como uma das soluções. Outra preocupação é com a saúde da Lagoa de Óbidos, “com a pressão sobre ela a aumentar a olhos vistos”. Aponta à “construção de campos de golfe e unidades hoteleiras que irão necessitar de muitos recursos hídricos”. A questão da agricultura intensiva é outra temática a ser abordada.
Ao nível das soluções defendem que são precisos “planos que tenham em conta as necessidades da população local e os objetivos ambientais do país”. Portanto, “transportes públicos coletivos de baixas emissões a funcionar em horários que efetivamente servem as pessoas” seriam fundamentais, bem como a criação de ciclovias seguras. A proteção ambiental da Lagoa é outra das grandes preocupações, sugerindo a limitação da velocidade máxima para embarcações a motor e “a simples fiscalização da legislação em vigor”, questionando “como é possível haver motos de água a passar da lagoa ao mar através da aberta?”. Para a LinDoMar é preciso “uma visão diferente do tipo de turismo que queremos para a região, um turismo sustentável que protege a natureza, que é uma das grandes atrações da nossa zona, e que seja e permaneça acessível a todas as pessoas”. Na agricultura, as soluções passam por “mais apostas na vertente biológica e tratar das questões sociais que se conhecem”. Ao nível da gestão de água, “um recurso tão precioso, já está a ser feito algum bom trabalho, mas pode haver muito mais”.
A água é também foco das soluções que a Ágora preconiza para a região, com o incentivo, às famílias e às empresas, para o uso eficiente desse bem em casa e na Agricultura, na Agro-pecuária e na Indústria, assim como a construção de pequenas bacias de água, com o intuito de a reter e a despoluição dos rios e ribeiras (e proteção dos cursos de água e águas subterrâneas). O aumento do controlo de descargas ilegais e o incremento da agricultura biológica são medidas defendidas pela associação. Tudo isto aliado a uma maior proteção das áreas naturais, “reflorestando-as com espécies nativas e regenerando os rios e as ribeiras, tanto em zonas rurais, como em áreas urbanas, preservando os ecossistemas”. Defendem uma “primazia aos produtos locais e regionais” e o estabelecimento de “redes curtas no acesso à alimentação”, assim como a existência de uma rede de transportes públicos capaz de dar resposta à população do concelho. Nesse campo, sugerem a promoção do uso da bicicleta e do caminhar a pé, aliado à remoção do centro da cidade do “trânsito de carros individuais (incluindo elétricos)”. Depois pretendem criar parcerias, realizar campanhas de consciencialização ambiental e “incentivar as Juntas de Freguesia à não utilização de glifosato no controlo das ervas”.
As associações ambientais
Há 36 anos a trabalhar em prol da conservação da natureza e da educação ambiental, associação PATO é uma ONG de Ambiente com sede no Centro Ecológico Educativo do Paul de Tornada (CEEPT). Ao longo deste tempo tem contribuído ativamente para a preservação, recuperação ecológica e divulgação das principais zonas húmidas da região Oeste, nomeadamente, Reserva Natural Local do Paul de Tornada e Lagoa de Óbidos.
A equipa conta com duas biólogas e uma professora destacada a tempo inteiro, assim como com a colaboração regular de estagiários e voluntários. Para além dos serviços educativo do CEEPT, do Centro de Interpretação para a Lagoa de Óbidos e da Associação PATO, estão a trabalhar no projeto “BioLagoa de Óbidos” e no “Emys vai à escola”. Desde sempre a PATO tem trabalhado em projetos de conservação da natureza, nomeadamente na monitorização de cágados nativos e mamíferos.
Constituído legalmente em 1986, mas cuja existência enquanto grupo de reflexão e educação na área do ambiente remonta a 1981, o GEOTA – Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente é uma Organização Não‑Governamental de Ambiente (ONGA) de âmbito nacional. Há 35 anos que coordena, a nível nacional, o projeto europeu de educação ambiental e ciência cidadã Coastwatch. Gere, em parceria com a PATO, o Centro Ecológico Educativo do Paul de Tornada – Professor João Evangelista/Reserva Natural Local do Paul de Tornada, um equipamento para a Educação Ambiental e espaço interpretativo da Reserva Natural Local do Paul de Tornada, que dispõe de um conjunto de valências que permitem a realização de atividades de educação e formação ambientais.
Dinamiza ainda os projetos Rios Livres, de proteção e restauro dos rios ibéricos, e o Rollin’Rivers dedicado ao estudo, restauro e mapeamento de barreiras à conectividade fluvial da bacia do rio Alviela. No âmbito do projeto Renature são recuperadas áreas ardidas através da realização de ações de reflorestação, em colaboração com as comunidades locais.
A Ágora – Associação Ambiental foi criada nas Caldas no Dia do Ambiente, há dois anos e, explica a mentora Veronique Tomaz, está a desenvolver “iniciativas que visam enaltecer e colocar o tema do ambiente em cima da mesa”. Entre elas uma feira de trocas e doações de roupa na Praça da Fruta, a 14 de junho. Uma semana depois vão estar, novamente, no Salgueiro-Chorão na Qta. dos Canários, para consciencializar “a população residente e a comunidade em geral para a importância das árvores”. No último ano desenvolveram o projeto do “Parque do Rio da Cal”, que no dia 28 os levará a analisar a água, remover plantas invasoras e lixo. Vão fazer uma nova Caça à Beata (dia 25), participar na Rota do Voluntariado Local e na Limpeza Costeira na Foz, que assinala o Dia dos Oceanos. “Em parceria com a Biblioteca Municipal das Caldas, temos vindo a desenvolver a “Hora do Conto Ambiental e, porque mudar hábitos e comportamentos é das coisas mais difíceis de se fazer”, fazem o “Minuto Verde” numa rádio regional, “onde partilhamos dicas e recomendações ambientais de forma espontânea e descontraída”.
A LinDoMar é um grupo informal que existe desde julho de 2018 a, como refere o logótipo, “Limpar, Educar, Cuidar”. Dörte Schneider Garcia conta-nos que “há cada vez mais importância na parte do educar, e acreditamos que através da participação nas nossas ações de limpeza efetivamente as pessoas passam a estar mais sensibilizadas, e mudam comportamentos, mesmo nos seus hábitos de consumo”.
Região no bom caminho?
“Há claros sinais positivos, mas ainda há muito por fazer”. As responsáveis da PATO consideram que a região Oeste tem vindo a dar passos em direção a uma maior conscientização ambiental. Verificam uma “clara” preocupação, cuidado, interesse e necessidade de priorizar as questões ambientais tanto a nível político, como da população em geral. “Percebemos que os vários temas que trabalhamos a nível ambiental começam a ter mais palco, a população está cada vez mais conscientizada para os problemas ambientais que enfrentamos, começando a alterar hábitos de consumo e estilo de vida para uma vida mais sustentável”, sustentam Paula Vieira e Sara Moreira.
Também o GEOTA considera que a região enfrenta desafios ambientais significativos, mas existem soluções práticas que podem ser implementadas para mitigar esses impactos. “A combinação de políticas públicas eficazes, colaboração entre governos locais e organizações não governamentais, e a conscientização da comunidade são fundamentais para promover um desenvolvimento sustentável na região”, considera.
Veronique Tomaz crê que “uma reflexão conjunta de intuito sério sobre esta temática faria todo o sentido para o nosso território” e que “seria positivo que, cada indivíduo, cada organização pública ou privada, com ou sem fins lucrativos” pensasse “quanto vai custar, monetariamente, a inação individual e coletiva, qual o valor económico do património natural existente e, em termos ambientais, o que poderá fazer para melhorar o seu desempenho ou o desempenho da sua organização”.
Já Dorte considera que “a urgência da situação não está suficientemente evidente” e que, apesar de haver muitas iniciativas, “as questões prementes ficam por resolver. São questões de sistema, e talvez não sejam muito populares, porque podem não ganhar votos”, aponta, lamentando que se tenha falado “muito pouco em temas de ambiente nestas últimas eleições, por exemplo, isso preocupa muito” e “temos que acelerar o passo, porque mesmo que não tratemos das questões, elas existem, e tendem a aumentar”.