O Sporting Clube das Caldas completou 100 anos no primeiro dia do ano. Gazeta das Caldas juntou uma das atletas mais jovens do clube e o sócio mais antigo, reunindo duas gerações que representam o passado, o presente e o futuro do clube.

Clara Gil tem 10 anos e Mário Tavares 82, são uma das atletas mais novas e o sócio mais antigo do Sporting Clube das Caldas

 

Clara Gil tem 10 anos e chegou ao Sporting das Caldas em 2019 para jogar gira-vólei, o que faz dela uma das atletas e sócias mais recentes do clube. Foi na escola, na disciplina de Educação Física, que experimentou a modalidade pela primeira vez. Gostou tanto que pediu ao pai para procurar um clube onde jogar. A família, que até é adepta do Sporting Clube de Portugal, não sabia da existência do Sporting das Caldas. Descobriu-o na pesquisa para saber onde se poderia jogar voleibol na cidade termal.
“A modalidade é muito gira e gosto muito de a praticar”, conta à Gazeta das Caldas a pequena, mas muito enérgica, Clara. O que mais gosta é de atacar e de fazer manchetes. “Defender não é o meu forte”, confessa. “Também gosto do meu grupo e do meu treinador”, acrescenta a voleibolista.
Clara Gil não sabia que o clube está a assinalar os seus 100 anos, mas ficou contente por saber. “É fixe o clube ser tão antigo, significa que está na memória de todos”, observa.
Apesar de ser curta a ligação com o Sporting das Caldas, a caldense considera que a experiência já está a ser importante na sua vida. O gosto pelo voleibol está a crescer e até já procura vídeos para ver na Internet. No entanto, aos 10 anos, Clara não vê no desporto o seu futuro, mas um passatempo que a vai ajudar na sua formação. Quando for adulta já sabe que quer ser cientista ou bióloga.

SÓCIO HÁ 75 ANOS

Se Clara Gil é umas das mais jovens associadas do Sporting das Caldas, Mário Tavares é actualmente o mais antigo e ostenta o estatuto de sócio número 1. É também presidente da Mesa da Assembleia-geral e presidente honorário.
Tinha “6 ou 7 anos” quando se tornou associado. Foi um tio, que na altura era dirigente do clube, o responsável. Hoje com 82 anos, Mário Tavares é sócio há pelo menos 75 anos, o que significa que acompanhou três quartos da vida do clube, a maior parte do tempo de forma activa.
Por volta dos 16 anos iniciou a prática desportiva no seu Sporting, no ténis de mesa. Mais tarde, já na década de 1970, foi presidente do clube, cargo que ocupou durante 30 anos. Antes, lembra-se bem do sucesso do clube na década de 1960.
Mário Tavares recorda que uma das principais dificuldades era a falta de recintos desportivos. E, nesse contexto, recorda uma história em particular. Era num recinto no Parque D. Carlos I que o clube tinha a sua actividade. Esse recinto tinha uma bancada reaproveitada de uma prova de remo importante que se tinha realizado na Foz do Arelho e que foi repartida com o Caldas SC. “Mas numa visita ao Parque, Salazar não gostou de ver o recinto com a bancada e mandou demolir tudo”, recorda.
Antes da revolução do 25 de Abril de 1974 o clube teve um período conturbado, mas após a revolução voltou a ganhar dinâmica. “Além da juventude local, houve um grande afluxo das antigas colónias, principalmente de Moçambique, pessoas que vinham com hábitos muito enraizados de prática desportiva”, recorda Mário Tavares.
Neste período o clube desenvolveu as mais diversas modalidades, o que deu ao Sporting das Caldas uma identidade muito ligada ao ecletismo.
Esse período sofreu uma nova mudança com o virar do milénio. “Atinge-se um nível em que depois se exige cada vez mais, mas essa exigência por vezes tem efeitos negativos”, observa Mário Tavares. O sócio número 1 lamenta que, actualmente, o clube tenha apenas uma modalidade: o voleibol.
Com uma longa ligação aos órgãos sociais do clube, Mário Tavares diz que está a chegar a hora de encerrar o seu trabalho e dar início a um novo ciclo, a partir do próximo mandato.
É assim a vida de um clube, gerações como as de Clara Gil e Mário Tavares que se cruzam e uma história que se constrói. No final do encontro, o sócio mais antigo ofereceu à benjamim um cachecol do clube, o que a deixou bastante feliz. E a jovem promete que sempre que o Sporting das Caldas defronte o de Portugal, vai torcer pelo das Caldas.

“É a altura ideal para reflectirmos o futuro do clube”

Mário Pedro, actual presidente, pretende reaproximar do clube pessoas que foram importantes no seu passado

Mário Pedro, presidente da Comissão Administrativa do Sporting Clube das Caldas, diz que o centenário é o momento ideal para reflectir se a actual estrutura do clube está adequada para enfrentar os próximos 100 anos.
No próximo dia 25 de Janeiro realiza-se o jantar de aniversário, que tem como objectivo juntar várias gerações de atletas e dirigentes, a quem Mário Pedro apela para que estejam presentes. Com o evento pretende-se reaproximar essas pessoas do clube e ter um momento para iniciar essa discussão do futuro de um clube “que tem um papel muito importante no desenvolvimento do desporto nas Caldas”, afirma.
O dirigente diz que “é muito importante que o Sp. Caldas se preserve, que esteja aberto à sociedade e que esta interação connosco”. Porém, o actual presidente refere que o processo de reaproximação com antigos atletas e dirigentes não é fácil, porque encontra “pessoas que saíram até com alguma mágoa”.
A Comissão Administrativa pretende assinalar o centenário em vários momentos distintos “evidenciando as modalidades que o clube já teve”, refere Mário Pedro. As comemorações encerram com uma gala a 16 de Maio, na qual serão homenageadas várias pessoas que tiveram um papel importante na história do clube.

Recordando Luiz Teixeira, o primeiro presidente

Luiz Augusto Teixeira – jornalista de reconhecido mérito e talentoso homem de letras –, nasceu nas Caldas da Rainha, a 3 de Novembro de 1904. Feitos os estudos primários na terra natal, foi em Coimbra que completou o curso secundário. Foi o primeiro presidente do Sporting Clube das Caldas.
Iniciou-se no jornalismo escrevendo sobre desporto, em escritos de opinião, na primeira série da Gazeta (1922) e no Desportivo (1925).
Esteve na fundação da Gazeta das Caldas, onde se estreou, colaborando no primeiro número, em 1 de Outubro de 1925, com um artigo na secção de desporto, titulado “Caldas – Sporting”.
O caldense não tinha, ainda, completado 21 anos, e já estava a trabalhar em Lisboa, na redacção do diário a Época; de onde transitou, no ano imediato, para O Século. Decorridos dois anos, ingressou no Diário de Notícias, que seria, para sempre, “a sua casa” em termos profissionais.
Escritor de vasta obra publicada, foi distinguido com os prémios nacionais “Ramalho Ortigão” (1938) e “Afonso de Bragança” (1939 e 1945). Nunca deixou, porém, de se preocupar com os amigos de infância, nem com o progresso da terra natal – a sua Pequena Pátria (1957) – como deu nome a um conjunto de textos, sobre alguns aspectos, mais significativos da realidade caldense.
Foi também o principal impulsionador da Biblioteca Pública, hoje Municipal.
A Câmara Municipal das Caldas da Rainha criou, em sua honra, o “Prémio Jovem Literário Luiz Teixeira”, que contou várias edições.
Não tinha feitos 20 anos, era o Presidente do Sporting Clube das Caldas, sabendo perfeitamente qual o caminho a trilhar, para que a novel colectividade se consolidasse e se afirmasse no meio sócio-desportivo local. Luiz Teixeira possuía um carácter nobre, que o tornava bastante apreciado: Era Presidente do Sporting, mas também associado do rival Caldas – um dos sócios de mais alto mérito e valor pessoal, dizia O Desportivo, na edição de 15 de Janeiro de 1925.
Luiz Teixeira foi um dos principais obreiros do nascimento desta prestigiosa colectividade caldense, cuja existência se deve a alguns jovens que, um dia – nas suas mentes de meninos, ao romper de um novo ano – 1920, a sonharam, fizeram que nascesse e lutaram para que permanecesse.

Excertos de um texto de Mário Tavares

 

Um século de história

1920 – Data de fundação do Caldas Sporting Clube, quedará lugar ao Sporting Clube das Caldas. Luiz Teixeira é o primeiro presidente. Torna-se a 22ª filial do clube de Alvalade

1925 – Torna-se um dos sócios-fundadores da Associação de Futebol de Leiria

1935 – Campeão distrital de futebol

1967 – Campeão nacional da 2ª Divisão de basquetebol e da 3ª Divisão de ténis de mesa

1968 – Campeão nacional da 2ª Divisão de ténis de mesa

1982 – Recebe o estatuto de utilidade pública desportiva Primeira edição do Caldas-Badajoz em cicloturismo

1987 – Terceiro lugar na 1ª Divisão de ténis de mesa, a melhor classificação de sempre, repetida em mais quatro ocasiões

1988 – Primeira de cinco participações nas competições europeias de ténis de mesa, na Taça Nancy Evans

1995 – Campeão regional de voleibol

1996 – Campeão nacional da 2ª Divisão de basquetebol e da 3ª Divisão de ténis de mesa

1999 – Subida à 1ª Divisão nacional de voleibol

2001 – Campeão nacional da Série A2 de voleibol

2013 – Os leões das Caldas terminam em 7º lugar na 1ª Divisão de voleibol, a melhor classificação de sempre do clube

2018 – Participa, pela primeira vez na história, na Taça Challenge de voleibol