As Concelhias das Caldas e de Óbidos do PCP criticam o atraso nas dragagens e consideram “inaceitável” a continuada falta de resposta por parte do governo
Numa ação conjunta, os responsáveis comunistas dos concelhos confinantes com a Lagoa de Óbidos denunciaram que os planos prometidos de desassoreamento “têm sido marcados pelo protelamento e dilação”. Lembram que o ministro do Ambiente previu o início da segunda fase de dragagens em setembro/outubro de 2019 e que só em outubro do ano seguinte é que foi feito o contrato de adjudicação e posteriormente remetido ao Tribunal de Contas, sem que ainda tenham começado.
Com encontro marcado num terreno junto ao Penedo Furado, o caldense José Carlos Faria lembrou os erros da primeira fase de assoreamento, apontando para os dragados retirados do corpo da lagoa e cujos montes continuam “colocados indevidamente” junto às margens. “Grande parte das areias já foram devolvidas à água por efeito dos ventos e das marés”, referiu, acrescentando que há zonas onde já se regista uma deficiente oxigenação das águas, pondo em causa as espécies que ali existem.
Problemas como o assoreamento, a poluição e a falta de classificação da Lagoa foram denunciados pelo PCP
Os comunistas apontam ainda outro “grave problema”, o da poluição, que ameaça a Lagoa e que volta a não ser contemplado. Dizem que a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) subestima a questão e garantem que há “presença de metais pesados, nomeadamente crómio” particularmente no Braço da Barrosa. “A continuada falta de resposta por parte do governo é inaceitável e merece por parte do PCP, uma crítica veemente e frontal”, disse José Carlos Faria, acrescentando que o partido irá bater-se pela resolução dos problemas. Também o deputado municipal caldense, Vítor Fernandes, mostrou a sua preocupação com o futuro daquele ecossistema, defendendo a classificação da Lagoa a Área de Paisagem Protegida de âmbito Regional.
O dirigente considera que a candidatura não avança por “falta de vontade” das Câmaras das Caldas e de Óbidos, “que não o têm dado seguimento ao processo por interesses ligados ao imobiliário”.
José Rui Raposo, representante da concelhia de Óbidos, comparou o problema da Lagoa ao da Linha do Oeste, que só se resolveu no “dia em que houve uma demonstração de empenho das populações”, com uma manifestação junto ao ministério das Infraestruturas. O dirigente comunista lembrou os empreendimentos turísticos, “alguns deles abandonados”, que foram feitos na margem sul e graças à classificação de PIN (Plano do Interesse Nacional), no governo de José Sócrates e falou da “falta de vontade política” para resolver as várias situações.
Estes responsáveis dizem que “não se pode esperar mais” e garantem que farão tudo o que estiver ao seu alcance, nomeadamente levando o assunto à Assembleia da República, e admitem outras formas de luta, que podem passar por manifestações. ■
Obra das dragagens não arrancou a 1 abril
Como muitos dos nossos leitores ter-se-ão apercebido a notícia publicada na edição de 1 de abril, que dava conta do início das dragagens nesse dia, e da presença de um representante do governo no local, era mentira. Realidade tem sido a preocupação mostrada por autarcas e membros da Assembleia Municipal relativamente aos atrasos nas dragagens. Na última reunião, realizada a 23 de março, o presidente da Junta de Freguesia da Foz do Arelho, alertou que a Lagoa “está a morrer” e que já se cansou de “esperar e olhar para o mar à espera do nada”, referindo-se à vinda da draga para começar o desassoreamento. O autarca convidou os membros da Assembleia Municipal visitar a Lagoa e recordou que, nos últimos três anos, fez oito intervenções e apresentou três moções para defesa daquele ecossistema.
O presidente da Câmara, Tinta Ferreira, disse estar na “linha da frente nas reclamações para que as dragagens da Lagoa de Óbidos sejam feitas o mais rápido possível” e explicou que a obra aguarda o visto do Tribunal de Contas.
O autarca reconheceu que a segunda fase deveria ter sido feita logo após a última intervenção, pois os canais abertos nessa altura já estão a ficar assoreados. “Vamos tentar ver se é possível canalizar alguma verba no sentido de desassorear outra vez estes canais, de forma a que a água possa circular”, disse o chefe do executivo municipal, que, no dia seguinte visitou a Lagoa, acompanhado pelo presidente da junta e alguns mariscadores. ■