Pedro Bento foi para França e subiu na vida… de elevador!

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Pedro Bento fundou a Ascensores do Oeste há quase 30 anos

Pedro Bento, de Alguber, saiu de Portugal com 20 anos, quando já trabalhava com elevadores em Lisboa. Foi para Paris, onde manteve a actividade até abrir a sua própria empresa de elevadores. Em 1990 decidiu regressar a Portugal e montar a sua empresa nas Caldas da Rainha, a Ascensores do Oeste, que ainda hoje está sedeada no mesmo local.

Pedro Bento nasceu no dia de São Pedro, a 16 de Julho de 1948. Natural de Alguber, aldeia do concelho do Cadaval onde fez a 4ª classe, numa escola cujo edifício ainda hoje existe, mas que já não funciona enquanto tal.
Mal terminou a escola, este cadavalense foi para Lisboa iniciar a sua vida profissional. O primeiro trabalho foi como merceeiro numa loja na Avenida Duque de Loulé.
Seguiu-se, ainda com 14 anos, a primeira experiência a trabalhar com elevadores. Enquanto ajudante, auxiliava na montagem e manutenção das máquinas e assim ia aprendendo o ofício. “A formação era a trabalhar, não era como agora, antigamente não havia formação”, realça. Durante cerca de seis anos esta foi a sua vida, com trabalhos um pouco por toda a capital. Foi lá que conheceu aquela que viria a ser a sua esposa, Maria Bento, que é natural da Covilhã.
Ambos trabalhavam em Lisboa e até tinham um bom ordenado, mas quando Pedro fez 20 anos, decidiu ir com o irmão mais velho para França. Não conhecia quase ninguém lá, nem tinha amizades por terras gaulesas.
Corria o ano de 68 quando o cadavalense tirou o passaporte de turista e foi de autocarro, directamente para Paris, numa viagem que durou mais de um dia e que até não foi complicada. “Ia a ver coisas que nunca tinha visto, foi quase um passeio”, lembra. “A minha mulher ficou cá e foi três ou quatro meses mais tarde, também de autocarro, e já com tudo tratado, com passaporte, que era fácil quando se tinha um contrato de trabalho”, contou Pedro Bento.
Mal chegou a França, à zona de Paris, pensou “apanho a próxima camionete e volto já, porque tinha chegado a um país novo, não falava a língua e não tinha ninguém à minha espera, é difícil”. A sorte foi que não havia logo autocarro de volta. Acabou por não voltar tão cedo e rapidamente encontrou trabalho na sua área: os elevadores, numa multinacional que empregava mais de 1500 pessoas naquele país. “Não faltava trabalho para quem quisesse trabalhar e a comunidade portuguesa era bem vista lá”, recorda.
Em Paris, já com experiência, não passou pela posição de ajudante. “Já sabia o ABC da profissão”, conta. O foco eram elevadores em prédios de habitação, escritórios e outros edifícios. Além de elevadores, também montavam escadas rolantes.
Rapidamente aprendeu o francês e também não teve grandes problemas em termos gastronómicos, uma vez que em casa sempre comeu comida tradicional portuguesa.
Em terras gaulesas encontrou uma comunidade portuguesa muito unida. “Encontrávamo-nos, líamos aos jornais e nos fins-de-semana juntávamo-nos, fiz lá boas amizades e foram bons tempos”, lembra Pedro Bento.
Foi em França que nasceram os dois filhos: Francisco, primeiro e Teresa depois.
Em 1977 comprou a casa onde a família já vivia em Paris e no ano seguinte, ao fim de dez anos na mesma empresa, tornou-se responsável por dar formação aos jovens que entravam.
“Vivi sempre muito bem em França e se alguma coisa se fez, agradeço à França, que é um país excepcional. Hoje em Portugal também se vive bem, mas naquela altura França foi a chave para muita gente pois nessa altura Portugal era a miséria”, disse. Pedro Bento compara essa fase com o cenário durante o último pedido de ajuda externa. “Foi quase a mesma coisa que há uns anos, quando o Passos Coelho disse aos jovens para irem para o estrangeiro”, referiu.
Em 1983 decide criar a sua própria empresa, utilizando o seu nome (Pedro Bento SARL.) e empregando 15 funcionários, alguns dos quais portugueses. Trabalhava então por conta própria, mas tendo como empresa-mãe a firma onde havia trabalhado anteriormente.
Em 1990 decide vender a casa e regressar a Portugal. “Sou português…”, resume. Nessa altura o filho mais velho, Francisco, já tinha 18 anos e era quase uma última oportunidade de regressar e trazer os filhos pois senão estes já não quereriam vir. Teresa, a filha mais nova, tinha então 13 anos. “Vim com 40 anos e não vim para ganhar a reforma em Portugal, ainda vim para trabalhar”, nota.
Durante o tempo que esteve em França vinha a Portugal várias vezes, mas o oposto não sucede com tanta frequência, até porque muitos dos amigos que fez em França já voltaram para Portugal. “Quando tinha um bocadinho vinha cá, de carro ou de avião”, conta.
Quando chegou a Portugal regressou à sua aldeia, mas no ano seguinte decidiu montar a empresa nas Caldas. “Apesar de ser do concelho vizinho e de um distrito diferente, decidi abrir a empresa nas Caldas, que era a cidade mais próxima”, contou.
Abriu então a Ascensores do Oeste em 1991, logo naquela zona onde ainda hoje está sedeada, entre o Hotel Lisbonense e o cemitério, na Rua Belchior de Matos.
Durante as últimas três décadas tem feito crescer a sua empresa que já recebeu sete prémios PME Excelência e que emprega actualmente 20 pessoas. Os filhos do empresário – formados em Gestão e em Economia – são seus sócios na firma que se lançou nos últimos anos num novo mercado: as plataformas elevatórias de estacionamento, também chamadas de garagens automáticas. Já montaram mais de 500 lugares em Lisboa, Porto e no Algarve.
Pedro Bento deu nas Caldas continuidade à vida que levava em França: os elevadores. Mas este é um negócio onde as pessoas só vêm o que menos trabalho dá, que é a caixa. A máquina está escondida. “Um elevador é um puzzle complexo, com muitas peças, que foi mudando completamente com o passar dos anos. Hoje já não tem nada a ver com quando comecei. A máquina é mais pequena. Antigamente era uma casa e agora é um armário com 40 centímetros por 40, são coisas completamente diferentes, antigamente trabalhávamos com grandes formatos e agora com miniaturas”. As máquinas antigas tinham engrenagens e levavam óleo, as actuais trabalham com ímanes e não necessitam de óleo.
Hoje, apesar de reformado, Pedro Bento continua a deslocar-se todos os dias de Alguber para as Caldas, para o seu escritório, abrindo as portas às 8h00.