O estudo Peniche Seabird Count, que três ornitólogos estão a realizar desde Agosto até Novembro, já contabilizou a passagem de mais de 76 mil aves migratórias pela costa portuguesa. Este é o primeiro ano de um trabalho que os organizadores pretendem manter nos próximos anos e que pode contribuir para divulgar o Oeste como destino turístico de observação de aves.
Os resultados têm excedido as expectactivas. Ainda com mais de um mês para a conclusão das observações, já foram contadas mais de 76 mil aves. O episódio mais inesperado aconteceu a 16 de Setembro, dia durante o qual foram contabilizadas 13 pardelas sombrias, com um fluxo de mil aves por hora. A espécie mais avistada é o ganso patola, que ultrapassa as 29 mil espécimes. Já foram contadas cerca de 50 espécies diferentes.
Estas aves vêm das ilhas britânicas, Irlanda, Escandinávia, Tundra Russa e Gronelândia.
O projecto começou com uma observação espontânea de Hélder Cardoso, ornitólogo que reside na Amoreira, no Cabo Carvoeiro em 2012. Ali encontrou aqueles que são os dois parceiros no projecto: os suecos Erik Hirschfeld e Johan Elmberg. “Estavam de passagem por Portugal, ficaram uma semana e acabámos por publicar um artigo numa revista científica, em 2013, com os dados que recolhemos”, conta Hélder Cardoso.
Desse estudo até este projecto mais alargado foi um passo. “Surgiu ideia de fazer amostragem mais alargada no tempo e mais consistente”, continuou.
O tema do estudo é a influência das condições atmosféricas na migração de aves marinhas, tendo em conta que a costa portuguesa – e o Cabo Carvoeiro em particular, por ser o ponto mais a oeste da Europa – é um local importante de passagem para estas aves. “Não há muitas publicações de informação sobre o que se passa na costa portuguesa e porque é que Portugal assume uma importância tão grande nestas migrações”, refere o ornitólogo.
O estudo está a decorrer desde 15 Agosto até 15 de Novembro, época do principal fluxo migratório das espécies que percorrem a nossa costa. São três horas de observação diária de manhã, mais outras três ao fim da tarde. Um vez por semana a observação é feita durante todo o dia, “para calibrar o modelo de análise”, explica Hélder Cardoso.
A observação está garantida por uma equipa de 30 voluntários que se vão revezando em equipas de pelo menos dois. Vêm principalmente da Suécia, mas também de Inglaterra, Suíça e Luxemburgo.
O projecto tem ainda como objectivo promover o Oeste enquanto destino de observação de aves marinhas, através da presença em publicações ornitológicas.
Os voluntários também dão nisto uma ajuda, já que alguns deles são jornalistas da área.
O projecto conseguiu reunir alguns apoios importantes, nomeadamente da alemã Leica Optics, que proporcionou dois telescópios para a observação, do município de Peniche, que disponibilizou um apartamento para alojar os voluntários, e do Turismo do Centro, que ofereceu as passagens aéreas aos voluntários que permanecessem na região durante mais de duas semanas.
“Conseguimos fazer o projecto este primeiro ano sem apoio monetário, no futuro provavelmente vamos precisar de nos candidatarmos a alguns fundos, que mais não seja para cobrir despesas correntes dos voluntários, como alimentação”, diz Hélder Cardoso.
E há vantagens em repetir o estudo nos próximos anos, acredita o ornitólogo. Por um lado é a promoção turística que se acentua. Por outro permite fazer a catalogação da evolução de algumas espécies ameaçadas, como a pardela balear. “Toda a população passa aqui depois de fazer a muda de penas no Golfo da Biscaia e podemos perceber se a população está a crescer ou decrescer de ano para ano”, explica.
Turismo ornitológico, um mercado por explorar
Mas o Oeste não é só um bom destino de observação de aves no que à costa diz respeito. Hélder Cardoso, que observa aves desde os 11 anos de idade e tem dedicado a carreira a esta actividade, sublinha que o Oeste é um destino bastante completo e que é preciso apostar na divulgação.
Para além das aves marinhas, é possível observar aves aquáticas na Lagoa de Óbidos, aves de montanha nas serras de Montejunto e Candeeiros, e aves agrícolas nos campos. Tudo isto num raio bastante reduzido.
A Lagoa de Óbidos é um ecossistema apelativo também para aves aquáticas migratórias. “Podemos mostrar aos turistas espécies na nossa fauna mais mediterrânica que vivem nos caniçais, como o caimão, a garça vermelha”, descreve Hélder Cardoso. E outras que vêm de passagem, ou mesmo passar o Inverno. O flamingo é uma dessas aves. “Têm visitado a lagoa nos últimos anos, já cheguei a registar 162 num ano, este ano o grupo tem cerca de 40”, acrescenta.
A organização de tours seria uma forma de aproveitar este potencial, assim como a promoção em feiras e revistas da especialidade. Hélder Cardoso acredita ainda que é possível juntar o potencial ornitológico ao turismo desportivo, como o golfe e o surf.