“Uma pessoa muito à frente para a sua época” – faleceu o padre Manuel Vitorino

0
1188

O padre Manuel Vitorino, que foi professor na Escola do Magistério Primário das Caldas, na Escola Bordalo Pinheiro e pároco dos Vidais e São Gregório da Fanadia durante 15 anos, faleceu no Hospital São José, no passado dia 20 de Março.
Nascido no Porto, em 1941, Manuel Vitorino tornou-se padre jovem, com 24 anos. A sua jovialidade foi, à época, um dos factores de ligação com as populações caldenses.
Em conversa com Gazeta das Caldas, Natércia Tempero, que hoje é secretária da Assembleia Municipal, recorda com saudade o padre que a casou nos Vidais há 42 anos. “Eu era uma jovem de 17 anos e lembro-me que o padre era uma pessoa muito simpática, agregadora de multidões, especialmente jovens, era uma pessoa muito à frente para a sua altura e de quem toda a gente gostava”, contou.
O padre, que chegou em 1969 e partiu em 1984, trouxe mudanças à freguesia dos Vidais, onde anteriormente existia “um padre à antiga, a quem tínhamos de beijar a mão”. É também no tempo dele que se conclui a construção da igreja.

Além de excursões religiosas, Manuel Vitorino organizava passeios culturais e na sua altura cantava-se muito na igreja. “Numa fase pós 25 de Abril cantávamos também músicas de intervenção”, fez notar Natércia Tempero, realçando que o padre era uma pessoa dinâmica, que conseguiu desenvolver o desporto da localidade e envolver a maioria dos jovens na vida paroquial.
Também dos Vidais, Hernâni Silva, professor aposentado, confirma que Manuel Vitorino era um pároco dinâmico “que conseguiu cativar muitos jovens para a Igreja e levar as pessoas dos Vidais a encherem as missas, por isso reconheço-lhe grande mérito”. Hernâni Silva descreve-o como alguém que não passava despercebido, que “se fazia notar porque tinha o dom da palavra”. Com um discurso fácil e simples, Manuel Vitorino mostrava nas suas conversas ser uma pessoa “culta e desenvolvida”.

“UM COLEGA DE TRABALHO ESPECTACULAR”

- publicidade -

Já Idalina Lameiras foi professora na Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro na mesma altura que Manuel Vitorino ali dava aulas de História. “Ele era um colega de trabalho espectacular, uma pessoa muito humana e amigo do seu amigo”, disse a especialista em bordados das Caldas.
Numa altura em que Idalina Lameiras perdeu um filho e viveu um dos períodos mais difíceis da sua vida, Manuel Vitorino foi uma das pessoas que mais a ajudou emocionalmente: “há frases que me disse que eu nunca mais esqueci e que na altura incentivaram-me a ter mais coragem”.
Idalina Lameiras recorda que o padre era alguém que tratava todas as pessoas por igual, sem qualquer discriminização. A própria o testemunhou por várias vezes. “Uma vez fomos lanchar à pastelaria Machado e ele disse-me que pagava o lanche. Mas o empregado da altura chegou-se à frente para nos pagar a conta, num gesto de agradecimento ao padre que lhe tinha baptizado o seu afilhado cigano”, contou.
Leonel Cardoso também foi colega de Manuel Vitorino, mas na Escola do Magistério Primário onde este era professor de Educação Musical. “Ele dava-se bem com os alunos, era uma excelente pessoa e sabia falar sobre qualquer assunto”, contou Leonel Cardoso, realçando que Manuel Vitorino não era um padre tradicional, pois tinha uma mentalidade muito mais aberta em relação à Igreja. “Acima de tudo, ele foi um homem como outro qualquer que conheceu a vida como ela é”, acrescentou.
Manuel Vitorino começou o mais de meio século de sacerdócio na Amadora e depois dos Vidais passou por Benfica, Cruz Quebrada e Beato.

- publicidade -