Miguel Raposo Magalhães diz que o fenómeno está circunscrito em Portugal, mas que “vai crescer nas autárquicas, roubando votos a todos os partidos”. E que ainda que há “tribalismo”na política lusa
Por enquanto, em Portugal, o populismo “é um fenómeno circunscrito, mas que tem tendência a crescer”, considera Miguel Raposo Magalhães, que proferiu a palestra sobre Populismo e Cidadania na Casa da Música, em Óbidos, a 5 de agosto, integrada na programação da Semana Internacional do Piano de Óbidos (SIPO).
O orador, que vive em Alcobaça e trabalhou durante 25 anos para a União Europeia, crê que o crescimento do populismo se vai constatar nas eleições autárquicas, dado que partidos como o Chega “vão caçar votos em muitos lados em todos os partidos”.
Na opinião deste especialista, não vale a pena “diabolizar” os eleitores que escolhem este tipo de representação, pois eles vão continuar a existir e a demonstrar o seu descontentamento com o sistema político. “Não me admirava que o Chega conseguisse eleger mais gente nas próximas eleições”, advoga.
De resto, o crescimento do populismo na Europa é algo que preocupa o orador, que lamenta o que se passa em países como a Hungria “onde há um governo autoritário que limita as liberdades dos cidadãos e que aldraba as eleições”. “É um fenómeno triste e que se encontra em ascensão….”, sublinha.
Já em relação à cidadania, o convidado da SIPO considera um bom sinal que haja candidatos às autarquias oriundos da sociedade civil e lamentou a tentativa de PS e PSD de tentar cercear essas candidaturas, dando-lhes regras diferentes. “Tinham o argumento extraordinário de que as pessoas dos movimentos não eram independentes, pois integravam muitos dissidentes dos partidos políticos”, salienta. Considera por isso que na politica portuguesa ainda há “imenso tribalismo” e atitudes do género “ele (ou ela) era do nosso clube e agora traiu-nos”.
Para o orador ainda há um certo “tribalismo” na política portuguesa, nacional e local. E quem integra movimentos é alguém que traiu o “clube”
Obra para Arte Antiga
Miguel Raposo Magalhães integra grupos de cidadãos como os grupos de amigos de vários museus nacionais. Num deles, referente ao que apoia o Museu de Arte Antiga, o grupo adquiriu recentemente uma obra (uma natureza morta) do obidense Baltazar Gomes Figueira que surgiu à venda numa leiloeira e que vai integrar a coleção do museu.
“É um artista de Óbidos, pai de Josefa de Óbidos, que acabou por ser mais conhecida que o pai”, revelou Miguel Raposo Magalhães, salientando o facto de as mulheres artistas como Josefa, além do seu talento, contaram com o apoio dos pais, para conseguirem singrar.
O orador apresentou outros bons exemplos de cidadania: a Academia do Johnson, criada por João Semedo que teve um passado difícil na Cova da Moura e que hoje acompanha crianças e jovens de meios familiares e sociais fragilizados. O orador apresentou também a mozclothes, uma marca solidária que auxilia a população de Moçambique através da venda de roupa como t-shirts, nas quais são aplicados tecidos africanos. ■