Praça da Fruta precisa mais do que da “regeneração”

0
648
Gazeta das Caldas
- publicidade -

DSC_0277Parece concluir-se como indesmentível que a praça da fruta das Caldas da Rainha é a única a céu aberto que funciona diariamente no nosso país, reunindo maioritariamente produtos vendidos pelos seus produtores ou, pelo menos, produzidos na região.
É um ponto forte, mas que precisa de ser vincado e afirmado à saciedade. O marketing é importante para que o facto seja conhecido por mais gente.
Se há 50 anos o dia mais forte para os vendedores era a segunda-feira, quando a população rural vinha fazer as suas compras ao mercado semanal, desde há alguns anos o dia de maior movimento da praça é o sábado. O domingo também é um dia importante pois atrai muitos compradores de outras localidades e mesmo os residentes nas Caldas que trabalham durante a semana. Mas podia atrair muito mais gente, neste e nos restantes dias.
Há mais de uma década, no vizinho concelho de Óbidos, muita gente estranhou a prioridade que estava a ser dada pela autarquia para a criação de vastos parques de estacionamento nos espaços adjacentes ao velho burgo.
Hoje existem parques para mais de um milhar de viaturas, não esquecendo um parque especial para os autocarros de turismo, próximo do alvo das visitas – o próprio castelo.
Presentemente, em muitos dias da semana, com  realce especial para os fins de semana e quando há eventos, os parques de estacionamento encontram-se esgotados e conduzem à vila milhares de pessoas. É discutível esta prioridade de uma certa massificação dos visitantes, mas mesmo assim foram criados na vila algumas centenas de empregos, apesar de uma relativa desertificação de residentes no interior do castelo. É um assunto a estudar, mas é melhor assim do que nada. Para já…
Nas Caldas da Rainha o problema do estacionamento nunca foi encarado de forma estratégica e como forma de atrair e captar visitantes.
Há anos dizia-se que os parques de estacionamento subterrâneos não eram necessários e até eram inviáveis. Depois construíram-se três parques, mas escolheram a localização pensando mais do lado da oferta do que da procura.
O estacionamento pago à superfície também foi abandonado, impedido que se faça uma rotação dos automóveis no centro mais adequada ao mercado (quem der uma volta pela região verifica que em todo o lado se segue esta modalidade de controle do trânsito, salvo nas Caldas).
O centro histórico, onde se situam os dois polos de atracção de visitantes da cidade – a praça da fruta e o parque – são as zonas urbanas mais desprotegidas neste domínio do estacionamento.
Será sempre e cada vez mais discutível se as cidades devem ser prioritariamente utilizadas pelos automóveis ou se pelo trânsito pedonal e ciclista (este nas Caldas não tem qualquer importância).
Fazer rupturas drásticas, retirando o estacionamento dessas partes das cidades, por vezes corre mal. Veja-se o exemplo de Alcobaça, em que há dez anos tiraram o trânsito e o estacionamento da zona fronteira ao Mosteiro e se alguns acharam muito bonito, o resultado foi a desertificação daquela parte da cidade ao longo do ano e a eliminação de inúmeros estabelecimentos comerciais e postos de trabalho, sem qualquer contrapartida. Vários estabelecimentos comerciais fechados no centro de Alcobaça.
Nas Caldas parece que se está a brincar com estas coisas e não se percebe o que é evidente. Um dos problemas que mais afecta quem vem ao mercado e ao parque, é o estacionamento fácil e cómodo ou a falta dele.
No tempo próprio dissemos que havia sido um erro não fazer um parque subterrâneo na Praça da Fruta, uma decisão estratégica para quem pensa a vários anos. Podem encontrar-se bons exemplos por essa Europa fora onde se fazem mercados ao ar livre.
Mas ainda mais grave, e só resultado de uma insensibilidade ou desatenção grande, é que junto ao mercado há um razoável parque de estacionamento sem qualquer automóvel ao fim de semana e que só por incapacidade de diálogo e de compreensão não é devidamente utilizado nestes dias.
Trata-se do parque de estacionamento dos funcionários do Centro Hospitalar que permanece pornograficamente vazio quando dezenas ou centenas de pessoas procuram um pobre lugar de estacionamento. Nos dois dias que a cidade e o mercado atraem mais gente, a burocracia ou a incapacidade de diálogo, impedem que a cidade seja mais acolhedora e ajude a resolver o problema daqueles que cá vêm.
Há dias “destruíram” mais duas dezenas de lugares de estacionamento, e bem, no largo do Hospital Termal, mas o que deram em troca aos visitantes? A não ser que não queiram mesmo que eles venham…
Uma nota final. Contra o que vinha acontecendo nos últimos anos, nota-se um re-ganho de turistas estrangeiros nas Caldas da Rainha durante o dia e a noite. Lisboa está a abarrotar de estrangeiros e muitos começam a demandar outras paragens no país. As Caldas da Rainha sem qualquer promoção que mereça esse nome (ignorada nos principais guias turísticos internacionais, por falta de acção das autoridades locais bem como da putativa “região de turismo” do Centro, junto dos seus editores), está a conseguir captar outra vez turistas, com pouco para lhes oferecer. À noite as ruas estão obscurecidas pelo desmazelo dos responsáveis por essa obrigação básica, e mal sinalizadas, para além de faltar animação na maioria dos dias e estabelecimentos abertos.
Mesmo assim vêm, muitos deles graças às campanhas que os hotéis locais fazem e que depois se confrontam com a falta de competência ou de interesse dos locais em servi-los.
Certamente que a gente das Caldas está desatenta e está a ignorar as oportunidades que passam a seu lado.
Na cabeça de muitos responsáveis, o que é preciso é a “regeneração”…

PS – Não abordámos a questão dos contentores do lixo frente ao antigo edifício oitocentista dos Paços do Concelho substituídos na última semana. A solução escolhida não lembra ao mais céptico, pelo que só temos a concluir: está ao nível da Direcção Geral do Património e dos responsáveis urbanos locais. O tempo dará razão aos críticos, porque a solução escolhida não lembra ao mais inculto e descuidado técnico e envolve riscos desnecessários.

- publicidade -