Maria Rodrigues da Costa
Caldas da Rainha
24 anos
Skara – Suécia
Programa Erasmus Plus – traineeship for recent-graduates (no meu caso, Medicina Veterinária) na Swedish University of Agricultural Sciences, Department of Animal Environment and Health.
Percurso escolar:
EBI Sto. Onofre, Escola Secundária Raul Proença , Escola Secundária Rainha D. Leonor (Lisboa), Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Lisboa.
O que mais gosta do país onde vive?
A organização é uma das características que mais me fascina. Por aqui os transportes cumprem os horários e as pessoas raramente chegam atrasadas aos compromissos. As coisas são tão organizadas que a burocracia é mínima e os problemas se resolvem facilmente. Reservar um quarto no alojamento da faculdade foi uma tarefa incrivelmente simples e rapidíssima. Quase só tive que dizer quando cá chegava e que professor era o meu supervisor!
A forma como as pessoas se tratam umas às outras é outra coisa admirável. Aqui não há “Dr., Eng. ou Professor”, todos se tratam pelo primeiro nome e não é por isso que as pessoas não se respeitam umas às outras. No meio académico, os contactos são informais e directos: o que interessa é chegar ao cerne das questões.
O que menos aprecia?
Todas as pessoas são simpáticas e “prestáveis” q.b., mas falta-lhes a espontaneidade portuguesa! Provavelmente isto acontece porque estão demasiado habituados a ter tudo muito organizado…
De que é que tem mais saudades de Portugal?
Da comida, da minha família, dos meus amigos… dos meus cães e do meu gato! Quando vivemos num país diferente, as nossas rotinas alteram-se e há vários hábitos que deixam de existir: almoços de família aos fins-de-semana, idas ao cinema com os amigos, entre outros. Há muita coisa nova a acontecer e no dia-a-dia podemos ser engolidos pelas novas rotinas, mas a verdade é que, no final do dia, bate sempre a saudade das pessoas e animais que deixámos em Portugal.
A sua vida vai continuar por aí ou espera regressar?
O objectivo é passar os próximos anos fora de Portugal, mesmo que não seja na Suécia. Nesta fase em que estou – início de carreira – quero descobrir o caminho a seguir nos próximos anos. Tenho tido contacto com várias pessoas que desenvolvem investigação na área do bem-estar animal e da epidemiologia veterinária e esta é uma área em grande desenvolvimento, particularmente nos países nórdicos. Com sorte, e se as coisas correrem bem por aqui, pode ser que surjam oportunidades interessantes.
“Quando passeio pela secção de legumes do supermercado, há sempre um suspiro pelos sábados de manhã na Praça das Caldas!”
Skara é uma cidade muito pequena que fica a cerca de três horas de Estocolmo e a hora e meia de Gotemburgo. Nos meses mais frios do ano, Janeiro e Fevereiro, as temperaturas médias rondam os -5 graus e raramente chegam abaixo de -15. A neve não incomoda particularmente pois estão todos muito habituados a lidar com ela, e até ajuda a dar mais luz aos dias cinzentos. A cidade ganha vida no Verão com a abertura de um parque aquático e com percursos pedestres e actividades ao ar livre nas redondezas e perto do maior lago da Suécia, o lago Vänern. A diferença entre o Verão e o Inverno é enorme: no solstício de Inverno há apenas cerca de seis horas de luz e no solstício de Verão há 18 horas de luz num dia.
No Verão é costume as pessoas saírem mais cedo do trabalho para aproveitar as horas de Sol, passear, pescar ou andar de bicicleta. Dá-se muita importância ao lazer nesta época do ano, mas não só. Em geral, durante o ano, os horários de trabalho são flexíveis e há pausas para café (passam a vida a bebê-lo!) e convívio de manhã e à tarde. Penso que a grande diferença em relação aos portugueses é que, quando os suecos estão a trabalhar, ouve-se… o silêncio. Nas primeiras semanas de trabalho, cheguei a achar que estava sozinha no edifício – silêncio absoluto nos períodos de trabalho!
Skara tem um dos pólos da SLU (Swedish University of Agricultural Sciences) e uma grande tradição em medicina veterinária. Foi aqui que um aluno de Lineu, Peter Hernqvist, deu os primeiros passos nesta área e fundou a primeira escola de medicina veterinária da Suécia. Nos últimos anos, os cursos aqui leccionados têm sido transferidos para Uppsala, onde fica outro pólo da universidade, deixando apenas um pólo de investigação, onde estou a trabalhar.
Neste momento estou a participar num projecto que visa analisar os controlos de bem-estar animal feitos da Suécia entre 2010 e 2013. Estes controlos podem ser feitos nas explorações, no transporte de animais, ou mesmo no matadouro e pretendem verificar o cumprimento da legislação em matéria de bem-estar animal, seja ela europeia ou sueca (esta muitas vezes mais estrita do que a legislação europeia). O objectivo é encontrar padrões nos dados que permitam inferir informações sobre os principais problemas de bem-estar nos locais de controlo.
De todos os aspectos da “vida sueca”, o que me tem feito mais confusão é a adaptação aos horários. Aqui prefere-se levantar muito cedo (não é raro encontrar lojas ou serviços da universidade que abram às 7h00) e sair cedo do trabalho. Se tento ir ao supermercado local às 18h00, é comum encontrar as ruas desertas e todas as lojas pequenas fechadas.
Outra particularidade a que achei muita graça é a moda dos sapatos no hall das casas. A neve e a lama são uma constante no Inverno sueco e, por isso, todas as pessoas tiram os sapatos assim que chegam a casa, deixam-nos no hall de entrada, e andam de meias ou chinelos. Isto é válido também para convidados: ou calçam as pantufas e os chinelos que haja disponíveis para hóspedes, ou andam de meias. Este hábito também é reproduzido no local de trabalho: a maioria dos professores e investigadores tem chinelos nos gabinetes e calçam-nos assim que chegam aos gabinetes. Em relação ao consumismo, há por estes lados umas lojas muito populares: lojas de coisas em segundo mão. Todas as terras têm pelo menos uma e vendem todo o tipo de coisas, desde utensílios de cozinha (batedeiras, máquinas de café, liquidificadores…) até sapatos e roupa. As coisas são de boa qualidade e têm preços muito acessíveis. Foi aqui que encontrei uma varinha mágica barata para poder fazer sopa e enganar as saudades de casa.
No supermercado as coisas não são extraordinariamente mais caras. A grande diferença de preços é mesmo nos vegetais, frutas e legumes. Em geral, são todos importados, caros e, como é o caso dos tomates, não sabem a quase nada. Por outro lado, há uma grande variedade de produtos “biológicos” e “orgânicos” que têm outra qualidade, mas que são mais caros ainda. Quando passeio pela secção de legumes do supermercado, há sempre um suspiro pelos sábados de manhã na Praça das Caldas!
Maria Rodrigues da Costa