
Almerinda Frazão e Helena Loureiro são duas habitantes do Nadadouro que dinamizam a Rua das Arroteias com recriações de tradições antigas num pequeno terreno ali situado.
Até ao final do mês pode ser apreciado o tema das marchas populares, mas também já foram recriadas as lavadeiras do Nadadouro e o ambiente típico de uma taberna.
Este projecto informal existe há três anos e tem sido motivo de elogios por quem passa naquela rua. As duas responsáveis garantem: “fazemo-lo por gosto e por vontade de animar a terra porque lucro não temos, pelo contrário”.
No cruzamento entre a Rua dos Chãos e a Rua das Arroteias é frequente que os condutores abrandem a velocidade ou encostem o carro a um canto da estrada para apreciar os bonecos de dimensões humanas que embelezam o pequeno terreno ali situado.
Até ao final do mês de Junho estarão em exposição 11 bonecos que recriam a marcha popular das Arroteias. As meninas estão vestidas de saia azul turquesa e camisa branca, os meninos envergam um colete do mesmo azul e calça preta. Na cabeça levam um chapéu de plástico que os protege do mau tempo (não fosse este cruzamento um local muito ventoso) e nas mãos seguram os arcos enfeitados com flores. A “madrinha”, o elemento mais velho do grupo e o único que veste uma cor diferente, é a primeira da fila exibindo um conjunto lilás.
As árvores e os arbustos também estão decorados com flores de papel e atrás dos bonecos foi colocada uma barraquinha com telhado de palha onde se vendem os manjericos. Não há dúvida que o ambiente recriado nos transporta para as marchas populares.
Almerinda Frazão e Helena Loureiro são as responsáveis por esta iniciativa que começou há três anos. “Tivemos a ideia quando fomos numa excursão com os Caminheiros a La Codosera, em Badajoz, e vimos que as ruas estavam todas enfeitadas com bonecos à escala humana que recriavam temáticas típicas daquela província”, explica Helena Loureiro, 63 anos.
Tanto Helena como Almerinda moram na Rua das Arroteias e passam todos os dias pelo terreno que antes estava abandonado. “Decidimos fazer a primeira recriação de surpresa, sem avisar ninguém. Contactámos apenas a Junta para que limpasse o local que tinha muita vegetação”, conta Almerinda Frazão, 57 anos, acrescentando que o primeiro cenário elaborado foi um piquenique. “Os bonecos estavam tão realistas que muitas pessoas, assim de repente, pensavam que eram pessoas verdadeiras que ali tinham parado para fazer um piquenique”, acrescenta.
Segundo contam as responsáveis, muitos são os curiosos que param no local para observar os bonecos feitos à mão com material reciclado. Alguns aproveitam mesmo para tirar fotografias e “há já quem tenha enviado imagens para o estrangeiro”, asseguram.
Dar a conhecer antigas tradições
Ao longo dos três anos Almerinda e Helena já recriaram outros temas além das marchas populares e o piquenique, como as lavadeiras do Nadadouro, a taberna, os Maios e o presépio. Dizem que procuram dar a conhecer tradições antigas que em tempos foram típicas daquela terra. “No próximo mês vamos recriar uma aldeia, com muitas figuras, desta vez mais pequenas, que incluem o carro de bois, os cestos com ovos, os burros, os camponeses com carrinho de mão, etc.”, revela Helena Loureiro, adiantando que da colecção de bonecos fazem parte mais de 20 exemplares.
Para decorar o cenário com objectos alusivos à época Helena e Almerinda aproveitam a “tralha” que têm guardada em casa. “Não deito nada fora, tenho desde sapatos e roupa antiga a embalagens e garrafas de marcas que já nem existem, objectos velhos e utensílios que agora são muito úteis para montar as recriações”, explica Helena Loureiro. Durante as caminhadas também se encontram materiais interessantes que foram deitados ao lixo.
Se Helena tem mais habilidade para o bricolage e pintura, Almerinda tem dotes de costureira. Quando os dois talentos se juntam surgem recriações como a das Marchas das Arroteias. “Muitos dos nossos serões são passados a trabalhar neste projecto, às vezes juntamo-nos na minha casa, outras na dela”, diz Almerinda Frazão.
Expostos ao sol, à chuva e ao vento, os bonecos têm que ser resistentes às adversidades climatéricas e já houve casos em que necessitaram de alguma reparação. Só uma vez foi roubado um deles, que por azar vestia o babygrow do filho de Helena.
Na opinião das duas responsáveis era importante que “mais pessoas desenvolvessem iniciativas semelhantes pois é uma forma de alegrar a terra e o Nadadouro tem muitos recantos bonitos que precisam de ser dinamizados”.