As várias formas de combate ao desperdício alimentar estiveram em análise, nos dias 7 e 14 de Janeiro, em encontros promovidos pelo núcleo caldense da Refood. Hunter Halden, fundador deste movimento, considera que a educação é a solução para combater o desperdício alimentar. A iniciativa, contou com a participação de diversos especialistas e assinalou o primeiro aniversário do núcleo caldense, que presta apoio a 25 famílias.
Entre os desejos para este segundo ano de vida estão a angariação de mais voluntários e de uma sede própria, no centro da cidade.
Para Hunter Halden, fundador da Refood, as verdadeiras soluções para o desperdício alimentar passam pela educação, seja das crianças e dos jovens, como das famílias. Mas como isso leva muito tempo, “há necessidade de actuarmos já”, disse.
No colóquio que decorreu na Escola de Hotelaria e Turismo do Oeste, a 7 de Janeiro, o responsável salientou que deitar comida boa fora quando outras pessoas têm fome, é uma vergonha, um problema, mas também uma oportunidade. O movimento refood entra em campo quando o produto perde o seu valor comercial (porque existe em excesso, está danificado, ou a perder a validade), mas não perde ainda o valor nutritivo e é possível resgatar e dar a quem precisa.
O Refood começou na cidade e com o apoio de restaurantes, que disponibilizavam a comida que sobrava, mas actualmente conta também com parceiros na distribuição e agricultura. “No Cartaxo foram-nos dadas, pela cooperativa, três toneladas de batata doce”, exemplificou, acrescentando que depois é necessário o trabalho dos voluntários para transformar estas dádivas em refeições para os carenciados.
“O nosso modelo é comunitário e a linha humana passa pelos voluntários e beneficiários”, resumiu Hunter Halden, fazendo notar que por ano são resgatadas e entregues cerca de um milhão de refeições.
As virtudes do movimento, que ajuda as famílias carenciadas e combate o desperdício alimentar, foram destacadas pelo presidente da Câmara das Caldas, Tinta Ferreira. O autarca manifestou a disponibilidade do município em colaborar com o projecto, agradeceu aos restaurantes presentes por participarem e deixou um apelo a que mais estabelecimentos adiram para que a Refood possa melhorar o seu trabalho.
Já a vereadora com o pelouro da Acção Social, Maria da Conceição Pereira, destacou que estas ajudas pretendem ser temporárias e que o objectivo é que as pessoas se possam autonomizar. No entanto, há alguns que não o conseguem, e nesses casos, os apoios são permanentes.
A autarca chamou ainda a atenção para os casos de desperdício feitos pelos próprios beneficiários: “já muitas vezes tivemos que ir buscar cabazes ou refeições dadas, ao caixote do lixo”, informou.
Ainda assim, a vereadora, reconheceu que nas Caldas as instituições estão todas a “trabalhar muito bem”.
Paulo Monteiro, da Direcção Regional de Agricultura e Pescas de Lisboa e Vale do Tejo (DRALVT), traçou um cenário negro para o futuro, se não se começar a combater o desperdício e a ter um uso eficiente dos bens. “Há produtos que hoje são banais e que vão ser bens de luxo, como é o caso de um bife de vaca”, exemplificou.
O responsável falou também do desperdício que actualmente se verifica no sector, uma realidade que contrasta com o estado de subnutrição em que vivem cerca de 800 milhões de pessoas no mundo.
Menos comida no prato
Em Óbidos funciona um projecto de combate ao desperdício alimentar, que envolve o agrupamento de escolas, o município e o centro de saúde. De acordo com o director do agrupamento, Artur Oliveira, a primeira medida implementada foi a redução da quantidade de comida servida no prato aos alunos na Escola Josefa de Óbidos. “No início causou alguma fricção e descontentamento da parte dos pais, apesar de ter sido explicado sempre que os alunos levam menor quantidade, mas podem sempre repetir uma ou duas vezes”, reconheceu. Esta iniciativa traduziu-se numa redução do desperdício porque começou a ficar sempre menos comida no prato.
O que sobra das refeições é aproveitado para distribuir por beneficiários do Centro de Intervenção Social de Óbidos, resultado de um protocolo efectuado com a empresa que serve as refeições escolares.
A funcionar está também outro projecto em que é feita a pesagem da comida que o aluno leva e a que sobra no prato. Mais tarde, os alunos serão convidados a levar de casa uma refeição, que será avaliada a nível das proteínas e valor calórico, e também analisada a comida pré-feita.
Na Escola de Hotelaria e Turismo do Oeste, o desperdício é combatido através das reservas prévias para almoço no refeitório. O excedente dessas refeições, assim como de aulas práticas, é dado à Refood.
Também a água é um recurso escasso, cujo desperdício deve ser evitado. A redução de consumos e mudança de hábitos foram defendidos por Sara Duarte, responsável pela área da sensibilização e educação ambiental da EPAL.
Dicas para combater o desperdício
A engenheira alimentar e professora, Joana Mendes, explica que a preocupação com o desperdício alimentar deve começar antes de ir às compras, fazendo um planeamento e comprando apenas o que é necessário.
Outra dica é o próprio armazenamento dos alimentos em casa. “Por vezes deixamos embalagens no fundo do armário até estragar”, diz, acrescentando que é preciso ter em conta a data de validade dos produtos e colocar os que estão mais perto do fim de prazo à frente. Há também várias estratégias para o aproveitamento e utilização dos vegetais, como, por exemplo, bases de sopas, caldos ou mesmo congelar para depois utilizar. Já a casca da laranja (ou de outras frutas) pode ser desidratada no forno e depois moída, aproveitando o pó, rico em vitamina C, para se juntar a iogurtes, papas e batidos.
A responsável deixa também a sugestão para que as pessoas comprem alimentos a granel porque depois vão usando consoante necessitam. “Comemos muito mais barato, mais saudável e não há desperdício”, sintetiza.
Joana Mendes considera que a consciencialização para a redução do desperdício será eficaz junto dos mais jovens, que depois vão educar os pais.
O núcleo caldense da Refood apoia actualmente 25 familias, num total de 80 pessoas. Em 2017 pretendem melhorar o centro de operações e duplicar o número de máquinas de lavar loiça. Mas o sonho maior é a obtenção de uma sede, uma vez que têm que pagar renda no espaço onde se encontram, no Bairro dos Arneiros.
Precisos são também voluntários. Actualmente conta com cerca de uma centena de voluntários inscritos, mas o núcleo duro anda à volta das 50 pessoas. “O ideal era ter mais duas dezenas de voluntários a colaborar regularmente”, diz Rui Vieira, presidente da Refood caldense.
Cantinas sociais poderão encerrar este ano
Os acordos estão por agora a funcionar, mas de acordo com a vereadora da Acção Social, Maria da Conceição Pereira, “é provável que as cantinas sociais fechem durante o ano de 2017”.
No concelho das Caldas estão a funcionar cinco cantinas: na Foz do Arelho, Nadadouro, A-dos-Francos Serra do Bouro e Santa Casa da Misericórdia das Caldas e são servidas diariamente 320 refeições.
Maria da Conceição Pereira recorda que este serviço foi criado “numa perspectiva temporal e para dar uma resposta de emergência”, pelo que à medida que as condições económicas das famílias vão melhorando, deixam de ser necessárias.
Mensalmente são também distribuídos 408 cabazes por 17 entidades, que chegam a 1088 pessoas carenciadas.