A última sessão da Assembleia Municipal discutiu a reabilitação dos Pavilhões do Parque, implicando a sua concessão a privados para exploração de uma unidade hoteleira, com uma renda fixa mensal de 3500 €, beneficiando de isenção durante 5 anos. Dos documentos apresentados ficou-se a conhecer que o valor de obra é de 1500€/m2, o que implicará um investimento global faseado de quase 10 milhões de €. Porém, considera-se também prioritária uma intervenção com «carácter de urgência», porque o estado de conservação do edificado «tende a evoluir negativamente inviabilizando qualquer medida de preservação a médio/longo prazo». Como não haverá projecto antes de, pelo menos, um ano e meio, será indispensável uma acção imediata de salvaguarda, avaliada em 500 mil €.
Em termos gerais, do Diagnóstico Estrutural e Construtivo ressalta a constatação de que, em diversos pontos, se verifica que «a resistência aos estados limite últimos é superada para as cargas permanentes» e daí a necessidade de incorporar novos apoios estruturais num edifício com pés direitos de 6 metros e em que o envidraçado das janelas corresponde a 1/3 da superfície opaca das paredes. Se mais não fosse, só estas características ditariam cuidados especiais de intervenção. Recomenda-se o «respeito pelos materiais e traça original», cuja preservação e unidade patrimonial, «especificidades únicas» e «identidade cultural» podem estar em risco face a um programa, inevitavelmente pesado, para instalação de um hotel de 4 estrelas.
E subsistem preocupações:
A Casa Céu de Vidro é integrada no conjunto a concessionar. Acontece que este edifício sempre teve um funcionamento independente dos Pavilhões e nunca esteve a eles associado. Tal incorporação surge assim, como algo excessiva e até abusiva. Acresce que no Caderno de Encargos é referido que «o projecto pode incluir uma ligação entre os edifícos», o que, a verificar-se, apenas poderia ser assegurado por uma construção de raiz, constituindo uma mais do que discutível opção volumétrica e urbanística que ofende a relação conceptual de origem com a envolvente natural.
É alvitrada a «possibilidade de aproveitamento do subsolo do logradouro para efeitos de estacionamento». Isto suscita as maiores reservas e apreensões: é sabido que naquela zona o nível freático é alto e que para além de ser indispensável «conhecer parâmetros de deformabilidade e resistência do solo», relatórios anteriores, pelo visto agora esquecidos, alertavam energicamente dos perigos para os aquíferos termais resultantes de novas construções e do tráfego automóvel. (Não se compreende o porquê da edilidade encomendar e pagar estudos técnicos para depois fazer deles letra morta!)
Outros aspectos necessitariam ser esclarecidos, como, por exemplo, a pouca transparência resultante da obrigatoriedade de, para além das partes, o seu pessoal dever guardar confidencialidade de tudo o que tem a ver com o «conhecimento relativo à exploração e/ou gestão».
Se, tal como é sugerido no estudo encomendado à A2P, empresa de reconhecida competência neste domínio, chegar a haver discussão pública, talvez possa resultar daí uma maior evidência sobre os aspectos contraditórios em todo este assunto.
Há que relembrar a opinião do Arqº Alves Costa, um dos mais reputados especialistas portugueses, a propósito do programa Revive, no qual os Pavilhões estão inseridos: a recuperação patrimonial não pode ser apenas uma casca, uma fachada. Os edifícios são também e principalmente a sua história e a reabilitação arquitectónica não pode nem deve omiti-la.
Entretanto, face à ilegalidade, a antiga rua dos Loureiros, sem prejuízo da consolidação do muro, já não deverá ser alargada. Oxalá! A preservação da mata e dos aquíferos agradecem…
José Carlos Faria
jcrffaria@gmail.com