Ser professor é a “mais sublime” profissão de todas

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O diretor do Agrupamento de Escolas Raul Proença, João Silva, deu conta das novidades do ano letivo e pediu “comprometimento” aos professores

Os desafios da profissão foram abordados nas Jornadas Pedagógicas do Agrupamento Raul Proença, que dão também as boas vindas aos novos docentes

“Amar, ser amado e tentar não fazer mal a ninguém”. O sentido da vida, definido por um dos personagens da série televisiva “Quem sai aos seus”, da década de 80, tem “tudo a ver” com a profissão de professor, afirmou Rui Correia, professor e orador nas Jornadas Pedagógicas do Agrupamento de Escolas Raul Proença, que decorreram a 10 de setembro, no CCC.
“A nossa profissão é garantir que os miúdos possam ter acesso a essas três coisas”, afirmou o docente, salientando que isso envolve conhecimento, ciência e orgulho pela cultura que se tem. Numa autêntica “aula motivacional” de 50 minutos, o também vencedor do Global Teacher Prize Portugal 2019 pediu aos docentes que se ajudem, sejam amáveis uns com os outros e tenham a noção de que o que fazem uns com os outros depois repercute-se na forma como os alunos os veem. E, depois do pedido, uma reflexão: “preocupem-se em ter mundo, ter mais vida do que a escola e em saber de que forma a vossa vida lá fora pode ajudar a vida cá de dentro. Isso é o que queremos para a nossa vida e que os miúdos também querem”.
Rui Correia, que organizou as jornadas que este ano tiveram por tema “As vozes de uma escola”, começou por desmontar a ideia de que o professor “é fofinho” e abordou os desafios que se colocam a esta profissão, que é também a “indústria da esperança” e cuja carreira deve ser encarada “não como um emprego mas como uma exigência de cultura”.
O estilo de um professor, ou a determinada maneira como dá a aula é o “seu maior adversário” alertou. Durante a pandemia o que mais transtornou os alunos foi a rotina, o aborrecimento. E a rotina não dá cabo apenas do alunos, mas também da “mais sublime profissão de todas”, disse, acrescentando que os professores não têm o direito a ter um estilo de dar aulas, pois isso pressupõe a ideia de que “vamos dar aulas de uma determinada maneira e isso é uma maçada total”. E, “não é por causa dos alunos que vos peço que se revoltem contra a eventual monotonia em que as vossas aulas possam cair, é por vós, essencialmente. Não têm o direito de estar numa profissão de que não gostem, e que é sublime”, disse, realçando que é o exemplo dado por cada docente que fica no coração dos alunos.
As jornadas, que também abordaram a inclusão, nas diversas áreas, cyberbullying, a comunicação e a Inteligência Artificial, arrancaram com a reunião geral de professores. O diretor do agrupamento, João Silva, começou por dar nota de que têm já mais de 2800 alunos, nos diversos graus de ensino. Até ao início da semana tinham entrado 114 novos professores, dos quais 51 para o quadro, só faltando preencher quatro horários. Por outro lado, debatem-se com uma média de duas a três aposentações por mês. Conseguir substituir todos os professores, assim como os assistentes operacionais que entram de baixa médica são alguns dos desafios que se colocam neste novo ano letivo, a par da capacidade de resposta à pressão nas escolas, nomeadamente no 1º, 2º e 3º ciclos. João Silva falou ainda do desafio que é acolher 623 alunos estrangeiros, de 41 nacionalidades, no agrupamento.

O agrupamento recebeu 114 novos professores, mas também se debate com a aposentação de muitos outros

Novidade é também a criação de um Centro Tecnológico Especializado em Informática, um financiamento de 1,1 milhões de euros.
O diretor do AERP pediu “comprometimento” a todos, para que possam manter, e aprofundar, a cultura do agrupamento.
Também presente na cerimónia, o presidente da Câmara das Caldas, Vítor Marques, destacou a importância de fóruns como este para “impulsionar discussões enriquecedoras”, que ajudam na procura de soluções face a desafios da educação, “envolvendo todos como agentes no processo de mudança”. O autarca dirigiu-se a alunos, professores e comunidade educativa, dando nota do papel de cada um. Realçou também a estreita ligação do agrupamento com a comunidade, dando como exemplo de boa prática o evento “Happening”, que leva a escola à cidade, através da demonstração das diversas atividades que realizam na escola, deixando a disponibilidade da autarquia para ser parceira nestas concretizações.
“A Educação será sempre um caminho para que todos possam encontrar a sua própria voz, desenvolvendo as competências certas e encontrando afinidades com as diversas áreas para desenvolver o seu projeto profissional”, salientou. ■

“Nós somos a indústria da esperança”, realçou Rui Correia perante uma plateia de professores