A preparação diária dos medicamentos para o cancro em Lisboa e o seu transporte para as Caldas da Rainha está longe de ser uma solução perfeita e fiável. Mas para já o CHO não tem outra e prefere aguardar pela passagem a EPE para poder avançar com uma farmácia nova.
No plano de negócios a ser executado quando o CHO passar de SPA (Sociedade Pública Administrativa) a Entidade Pública Empresarial (EPE) está prevista a construção de uma nova farmácia no hospital caldense que vai permitir voltar a produzir os citotóxicos utilizados no tratamento do cancro e que neste momento estão a ser preparados em Lisboa e transportados para as Caldas e Torres Vedras.
Este é um dos principais projectos que aguarda a prometida passagem do CHO para EPE, a qual tem sido sucessivamente anunciada para breve sem, contudo, se ter concretizado. Gazeta das Caldas tem contactado o Ministério das Finanças para saber das razões desse adiamento, mas não obteve resposta.
A futura farmácia do hospital das Caldas, a concretizar-se, vai permitir ao CHO, pelo menos, poupar cerca de 6000 euros por mês, que é o preço do aluguer dos contentores onde funcionam os serviços farmacêuticos. Uma solução “provisória” que já dura há quase duas décadas.
A instalação de uma nova farmácia no hospital caldense é um investimento que ascende aos 800 mil euros, mas não é incompatível com a resolução de alguns problemas no Hospital de Dia de Oncologia que levaram ao encerramento da unidade de produção dos citotóxicos.
Segundo Gazeta das Caldas apurou, o equipamento no qual aqueles medicamentos são produzidos – câmara de fluxo de ar liminar vertical – está em bom estado e tem em dia as homologações necessárias para funcionar. Os problemas detectados pelo Infarmed que levaram ao encerramento da unidade de produção, situam-se na envolvente dessa câmara, a qual precisa de obras.
Gazeta das Caldas apurou ainda que essas obras até não são de um montante muito significativo, continuando por explicar por que motivo, após um ano da inspecção do Infarmed nada tenha sido feito para resolver as não conformidades.
Quanto a Torres Vedras, a suspensão da preparação de citotóxicos também teve a ver com o espaço envolvente à câmara de fluxo de ar liminar vertical e não com este equipamento em si. O grau de não conformidades é idêntico ao das Caldas. Desconhece-se, contudo, por que não teve a administração do CHO o cuidado de verificar as condições técnicas do seu funcionamento após a inspecção realizada nas Caldas, tendo acabado por ser apanhada de surpresa, um ano depois, com idêntica inspecção que conduziu ao seu encerramento.
CALOR ESTRAGOU MEDICAMENTOS
A solução actual – preparação dos medicamentos em Lisboa e seu transporte para as Caldas – está longe de ser perfeita. Devido à especificidade dos citotóxicos, estes produtos têm de ser conservados entre os 2 e os 8 graus, sendo transportados em recipientes que os procuram manter no frio.
No entanto, há duas semanas, num dia com um pico de calor, houve medicamentos que se estragaram na viagem e quatro doentes do hospital das Caldas ficaram sem tratamento.
O CHO tem uma viatura exclusiva para este serviço, bem como dois profissionais de saúde de Torres Vedras que se deslocam todos os dias ao Hospital de Santa Maria para preparar os medicamentos nas suas instalações.
Além de provisória, esta situação comporta riscos. As viaturas e os recipientes não estão homologados nem certificados e, em caso, de acidente, os próprios produtos representam um perigo em termos ambientais.
Daí que, enquanto não avançarem as obras para uma nova farmácia no hospital caldense, seja urgente resolver as não conformidades detectadas no Hospital de Dia de Oncologia e voltar a produzir os medicamentos nas Caldas.