Sociedade civil tem dado resposta exemplar no apoio à Ucrânia

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Solidariedade é nota de destaque numa época difícil, em que Caldas já recebeu 58 refugiados

Mal começou a invasão à Ucrânia, a resposta da sociedade civil foi imediata, procurando soluções para um problema ao qual poucos ficaram indiferentes. A MVC, uma associação cívica caldense, é um desses exemplos, tendo-se colocado na linha da frente da organização do apoio ao povo ucraniano, através da divulgação e recolha de bens, mas também pela cedência da sede da associação para reuniões de organização e para armazenar bens recolhidos.
“Temos tido muitos pedidos de ajuda, em problemas concretos, como ir buscar pessoas ao aeroporto e levá-las para as zonas onde têm quem as possa acolher”, explica a presidente da associação. Foi isso que Teresa Serrenho fez na última semana, disponibilizando uma carrinha de nove lugares para o efeito. A rede de parceiros da MVC assegurou os custos destas deslocações. No caso, a Associação PDR Golf Villagetriumph doou 500€ para a missão e vários particulares doaram dinheiro.
A dirigente foi buscar uma família ao Porto. Eram sete pessoas, duas mulheres e cinco crianças com idades entre os 3 e os 11 anos, que iam para Albufeira, onde uma família amiga os iria acolher. “As pessoas vêm exaustas e com muitos medos. Entram em carros de pessoas que não conhecem, porque simplesmente não têm para onde ir”, salienta.
A meio da viagem, em Santarém, pararam no restaurante McDonald’s. Era uma forma fácil de escolherem o que mais gostavam, mas também um mimo e uma forma de alegrar os mais novos. O gerente do estabelecimento da famosa marca de fast-food, ao aperceber-se da situação, ofereceu o almoço a todos e voluntariou-se, ainda, para pagar uma parte do gasóleo para a viagem, embora o depósito já estivesse cheio para fazer o percurso até ao Algarve.
Concluída esta missão, Teresa Serrenho reconhece que “custou a dormir” e que não conseguia parar de sentir que tudo o que fosse feito era pouco. “É intenso perceber que os miúdos deixam lá os pais e se despedem, vêm para um país que não sabem qual é e que se calhar nunca tinham ouvido falar, onde não conseguem ler e onde as pessoas não falam a língua deles”, observa.
Os pedidos vão muito além do transporte, passando por coisas simples, como a necessidade de medicação, porque praticamente nenhum fala Português e a maioria não fala Inglês. Os pedidos são analisados caso a caso. Alguns precisam de casa ou de carro. “Somos facilitadores nestas situações”, esclarece. “Mediante as necessidades, fazemos as pontes para resolver as situações concretas”.
Caldas recebeu até ao momento, segundo a Câmara, 19 agregados familiares, num total de 58 refugiados. São famílias numerosas, apesar de virem apenas com um adulto, sempre uma mulher, o que dificulta o transporte. Acresce que muitas vezes já gastaram os recursos nas viagens até Portugal. E, chegados aqui, há outras barreiras, como a língua e a leitura, “porque não conseguem ler o nosso abecedário”. Nesta fase, salienta-se precisamente o papel da comunidade. “Verifico muita empatia por parte das pessoas, a sociedade civil está de parabéns, a resposta que tem dado tem sido excelente. Estamos a organizar-nos muito melhor em termos de voluntariado do que a própria União Europeia, que, através de convenções, já deveria ter agilizado processos. Custa-me pensar no dinheiro que custa enviar um autocarro para trazer pessoas e acho que os países podiam organizar-se melhor para tirar de lá as pessoas, até para evitar situações de tráfico humano e essa resposta de ajuda rápida está a tardar”, nota a dirigente.
Da parte da associação conseguem ter cerca de 50 pessoas que se voluntariam para ajudar. O papel da comunidade internacional que reside no Oeste também merece menção por parte da caldense. “Têm sido fantásticos, têm contribuído com bens e com tempo”, salientou.
O presidente da Câmara, Vítor Marques, contou que já foram enviadas três cargas diferentes para a Polónia, que são fruto da recolha de bens realizada. “Recebemos uma família de seis pessoas, que foram alojados numa casa cedida por um caldense”, partilhou o autarca, frisando: “orgulha-nos ser caldenses, porque temos esta génese de solidariedade”. O chefe do executivo municipal realça que há na região uma comunidade russa que também precisa de apoio. “Estamos aqui para ajudar, porque não são a favor da guerra”, salientou, notando que importante nesta fase é “alimentar a solidariedade e não o ódio”.
Também os Bombeiros das Caldas têm participado em ações, como na cedência de um autocarro à Câmara de Mafra numa missão humanitária que partiu até à Polónia para trazer refugiados.
Em Alcobaça, são esperados 100 refugiados na próxima semana. Anteontem, partiram para a cidade geminada de Belchatów (Polónia) dois camiões TIR com a sua respetiva capacidade máxima de 20 toneladas plenamente atingida. A sociedade civil diz presente.

 

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