Desenhos de António Duarte em exposição na Biblioteca celebram Dia da Mulher

0
244

Espaço acolhe exposição que une desenhos de nus femininos do escultor caldense António Duarte às obras de 26 escritoras que marcaram o século XX português

Abriu a 8 de março, na Biblioteca das Caldas, uma exposição que celebra a Mulher e que integra desenhos de nus femininos do escultor caldense António Duarte.
Segundo José Antunes, diretor do Centro de Artes, dos desenhos expostos fazem parte obras da década de 1930, quando o escultor caldense foi discípulo do escultor Simões de Almeida (sobrinho) e se formou nas Belas Artes de Lisboa.
“São exercícios de aprendizagem, nos quais António Duarte busca a sua assinatura”, disse o historiador de arte, acrescentando que o domínio do desenho da figura humana era fundamental.
A estes trabalhos designados “academias”, que exigiam conhecimento da anatomia da figura feminina, juntam-se outros, em que o artista usa a técnica do esfuminho, destinada a trabalhar a gradação de sombras. Nalgumas propostas, procurava grande proximidade ao real, há um segundo conjunto “onde já surgem desenhos com sombras criadas com manchas mais rápidas ,feitas com recurso a lápis ou a carvão”, informou o diretor.
Presentes estão outros desenhos de António Duarte já relacionados com as novas correntes como a abstração. “Nestes já não há sombras são apenas desenhos de contorno”, referiu José Antunes. No desenho reproduzido nesta página, o olhar da figura feminina domina a composição, assim como o próprio sexo. “É um dos trabalhos do caldense que já apresenta semelhanças com alguns trabalhos de Matisse e de Picasso”, disse José Antunes, recordando que António Duarte foi professor nas Belas Artes de Lisboa e ao longo da sua carreira foi agraciado com prémios de escultura e desenho no país e no estrangeiro, nos anos 1940 e 1950.
O caldense, nascido em 1912, participou também na XXV Bienal de Veneza, nas Bienais de São Paulo em 1951 e 1953, e na Bienal Hispano-Americana de Barcelona em 1955.
Na sua terra natal foi inaugurado, em 1985, o Atelier-Museu com o seu nome, após a doação da sua coleção de arte à sua cidade natal.
O espólio do artista conta com mais mil obras, entre pinturas, esculturas e desenhos. O Centro de Artes, além do espaço de António Duarte, ainda inclui o Atelier-Museu de João Fragoso, de Barata Feyo, o Espaço Concas e o Museu Leopoldo de Almeida. Foi a partir do Atelier-Museu António Duarte que se começou a pensar na criação de uma escola de artes nas Caldas, o que se concretizou no início dos anos 1990, com a ESAD.
Aos desenhos de António Duarte, que faleceu em Lisboa a 2 de março 1998. juntaram-se os livros de 26 escritoras do século XX.
Segundo a bibliotecária Anda Reis, foi feita “uma combinação perfeita” entre os desenhos do autor caldense com obras de escritoras que lutaram pelos direitos das mulheres. Várias das escolhidas viveram sob a opressão do Estado Novo e viram as suas obras relegadas para segundo plano.
Estão presentes obras de autoras como Fernanda Botelho, que viveu os últimos anos da sua vida na aldeia da Vermelha (Cadaval), Irene Lisboa, Maria Lamas, Natália Nunes, Manuela Azevedo, Natália Nunes, Ana Castro Osório, Maria Velho da Costa, Maria Teresa Horta, Maria Isabel Barreno, entre tantas outras.
A exposição que une obras do escultor caldense à mostra de livros “Mulheres de A a Z” está patente até ao dia 29 de março.