
Os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatísticas (INE), referentes ao terceiro trimestre de 2016, revelam que o sector da construção se encontra em retoma a nível nacional, tendência seguida na região Centro, na qual o Oeste se engloba. Nas Caldas da Rainha e em Óbidos essa retoma também se sente. Segundo informações recolhidas junto dos dois municípios, existe um aumento de pedidos de licenciamento, quer para construção, quer para loteamento de terrenos.
Nas Caldas da Rainha não foi possível obter os dados exactos da retoma, mas, segundo Gazeta das Caldas apurou junto do gabinete de comunicação da autarquia, no último ano e meio iniciou-se uma tendência de crescimento do número de pedidos para construção de moradias e loteamentos. “Não é uma retoma acentuada, mas há mais pedidos”, acrescenta a mesma fonte.
O turismo aparenta ser o grande impulsionador deste crescimento. As freguesias em que se registam mais pedidos de licenciamento para construção de imóveis são as costeiras: Nadadouro, Foz do Arelho e Salir do Porto.
O fenómeno pode ser explicado pela crescente procura que a região tem tido no mercado dos reformados franceses, aliado à manutenção de mercados como o inglês, o holandês e o belga.
Também em Óbidos há um aumento de pedidos de licenciamento e acontecem tanto nas localidades como nas zonas turísticas, em proporções idênticas. Pedro Félix, vereador obidense com a pasta do urbanismo, disse à Gazeta das Caldas que nas localidades os pedidos tanto partem dos locais como de estrangeiros e investidores. Estes acabam por ter um peso maior na totalidade das novas construções, uma vez que representam a totalidade do investimento nas zonas de turismo.
No concelho de Óbidos foram aprovados 35 pedidos de licenciamento para obras (não inclui alterações, ampliações ou conservação de imóveis), cerca de 40% mais que em 2015, quando foram aprovados 23 pedidos.
Segundo os dados do INE, só na região Centro os pedidos de licenciamento de obras cresceu 6,5% no terceiro trimestre de 2016. Houve 1190 pedidos, dos quais 329 para reabilitação de imóveis, 739 para construção nova, dos quais 532 para habitação. É neste último ponto que a variação é maior em relação ao período homólogo, com um crescimento superior aos 25%.
MUITO POR FAZER NA CIDADE
Voltando à cidade, apesar dos agentes imobiliários que Gazeta das Caldas contactou terem afirmado que há procura para nova construção, são poucos os construtores que arriscam. A empresa Agostinho Pereira Construções é, nesta fase, a que mais tem apostado na construção de prédios de habitação novos. A empresa concluiu recentemente um destes projectos e está a construir mais quatro prédios numa nova urbanização que está a ser erigida perto do Centro Escolar de Nossa Senhora do Pópulo. Nesta nova urbanização, Vinha das Coxas, estão a ser construídos quatro prédios de apartamentos com cerca de 24 fogos e estão previstas mais 36 moradias.
Norberto Isidro, agente imobiliário da Re/Max, diz que a escassez de oferta faz com que os novos fogos sejam vendidos rapidamente e a tendência é que novos projectos possam ser negociados ainda em planta.
Apesar da retoma da construção ser já palpável, os efeitos da crise no sector estão ainda bem visíveis em várias zonas da cidade. Alguns projectos continuam encalhados. É o caso de um empreendimento na entrada sul das Caldas, do qual apenas o ginásio foi concluído, mas não pelo promotor inicial, ou os edifícios da Erguigest junto ao CCC, cuja venda dos terrenos ajudou a financiar a construção do centro de congressos, mas os imóveis não chegaram a ser concluídos. Ambos os processos arrastam-se há anos.
O mesmo acontece num bloco de edifícios junto à escola D. João II, onde no mesmo prédio existem apartamentos habitados e outros inacabados.
VENDA DE MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO SOBE
A retoma do sector da construção faz mover a economia e o emprego. São vários os tipos de empresa que ganham com mais obras, sejam elas de construção nova ou requalificação. O negócio dos materiais de construção é um dos exemplos.
Com mais de 60 anos de actividade, a Manuel Rodrigues Ferreira, S.A. (MRF) já viu passar várias fases desta economia. A empresa negoceia todos os tipos de materiais de construção, à excepção de azulejos, mosaicos, louças e pavimentos.
Carlos Monteiro, sócio maioritário da firma, recorda a pujança que o sector teve nos anos 80 e 90. A crise recente não fez decair as vendas da MRF, mas obrigou a algumas mudanças de estratégia, nomeadamente a aposta em matérias mais direccionadas para a requalificação, como o pladur (gesso cartonado), as massas de isolamento e outros artigos.
“Hoje o mercado é muito diferente, as novas obras são poucas mas há procura acentuada para remodelações, no Oeste e nas regiões de Lisboa, Porto e Coimbra”, refere Carlos Monteiro.
A aposta em produtos de qualidade, através da representação de marcas de referência, e também na entrega porta a porta em todo o país fez com que as vendas não abrandassem nos últimos 10 anos e em 2016 o crescimento das vendas foi mais acentuado.
O empresário confirma também que a procura maior é para obras nas zonas costeiras, para dar resposta à crescente procura por parte dos estrangeiros, algo que os portugueses têm que saber aproveitar. “Não há como os portugueses para receber e entender os turistas”, sublinha.