Foi na tentativa de passar o seu conhecimento às pessoas que ajudou a organizar diversas sessões e procurou criar algo para chamar a atenção para esta causa. E foi nesse sentido que foi organizado o festival.
Mas há 40 anos não havia telemóveis e internet, ir a Ferrel não era tão fácil como hoje. Para a informação chegar a todo o país arranjaram coordenadores nas diferentes zonas e conseguiram atrair 3000 pessoas às Caldas e a Ferrel num fim-de-semana.
“Mas fomos boicotados”, revelou José Luís Almeida e Silva. É que o festival era para ter decorrido no centro da cidade, num espaço aberto e ficou circunscrito à Casa da Cultura, o debate nos Pavilhões foi mudado de local e era suposto os participantes dormirem em sacos de cama num cinema municipal, mas acabaram por ter de ir para o ginásio de uma colectividade que lhes abriu as portas porque a Câmara das Caldas não facilitou.
Apesar de não questionar a importância do festival, o director da Gazeta nota que houve uma série de variáveis que contribuiram para o abandono da ideia do nuclear: o défice excessivo português e a dificuldade de pagar a central, a luta entre os concorrentes e as inflexões da oposição.
E se Ferrel tivesse uma central nuclear?
António Eloy propôs aos participantes do primeiro painel que fizessem um exercício especulativo de prospectiva inversa e pensassem no que seria Ferrel hoje se tivesse sido construída a central.
José Luís Almeida e Silva disse que se existisse uma central nuclear em Ferrel “a maior parte das pessoas viveria pior, apesar de que haveria gente a viver melhor, como os engenheiros e técnicos da central, tal como acontece em Almaraz”. Além disso, não existiriam “actividades que geram muito emprego, como a economia do mar, a agricultura e o turismo”.
Inês Grandela Lourenço fez notar que com uma central nuclear em Ferrel, as Berlengas não seriam reserva da biosfera e não seria possível ter o segundo porto que mais factura a nível nacional em Peniche. “Seria uma terra mais sombria, menos verde e com menos vida”, disse.
Já Henri Baguenier acredita que poderia ter acontecido o que aconteceu a muitas centrais em Itália, Áustria e Espanha: “a construção ter sido começada, mas nunca acabada”.