“A vacinação deveria ser obrigatória”, defendem médicos da Saúde Pública

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Médicos
Marta Félix (directora clínica do ACES Oeste Norte), Jorge Nunes e Cristina Pecante, ambos médicos da Saúde Pública -Natacha Narciso
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A vacinação deveria ser obrigatória. É a opinião dos médicos da Saúde Pública das Caldas da Rainha, Jorge Nunes e Cristina Pecante, que consideram
que seria essencial a sociedade civil promover o debate sobre o tema. Até porque, dizem, vacinar os filhos é um acto de cidadania e quem não o faz está a negligenciar a saúde dos filhos e dos outros.

Na manhã de sexta-feira, 4 de Maio, Francisco Ferreira, de cinco anos, acompanhado pela mãe, aguardava a sua vez para ser vacinado, na sala de espera da Unidade de Saúde Familiar Rainha D. Leonor.
Francisco já entrou na sala e está ao colo da mãe, enquanto as enfermeiras preparam duas vacinas: uma contra o Sarampo, Papeira e Rubéola, e uma segunda que o protegerá contra a Difteria, Tétano, Tosse Convulsa e Poliomielite. Uma picada em cada braço, após alguma hesitação. “Foi um menino valente e corajoso”, disseram as enfermeiras. A mãe, Ana Apolinário, estava satisfeita pois “o meu filho portou-se bem” após o momento das picadas das duas vacinas.
“Sim, doeu-me um pouco…mas já passou”, disse Francisco Ferreira, que entretanto se ocupou em examinar a oferta dos autocolantes que as duas enfermeiras lhe fizeram. Um deles diz “Sou corajoso” e Francisco pô-lo ao peito. Na mão levou uma folha com autocolantes de animais.
“Creio que é muito importante ter as vacinas em dia por causa das doenças”, disse Ana Apolinário que, além do Francisco, tem também uma menina de sete anos. Ambos possuem as vacinas em dia.

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TAXAS DE VACINAÇÃO ACIMA DOS 90%

Ana e os seus filhos contribuem para o facto do Oeste ter “uma boa taxa de vacinação”, disse Jorge Nunes, coordenador da Unidade de Saúde Pública das Caldas da Rainha. Segundo o médico, há apenas algumas bolsas de pessoas com problemas sócio económicos onde a vacinação não é totalmente cumprida. Nas Caldas a taxa de vacinação chega, pelo menos, aos 95%, o que permite “criar a imunidade de grupo”, ou seja, que a larga maioria das pessoa esteja protegida contra as doenças.
As medidas mais importantes nas últimas décadas em termos de Saúde Pública foram o acesso à água potável, o saneamento básico e a vacinação. Esta última tem comprovada a sua importância pela descida da mortalidade ao longo dos anos. “Há doenças que tinham uma elevada taxa de letalidade e que já nem existem na Europa”, disse o responsável, lamentando, no entanto, que estas ainda persistam nalguns países mais pobres.
Cristina Pecante, da mesma unidade, é a responsável pela equipa de vacinação da região Oeste Norte. Este agrupamento de centros de saúde “é daqueles que tem uma das melhores taxas de cobertura da região”, disse.
Pontualmente, segundo os médicos, têm existido casos de Tuberculose e de Escarlatina que são tratados. A nível nacional já apareceram casos de doenças como sarna ou piolho do pombo. “No Oeste não temos tido nenhum surto que nos cause grandes preocupações”, disseram os responsáveis, acrescentando que não houve nos últimos anos nenhum surto de Sarampo ou de Meningite. “Agora não podemos baixar a guarda pois elas andam aí!”, alerta a médica sublinhando a importância de cumprir o plano de vacinação.
Cristina Pecante ainda acrescentou que o Plano Nacional de Vacinação (PNV) foi instituído em 1965 e que desde então os seus responsáveis têm estado atentos aos estudos mundiais que são feitos nesta área. Assim, o PNV tem sido alvo de constantes revisões e até já foram retiradas vacinas graças à erradicação das doenças, tal como aconteceu com a da Varíola em 1980.
Cristina Pecante refere ainda que “há expectativas muito boas de controlar o vírus do papiloma humano que levará ao consequente controlo do cancro do colo do útero”.

A OBRIGATORIEDADE DE VACINAR

Os médicos defendem a vacinação a todo o custo. Hoje vacinar é apenas “fortemente recomendada”. Manter os altos níveis de vacinação é “fulcral” dado que “se os habituais 5% de não vacinados tiverem o vírus, este não é capaz de se desenvolver, dado que 95% da população está protegida pela vacinação”, explicou Cristina Pecante.
Também o coordenador da Saúde Pública, Jorge Nunes, é a favor da obrigatoriedade da vacinação. Qualquer questão que surja na sociedade, quando está em causa a sua saúde pública surgem obrigatoriedades e até punições. “Porque razão se instituiu a obrigatoriedade das pessoas serem multadas quando falam ao telemóvel enquanto conduzem?”, questiona-se o médico. Em primeiro lugar porque “estão a colocar a sua segurança em causa” e, em segundo, porque “estão a pôr em causa a segurança dos outros”. Se numa situação destas é tão óbvia a penalização, “porque é que em relação à vacinação não se faz o mesmo?”.
O médico acha que já foi comprovado ao longo dos anos que a vacinação já erradicou doenças, tendo evitado milhões de mortes e de incapacidades. Jorge Nunes vai mais longe afirmando que “é negligência por parte dos pais não vacinar os seus filhos”.
Cristina Pecante afirmou que hoje há movimentos que defendem que os pais que não vacinam os filhos deveriam ser sinalizados, “dado que estão a colocá-los em risco”, disse. Os filhos podem apanhar uma doença banal, mas que pode ter consequências graves pois “podem causar incapacidades, deficiências graves e até a morte”. Enquanto que uma doença viral “começa, dura e acaba” outras podem complicar-se “devido a pneumonias ou a meningites”. A responsável questiona-se até que ponto o não vacinar deveria ser sancionado dado que é uma negligência por parte dos pais.
Cristina Pecante ainda contou que os movimentos anti-vacinação defendem, por exemplo, que as crianças desenvolveram autismo após a vacina do sarampo. O que se comprovou foi que as crianças a quem tal aconteceu “já tinham alterações do comportamento anteriores”.
Marta Félix, directora clínica do ACES Oeste Norte, referiu que o Centro de Saúde trabalha em rede com o CHO e, por isso, os serviços têm ligação no que diz respeito à vacinação dos bebés.
Há ainda outros factores que contribuem para a expansão dos vírus das doenças. A globalização, as viagens, as companhias low cost contribuem para que haja maior contágios, sobretudo se existirem bolsas de não vacinados nos locais de destino. E daí ser igualmente importante que quem viaja para países estrangeiros deva ir à Consulta do Viajante, de modo a levar as vacinas para as doenças que são endémicas nos países para onde se dirigem.

 

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