Cerca de 10 cães dos 40 que actualmente a Crapaa tem no seu abrigo passaram um dia diferente no dia de aniversário da associação. Domingo, 9 de Abril, saíram do canil e estiveram toda a tarde no Parque D. Carlos I, onde puderam estar em contacto e ser passeados por outras pessoas que não apenas os voluntários.
Muitos focinhos, narizes e línguas, poses de perfil, deitados na relva ou ao colo dos voluntários. Olhares de esperança. Era este o cenário visível nas paredes do Céu de Vidro, numa exposição fotográfica organizada pela Crapaa para as celebrações do 16º aniversário. As fotografias foram tiradas por alguns voluntários e colocam em primeiro plano os patudos do canil. São também o retrato de histórias: umas sabemos que terminaram com finais felizes (adopções), enquanto outras ainda aguardam por uma nova casa.
“Fazemos sempre questão de celebrar o nosso aniversário para que as pessoas não se esqueçam de nós e que neste caso que já cá andamos há 16 anos”, disse Carla Lourenço, presidente da associação, realçando que o facto do dia da festa coincidir com o fim-de-semana lhes deu motivação para organizar uma iniciativa ao ar livre onde pudessem trazer alguns dos seus animais. Vieram 10 cães, dos 40 que estão abrigados no canil.
“As pessoas podem passeá-los e conhecê-los, ao mesmo tempo eles também convivem com mais gente que não apenas os voluntários”, salientou a responsável, acrescentando que já tiveram casos em que os laços criados neste tipo de actividades resultaram em posteriores adopções.
HÁ 16 ANOS A CRESCER
Criada em 2001, a Crapaa (Caldas da Rainha Associação Protectora dos Animais Abandonados) surgiu porque na altura existiam poucas estruturas de apoio aos animais na região. Começaram por acolher cães num terreno emprestado no Nadadouro, mas faltavam condições. O espaço não tinha luz nem água. Foram necessárias muitas reuniões com a Câmara para chegar ao acordo de cedência de um terreno e após duas recusas, à terceira foi de vez. Já há 12 anos que a Crapaa está no mesmo espaço e tem vindo a construir o abrigo aos poucos.
“Pensamos agora em fazer obras mais a sério, já temos inclusive um projecto para um canil novo, pois até hoje o que temos construído são quase sempre estruturas provisórias, que foram surgindo à medida que faziam falta”, explicou Carla Lourenço. Actualmente a associação acolhe 40 animais em 20 boxes e tem a sua lotação praticamente esgotada. Em tempos chegou a abrigar quase 80, mas havia cães presos por corrente devido à falta de boxes.
Para que os patudos vivam em boas condições, a Crapaa não pode aceitar receber todos os animais. É que há deles que têm que ficar isolados numa boxe porque não são sociáveis devido aos maus tratos que sofreram no passado; outros que têm idade avançada e não podem pernoitar junto aos mais jovens; e depois existem os bebés, que também têm que ficar numa boxe à parte. Só em 2016 a associação acolheu cerca de 60 bebés. Este ano o número já ultrapassou os 20 cachorrinhos.
Mais números: o ano passado a Crapaa tirou da rua 67 cães, esterilizou 21, foram adoptados 55 e faleceram 13. Conseguiu ainda 18 novos padrinhos para os seus fieis de quatro patas. Actualmente a organização tem 380 sócios.
Carla Lourenço chama a atenção para o facto de não aceitarem animais que têm dono. “É impressionante a quantidade de pessoas que nos contacta para que fiquemos com os seus cães. É preciso entender que as associações não servem para quando os donos se fartam dos animais, para quando estes ficam velhos ou dão problemas de saúde”, frisou a responsável.
Outro dos dramas diários da Crapaa (e da generalidade das organizações protectoras dos animais abandonados) é a esterilização. “É o nosso ponto fraco, porque ainda há muita gente que não esteriliza o cão porque acha que é contranatura ou é um procedimento que magoa o animal. Mais do que pelo custo monetário”, contou Carla Lourenço, salientando que em Portugal ainda existe uma mentalidade conservadora relativamente a esta questão.
O QUE AINDA FAZ FALTA
Por dia a Crapaa gasta 20 a 30 quilos de ração. Parte é fornecida pelas Rações Avenal, mas a restante alimentação (júnior e de lata) tem que ser assegurada pela associação. Desde logo, esta é uma das suas principais despesas, assim como os gastos com o veterinário e em medicação.
Depois existem ainda as “faltas humanas”, não só ao nível de voluntários – actualmente a Crapaa tem 10 colaboradores a tempo inteiro, metade são voluntários estrangeiros que residem na região – como ao nível de famílias de acolhimento. Estas últimas servem para acolher animais com necessidades especiais, seja porque são mais velhos e há o risco de não suportarem o frio do Inverno, ou porque se encontram a recuperar de uma cirurgia e precisam de um espaço mais confortável que o canil. Nestes casos, a CRAPAA assume todas as despesas dos animais.