A opinião dos hoteleiros é unânime: a realização do Mundial de Surf em Peniche tem sido uma grande mais-valia para o setor. Durante a realização da prova, mas pela possibilidade de cativar turistas durante o ano inteiro
A hotelaria de Peniche recebe a etapa do Mundial de Surf de braços abertos. Com uma capacidade instalada de 2.205 camas, os números mais recentes dão conta da existência de 63 estabelecimentos de hotelaria: 8 hotéis (dos quais três são de 4 estrelas, dois de 3 estrelas e três de 2 estrelas), 3 unidades de turismo em espaço rural e 52 Alojamentos Locais. Junta-se ainda a oferta dos 8 equipamentos de campismo e caravanismo existentes no concelho, que faz ainda aumentar a capacidade de acolhimento.
Parceiro oficial da organização da prova que integra a Liga Mundial de Surf (WSL), o MH Hotels possui no concelho 310 quartos divididos por três unidades mais um ‘hostel’ com 18 unidades de alojamento.
Luis Cruz, diretor-geral do grupo, recorda que o MH Hotels é parceiro oficial da edição da prova do circuito mundial em Peniche “desde o primeiro dia”. “Efetivamente a parceria permite que épocas consideradas mais baixas em hotelaria, se transformem em época alta”, salienta.
Presentemente, as unidades do grupo apresentam uma ocupação total, preenchidas com todo o staff da prova, desde a organização, passando pelo júri, atletas, pessoal de apoio, patrocinadores e comunicação social de todo o mundo que vem à Praia dos Supertubos cobrir uma das etapas mais bonitas e competitivas do campeonato.
Segundo Luis Cruz, os hóspedes, nesta época do ano e em consequência da passagem do Mundial de Surf, são maioritariamente estrangeiros e, concretamente, franceses, “devido a parte do ‘staff’ internacional da prova ser oriundo deste país”. Mas contam-se dezenas de nacionalidades diferentes dos clientes neste período do ano.
Peniche foi também um concelho estratégico para a expansão da cadeia ‘Star Inn’ que, para além de Lisboa e Porto, tem nesta cidade a terceira unidade hoteleira, em frente da Praia Cova da Alfarroba.
O surf é, marcadamente, uma imagem de marca deste hotel, onde uma dúzia de pranchas coloridas decoram parte da frontaria do edifício. A taxa de ocupação para o período da prova é alta – estando esgotada a capacidade em dois dias – e, segundo a diretora Estela Candeias, “tem tudo a ver com o cliente de surf, quer a título individual ou proveniente de organizações relacionadas com a competição”. “Sem dúvida que, para nós, esta prova é uma mais-valia”, sublinha a responsável, que, face aos pedidos de reservas, acredita que o campeonato possa estar “despachado” até dia 7, mas tudo vai depender do estado das ondas.
“Os anos em que as condições do mar não são tão boas e a organização tem que prolongar o tempo de espera, é, para nós, ótimo”, destaca a diretora. O inverso, em que a prova se resume a quatro ou cinco dias, já não é tão bom para a hotelaria, porque o ‘circo’ da competição abala de malas e bagagens de Peniche.
Quando acaba a etapa anterior do Mundial, começam a chegar as reservas aos hotéis penichenses. Contudo, a mudança de calendário da prova deste ano para março – quando as restantes edições foram todas em outubro – acaba por ser um pequeno revés para a hotelaria. O motivo é simples: o calendário anterior permitia que a chamada ‘época alta’ se prolongasse por outubro, gerando outras mais-valias económicas.
De acordo com Estela Candeias, “em março as coisas são um pouco diferentes, em que a nossa ocupação é normalmente baixa durante os dias de semana e há uma subida de hóspedes no fim-de-semana, pelo que acaba por ser também bom para nós a realização da etapa”. Surge assim um ‘pico’ na estação numa altura do ano em que o tempo não convida para a praia e que antecede o período da Páscoa. “Dá-nos efetivamente alguns dias com uma boa ocupação em plena época baixa”. Os hóspedes repartem-se entre os nacionais e os estrangeiros, verificando-se este ano uma quebra de clientes brasileiros e australianos, provavelmente devido à pandemia. Áustria, Holanda, França e Inglaterra são os países de origem em maior número.
Pelo mesmo diapasão afina Luís Cruz, do MH Hotels: “Em outubro permite um prolongamento da época alta. Nesta fase potencia apenas estes 15 dias e depois ainda é um longo período até à época alta”. A fileira da onda representa para este grupo cerca de 15% da ocupação anual em relação à ocupação normal.
Peniche tem condições ímpares, no país, para a prática de desportos náuticos. O Campeonato do Mundo veio despoletar e incrementar um conjunto de atividades económicas que vai além da hotelaria. Também a restauração, as escolas de surf e as fábricas de pranchas beneficiam com os visitantes ao longo do ano. ■
Empresários dizem que fazem falta mais eventos
A hotelaria reclama a realização de mais eventos ao longo do ano, para que permita quebrar a sazonalidade e atrair mais turistas ao concelho de Peniche, sendo por isso muito importante o trabalho que a Câmara possa vir a realizar neste campo.
É esta a tese defendida por Estela Candeias, ‘general manager’ do Hotel Star Inn Peniche. “Sempre que há um evento, as pessoas deslocam-se para Peniche, mas depois há pouca oferta cultural e de eventos. Tirando o surf e a Corrida das Fogueiras, não há mais eventos que se destacam”, alerta a responsável.
“Falta o Festival ‘Sabores do Mar’ de antigamente”, sugere. Para a hoteleira, “por incrível que pareça porque o potencial é muito grande, o mercado de Peniche é difícil, pois para além da oferta natural cm os desportos de mar, o Verão é para um cliente especial porque não estamos no Algarve devido à diferença do clima”.
Para Luís Cruz, do grupo MH Hotels, era importante existir um calendário de animação em Peniche mais forte e diversificado. “Deve existir um calendário de ações culturais que permitam uma continuidade da experiência do hospede nesta nossa fantástica cidade”, adiantando que “já existe uma progressão ao longo deste mandato, mas penso que o atual mandato vá potenciar esse aspeto, estando o presidente [da Câmara Municipal] sensível para esta temática.
Dado que necessita de viver com todos os mercados, Estela Candeias está otimista: “Todos os anos se vê mais alguma coisa, pelo que havemos de chegar lá!”. ■