AF Leiria quer público e retoma na formação

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Caldense que dirige a associação distrital considera que tem faltado sensibilidade à DGS e ao Estado para resolver a falta
de público nas bancadas e o arranque dos escalões jovens

A dois dias do arranque do Campeonato de Portugal e com o início dos distritais adiado para 18 de Outubro, o presidente da AF Leiria assegura, em entrevista, que há condições para haver público nas bancadas e a retoma dos escalões jovens.

GAZETA DAS CALDAS (GC): Como se pode perspectivar esta época 2020/21 tão atípica?
MANUEL NUNES (MN): Há dois problemas muito graves e que afectam a planificação da temporada: a falta de público nos estádios e a paragem dos escalões de formação.

GC: São efeitos da pandemia…
MN: Apesar do que muito se tem falado, os números oficiais referem que, desde o início do ano, apenas 20% do número de óbitos no país estão relacionados com a covid-19 e referem-se, sobretudo a indivíduos com mais de 75 anos. Além disso, os mais recentes estudos indicam que os jovens não são os principais transmissores do vírus. Em meu entender, a questão do público está mal colocada. Na 1ª Liga, temos cinco clubes que, por tradição, têm muito público: Benfica, Sporting, FC Porto, V. Guimarães e Sp. Braga. Nos restantes, falamos de lotações médias muito abaixo da lotação dos estádios. Por isso, defendo que a regra não pode ser igual para todos. Tem de ser proporcional com a lotação dos estádios, condições de álcool gel e distanciamento social, como acontece noutros espectáculos, como touradas, ou nos estádios em França. E acabar com as claques, claro.

GC: E nos restantes campeonatos?
MN: Na 2ª Liga não creio que haja problemas com lotação dos estádios e no Campeonato de Portugal vejo, apenas, alguns problemas em Braga, Porto e Aveiro, onde há grande rivalidade. O mesmo se passa nos distritais daquelas associações. Mas, cumprindo as regras de lotação e com policiamento, era possível ter adeptos.

GC: Que cenário se encontram nos distritais?
MN: Não vejo qualquer problema, até porque falamos de recintos amplos e que permitem distanciamento entre as pessoas. O facto de não haver público nas bancadas estrangula os clubes. Não há receitas de bilheteira, perde-se as receitas de publicidade e, também, as verbas dos bares. Curiosamente, a DGS admite a possibilidade de haver pessoas a assistir a jogos nos bares, mas não podem estar na bancada. Isto é absurdo. Acresce a isto, o facto de a esmagadora maioria dos clubes ter ficado sem receitas dos eventos de Verão, que representavam uma fatia importante dos orçamentos.

GC: Relativamente aos escalões de formação? Será possível haver competição esta época?
MN: Tenho alguma dificuldade em compreender esta questão, nomeadamente nos nacionais jovens. Se atentarmos ao nível dos clubes que participam nos nacionais de juniores, juvenis e iniciados percebemos que estão bem organizados, têm boas infra-estruturas, bons treinadores, dirigentes e departamentos médicos e, de acordo com o programa da FPF de certificação das entidades formadoras, têm três, quatro ou cinco estrelas… Mas, depois, não podem participar em campeonatos nacionais… Não se percebe esta disparidade de critérios e isso vai fazer com que os jovens que, estariam bem enquadrados para o problema da pandemia, vão andar à deriva. Na minha leitura, além dos nacionais jovens, poderia perfeitamente decorrer, sem grandes problemas, as Divisões de Honra dos campeonatos distritais.

GC: Estamos à espera do que vai acontecer no regresso à escola?
MN: Dá toda a ideia que sim, mas também desse ponto de vista, há coisas incompreensíveis. Como é que dentro da sala de aula o distanciamento obrigatório em alunos é de um metro e, depois, nas aulas de Educação Física, ao ar livre, o distanciamento tem de ser de três metros? É desproporcionado. E isto vai provocar problemas de saúde mental nos jovens.

GC: Muitos clubes podem fechar?
MN: Na última década, sobretudo aquando do período de intervenção da troika, as coisas mudaram e os clubes perceberam que tinham de ter outro modelo de gestão, assente na formação. Essa tinha sido a salvação dos clubes. Com esta paragem dos escalões jovens, fica tudo em causa. No âmbito da AF Leiria, implementámos algumas medidas de apoio, nomeadamente a redução dos valores das inscrições, pois utilizámos o estorno dos seguros da época passada, além do empréstimo feito pela FPF, que ainda permite baixar mais os valores. Deveria haver outra preocupação do Estado relativamente ao movimento associativo.

GC: Tem faltado sensibilidade a quem manda nesta matéria?
MN: Parece-me claro que sim. Ao não permitir que o público esteja nos estádios estamos a afastar um agente desportivo absolutamente essencial: os adeptos. E de uma forma discricionária. Qual é o problema de termos público nos distritais? O assunto não está a ser visto na globalidade. Estamos a falar de 10 ou 11 mil clubes que estão em grandes dificuldades e esta é uma questão urgente e imediata.