A escola do futuro deverá ter princípios humanistas

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Ensina professores e educadores e defende uma escola de futuro mais humanista e, sobretudo, empática

Filipa Rodrigues vive nas Caldas há 20 anos, depois de ter morado nas Gaeiras, em Óbidos. Hoje ensina no IPL futuros professores e educadores, após ter lecionado durante duas décadas em 15 escolas diferentes do ensino básico. Questionada sobre quais serão os grandes desafios no que diz respeito à educação do futuro, entende que esta sofrerá impacto da Inteligência Artificial (AI), assim como os mais variados setores da sociedade.
Se por um lado, a docente considera que serão imensos os benefícios ligados ao campo médico e à saúde, já não é tão otimista em relação à intervenção da AI noque diz respeito à segurança ou à educação. E isto porque “estamos a ver cientistas, mais do que entusiasmados, muito preocupados com o que poderá acontecer daqui a cinco ou a 10 anos”. Para Filipa Rodrigues, a AI vai criar algoritmos que o cérebro humano “não vai ser capaz de compreender”. As máquinas vão sendo alimentadas com informação “que lhes permitirá criar relações a tal ponto que o cérebro humano não vai capaz de acompanhar, descodificar e reprogramar”.
O que mais preocupa a docente é o aspeto da ética e “que é o que nos vai diferenciar em relação à AI”. Podemos dizer ao computador que tem que fazer algumas tarefas, que tem que ser o mais produtivo possível, mas tem que respeitar os direitos humanos. E, na sua opinião, além da perda dos postos de trabalho, “não creio que seja possível passar conceitos tão abstratos como os direitos humanos para as máquinas….Logo podem facilmente começar a contornar esses valores”.
E por tudo isto, Filipa Rodrigues considera que é necessário investir no que “a AI não consegue fazer”.
Defende, por exemplo, que a resiliência deveria ser trabalhada nas escolas. Até agora, na educação, a preocupação principal é com os conteúdos “mas, no futuro, terá que se colocar nos CV a resiliência”. Filipa Rodrigues tem constatado que os alunos de hoje são pouco tolerantes à frustração e, por isso, defende a aplicação da filosofia Ubuntu – que já chegou ao ensino superior- também nos outros graus de ensino. Trata-se pois de um método que aposta na valorização da interdependência e da solidariedade e que trabalha a capacidade de ser resiliente de uma forma transversal. A filosofia Ubuntu foi desenvolvida a partir do modelo de liderança servidora e obteve inspiração em figuras como Martin Luther King, Malala e Nelson Mandela. Este último, um verdadeiro resiliente, pois foi “segregado por brancos e por negros e conseguiu congregrar todas aquelas forças contrárias“, sublinhou.

Local de confiança e de empoderamento
“A escola tem que ser um espaço relacional e promotora de relações de proximidade”, disse a docente. A sua visão sobre a escola do futuro implica que a instituição possa ser não só um espaço relacional como “de autoconfiança, de autoestima e empoderamento”. E, por isso, considera que esta filosofia de caráter humanista é a mais adequada para a escola do futuro. Nesta, os professores têm que estar disponíveis para se relacionarem com os seus alunos e não algo distante, como se constata em muitas salas de aula.
Outra dimensão que para Filipa Rodrigues valeria a pena valorizar é a intuição. Numa era em que “já não há soluções prontas, temos que ser sensíveis e permeáveis a uma certa intuição”, referiu.
A professora defende pois um certo retorno aos princípios básicos, como o regresso às conexões com a Natureza e, principalmente, “um retorno às relações entre as pessoas”. A pandemia provocou um afastamento social “que não sei quantas décadas serão necessárias para recuperar”. De qualquer modo, e apesar da ameaça de novas pandemias não vai passar, “temos que voltar a um espaço seguro pois por questões de saúde mental não podemos viver em isolamento”
Por último, defende também a necessidade de empatia. E acha quase contraditório que se peça que um aluno tenha um espírito crítico e capaz de trabalho colaborativo, “quando o que se estimula é a competitividade e a individualidade”. Dessa forma,“será sempre difícil pedir-lhe que se integre numa equipa e que seja capaz de em conjunto gerar soluções originais”, disse.
No que diz respeito aos professores, Filipa Rodrigues – que está ligada a algumas plataformas internacionais – constata que a falta de docentes está presente em vários países.
Paulatinamente começou a haver menos professores pois “temos muitas décadas de taxas de natalidade abaixo do esperado”. Depois da covid houve um baby boom e há metade das creches das que seriam necessárias”.
Além do mais, houve, na sua opinião, um claro desinvestimento na carreira docente e também “um desencantamento pela profissão”, disse Filipa Rodrigues, acrescentando que tem vários colegas que enveredaram por outras carreiras. Por outro lado, atualmente constata-se que nos politécnicos, como o de Leiria, as vagas das turmas para futuros professores estão “quase todas preenchidas”, rematou a docente. ■

Perfil

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Filipa Rodrigues
Artista e docente universitária

É artista e doutorada em Educação Artística pelas Belas Artes de Lisboa e doutorada em Ciências da Cognição e Linguagem na Universidade Católica Portuguesa. Desde 2017 é docente no Instituto Politécnico de Leiria (ESECS). Filipa Rodrigues é professora de Educação Visual e Tecnológica pela ESEP, Politécnico do Porto, com profissionalização em Educação Especial. Integra vários projetos internacionais. É casada e mãe de três filhos.

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