Vou hoje servir-me de novo do texto de Manoel de Sousa Pinto, no seu pequeno livrinho “Três Figuras Caldenses” (1918), só que desta vez partilho as palavras referentes a José Malhoa.
E escreve o Autor:
[…] “Viu-se bem o grau de generalizado apreço que envolve a obra de Malhoa na grande exposição de Lisboa. Nos últimos dias e noites em que esteve aberta gratuitamente, era dos mais imprevistos o espetáculo, sempre renovado, da multidão que se demorava a ver e apreciar os trabalhos do Mestre que está, pelo seu temperamento e comunicabilidade, mais próxima dela.
O número de visitantes não é um critério seguro de valor, mas serviu, desta feita, para demonstrar que Malhôa já tinha o seu nome espalhado entre o povo, que assim veio sancionar, em ondas fartas, a homenagem prometida. A mais intensa das propagandas nunca conseguiria tanto: esse raro favor da alma popular.
[…] Malhôa, pela dispersão da sua cobiçada obra, talvez nunca venha a ter um museu com o seu nome, mas tem podido ver-se aplaudido por todos, desde os mestres de mais fama aos mais inesperados anónimos. Nem ele aspira a um museu, sãos os museus que o pretendem.
Ali o têm, a Malhoa! Nem muito moço, nem muito velho, em ótimo estado de conservação e capaz de sacudir com uma pilhéria o impertinente mais pegadiço. Avivam-lhe a lapela os distintivos da Legião da Honra e de São Tiago. Como insígnia pessoal da Legião da Arte, em que é dos primeiros, usa o enorme laço preto, que serviria à vontade para vestir uma boneca, que não fosse de carne. Na intimidade, um excelente amigo, que chega a esquecer-se de que se chama Jose Malhoa, para ser simplesmente o Zézinho, que é como ele, nos seus solilóquios, se costuma tratar a si próprio. «Vais bem por aí, Zézinho!» – Zézinho, fizeste asneira!».”