O “Ar de Fado” de Fernanda Paulo é um álbum que foge aos padrões convencionais

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Ramon e Fernanda
O argentino Ramón Maschio foi um dos músicos convidados do concerto de Fernanda Paulo, com quem a cantora interpretou “Naranjo en flor” |Beatriz Raposo
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Quase 400 pessoas assistiram ao espectáculo de estreia de Fernanda Paulo no CCC, no dia 19 de Novembro. A caldense, que vive em Lisboa, escolheu a sua terra natal para apresentar em primeira mão o seu novo álbum, “Ar de Fado”, num concerto de fado pouco convencional onde também houve um “cheirinho” de teatro.

“Foi Deus” foi o tema de abertura do espectáculo e também o primeiro fado que Fernanda Paulo cantou, tinha 13 anos. Por isso mesmo, a artista interpretou-o da forma “mais simples, singela e inocente possível”, descalça e sem brincos, recuando assim à sua infância.
Seguiu-se “Sombra” e “Nome de Rua”, duas composições de David Mourão Ferreira e Alain Oulman, e a versão portuguesa de “Além do Amor”, originalmente do brasileiro Vinicius Moraes.
Em “Acho Inúteis As Palavras”, Fernanda Paulo voltou a surpreender o público ao fingir que lia o poema de António Sousa Freitas num caderno quando na verdade este tinha as páginas em branco. “Quis mostrar a minha ligação à poesia e passar a mensagem de como às vezes basta procurarmos as palavras dentro de nós”, disse a cantora, que várias vezes durante o concerto optou por declamar as letras das canções, em vez de cantá-las com melodia.
Estes momentos, juntamente com o cenário composto por uma janela e uma mesa redonda (criação de Filipa Duarte), fizeram da actuação de Fernanda Paulo um espectáculo de fado pouco convencional com apontamentos teatrais. Isto porque a cantora também trabalha e tem formação em teatro, encontrando-se actualmente a participar no musical infantil “A Incrível Fábrica dos Oceanos”.
Fazendo-se acompanhar por Pedro Pinhal na viola de fado, André Moreira no baixo e Eurico Machado na guitarra portuguesa, Fernanda Paulo também chamou ao palco os convidados Raquel Reis (violoncelo), Ramón Maschio (músico argentino com quem interpretou o tango “Naranjo en Flor”) e Manuel Miguel (acordeão). Este último, também caldense, foi seu professor de Educação Musical e o compositor da primeira música que Fernanda apresentou num festival, na altura com 10 anos.
“Uma Flor de Verde Pinho”, “Filha das Ervas” (com especial dedicatória aos pais), “La Vie En Rose”, “Cidade Garrida”, “Dá-me Um Beijo” e “Canto o Fado” foram outros temas deste concerto, que terminou à “caldense” com o “Fado das Caldas”.

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NÃO UTILIZO A DESIGNAÇÃO “FADISTA”

Embora tenha descoberto o fado aos 13 anos, por influência da mãe, só há dois anos é que Fernanda Paulo se dedicou verdadeiramente a este género musical tão português.
“Comecei a ser convidada para eventos de fado, a conhecer mais repertório e também fadistas”, explicou a artista, que levou algum tempo a gravar o disco porque “acho sempre que não estou suficientemente preparada”.
“Ar de Fado” foi lançado este ano e apresenta-se como um álbum que sai dos padrões convencionais. Isto porque Fernanda Paulo, além do fado, tem outras influências, como a música popular brasileira, o canto lírico que aprendeu na Escola de Música do Conservatório Nacional, ou mesmo o teatro.
A própria cantora não se considera fadista – “para mim um fadista é alguém que só vive do fado” – mas sim uma intérprete apaixonada pela língua portuguesa.

 

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