Artista francesa que esteve nas Caldas em 1977 regressou a Portugal para expôr em Lisboa
ORLAN, a famosa artista francesa pelos seus trabalhos relacionados com a Body Art, regressou recentemente a Portugal onde apresentou, em Lisboa a exposição “Je t’autorise a être moi, je m’ autorise a être toi”, onde homenageou várias mulheres, tomando o seu lugar e fazendo-se fotografar nos contextos em que estas viveram. ORLAN transformou-se em Marie Curie ou em Rosa Parks. Foi no CCB, na Galeria do Centro Português de Serigrafia, que a autora deu a conhecer o seu livro “ORLAN, Strip-Tease: Tudo sobre a minha vida, tudo sobre a minha arte” (edições SESC).
ORLAN foi uma das artistas dos IV Encontros Internacionais de Arte, que tiveram lugar nas Caldas, de 1 a 12 de agosto de 1977. As suas propostas- relacionadas com o corpo – foram mal interpretadas, deram origem a várias rumores e levou a alguma contestação de pessoas que não entendiam as suas propostas artísticas, que questionavam o papel da mulher na Arte. Numa entrevista feita a ORLAN por Verónica Metello, em dezembro de 2017 – e que pode ler-se no livro Caldas 77 – IV Encontros Internacionais de Arte em Portugal, coordenado por David-Alexandre Guéniot (com imagens da Gazeta das Caldas) – a própria artista explicou algumas das performances e reações do público. “Eu tive vários encontros diretos com o público, porque fiz performance na rua. Numa ORLAN apresentou um vestido em tela fotográfica “representando-me nua, numa época em que não víamos sequer t-shirts com torsos de mulher ou de homem”. Essa performance apresentada no
Parque e nas ruas, “foi acolhida com muita resistência”. A polícia tentou prender a artista mas na verdade esta envergava o vestido que ia até aos pés e podia facilmente provar que não estava nua. “Eu ainda tinha uma mala de mão, com os meus documentos de identificação, logo não tiveram motivos para me levar para o posto da polícia”.
Outra das suas performances envolveu a venda de partes do seu corpo (fotografadas e coladas em madeira) e que a artista colocava junto à fruta e aos legumes das bancas da Praça da Fruta. “Havia o preço para um olho, um braço, para a minha cabeça….Os preços eram baratos.”, referiu ORLAN sobre a sua intervenção “Vender-se nos mercados em pequenos pedaços”. Na entrevista recordou que tinha escrito num grande placard: “Será que o meu corpo me pertence realmente? e ainda “Pura ORLAN garantida – Sem corantes nem conservantes”. Após ter estado nas Caldas, em outubro de 1977, as propostas artísticas de ORLAN – “chamam à atenção do mundo da arte e é lançada a sua carreira enquanto representante feminina do Body Art, explica-se no mesmo livro. A autora, que foi expulsa do ensino em França, é conhecida pelas performances cirúrgicas que modificaram o seu corpo. Também faz trabalhos com recurso à inteligência artificial e à robótica. ORLAN expõe e tem sido premiada em vários países. ■