Funciona em A-dos-Francos, o Atelier Sá Nogueira que se dedica à cerâmica, em especial à azulejaria que aplica a peças utilitárias e decorativas como caixas de vários tamanhos. É ali que também se reproduzem em cerâmica belas janelas de edifícios caldenses como de outras cidades.
Além destas peças, neste atelier também se desenvolvem novas colecções para os museus e palácios nacionais, sob a coordenação de Amélia Sá Nogueira.
O autor é de S. Pedro de Sintra e teve um atelier de cerâmica em Lisboa onde assegurava vários postos de trabalho. Começou por decorar peças de olaria e a empresa cresceu de tal forma que chegou a empregar 14 pessoas, no entanto acabou por deixar de conseguir dar resposta às muitas encomendas.
Antes de voltar a dedicar-se a tempo inteiro à cerâmica trabalhou durante 20 anos numa grande empresa ligada ao sector da construção civil, o que lhe deu o know how de gestão que hoje aplica no seu atelier.
Após ter vivido em Cabo Verde, quando regressou, passou a dedicar-se à azulejaria e veio viver para A-dos-Francos. “Só por si, não era na altura um produto fácil de vender. Era preciso juntar-lhe utilidade…”, comentou Sá Nogueira.
É a partir daquela vila do concelho das Caldas – onde vive e trabalha – que cria obras que depois envia para várias lojas, museus e palácios nacionais em todo o país e para o estrangeiro. Além do seu, assegura mais três postos de trabalho: da sua mulher, Amélia Sá Nogueira e de duas funcionárias.
O autor, que começou por fazer azulejos estilo século XVII, passou depois para o hispano-árabe. Sá Nogueira é rigoroso no que diz respeito às formas e aos motivos que usa no seu trabalho. As caixas são feitas em faiança com recurso a moldes. É igualmente exigente no que diz respeito aos vidrados e às cores que usa.
Presente em vários países
“O nosso atelier é o que neste momento trabalha melhor o azulejo hispano-árabe e que está melhor implementado na venda para lojas e de vários museus”, disse o ceramista. E não é apenas o mercado nacional que se interessa pelas suas obras. Têm contactos de muitos outros países como da Rússia, Itália Espanha, Holanda, Índia e Japão, apesar de não efectuar venda directa. A maior parte dos produtos estão em lojas do Parque Monte da Lua (Sintra) ou na Lisbon Shop e são sobretudo estrangeiros que compram. Alguns vão à procura na internet pelo atelier, encontrando-nos no Facebook e “entram em contacto connosco”. E, de vez em quando, chegam a A-dos-Francos, interessados na produção deste casal.
José Sá Nogueira conhece bem o negócio e diz que para se conseguir vencer na cerâmica é preciso: ser criativo, perceber técnicas de cerâmica e ser empresário. Ou seja, é necessário perceber as várias responsabilidades, incluindo a tributária, pois há datas a cumprir que não se podem falhar. Por agora, a produção corre bem mas o espaço já é pequeno e o ceramista já está a pensar em alargar o atelier.
Toda a produção que estava pronta de caixas de azulejos já estava vendida, sendo aquele produto o principal desta empresa. Estas são decoradas com 16 motivos e cores variadas. Têm também outras peças como as caixas com imitação de motivos da calçada portuguesa.
O atelier aposta ainda na reprodução de belas janelas que existem em diferentes localidades, o que é um atractivo para os clientes estrangeiros que as querem levar para os seus países. Da colecção do atelier há já três que têm por base edifícios caldenses e que são agradáveis obras que aludem ao património cultural local.
Apostar em nichos de mercado
Actualmente o atelier está a fazer uma colecção ligada à cerâmica arqueológica que deu a conhecer à Direcção Geral do Património Cultural de modo a poder ser vendida nos museus ligados à arqueologia, como em Conímbriga. A sua responsável é Amélia Sá Nogueira Amélia que tirou o curso de Cerâmica e Vidro no Cencal (CET) e está aplicar a sua aprendizagem neste projecto.
As peças, ânforas, têm vários tamanhos, sendo produzidos em barro vermelho, com ou sem vidração. Há pois nichos de mercado que se interessam por produções específicas e é nisso que este atelier também aposta.
“Não existem muitos sítios onde vender este produto específico”, disse a autora explicando que aquelas peças são feitas por enchimento e no final são polidas. Têm uma embalagem própria (feita pela empresa caldense Minidesigners), uma peanha e um símbolo, tal como exige uma peça que remete para o passado. No entanto, “não foi um produto fácil de vender, ou seja, é preciso fazer um produto adequado ao que o mercado quer”, acrescentou.
Desafiados para novos projectos
Por outro lado, como trabalham muito com mercados turísticos específicos como Sintra, foram desafiados a pegar em temas e em símbolos próprios como o peixe da Quinta da Regaleira e a transformá-lo num produto vendável. Também lhes pediram peças baseadas nas carrancas das fontes daquela região e Amélia já criou uma apetecível colecção com formas e vidrados para todos os gostos. São cinco ao todo e têm representações simbólicas ligadas, por exemplo, ao diabo e ao bobo. Cada uma tem a sua simbologia e são feitos em barro vermelho, faiança e grés. “Há imensas coisas que nos servem de inspiração”, disse a ceramista , orgulhosa pelo trabalho desenvolvido em parceria com o marido e que leva o seu atelier para paragens cada vez mais longínquas. É uma peça do casal que é a oferta que o ISCTE faz aos seus convidados do estrangeiro. Também já produziram vários painéis para instituições públicas e clientes privados e querem continuar a dar respostas aos desafios dos seus clientes. Muitos dos seus padrões acabam também por ser usados noutros produtos desde caixas de óculos até à decoração dos tuk-tuks lisboetas.
No período do Natal o atelier Sá Nogueira colaborou com o Centro Social de S. Gregório e realizou com os alunos da creche e com os idosos, peças de cerâmica que posteriormente foram decoradas. Serviram para os enfeites das suas árvores de Natal no centro e nas suas casas. “Gosto de colaborar até porque a cerâmica tem uma vertente terapêutica”, rematou a autora.
Peças Sá Nogueira à venda na loja da Gazeta
Na loja da Gazeta das Caldas, podem ser adquiridas peças do Atelier Sá Nogueira. Além das muitas caixas com tampa em azulejo hispano-árabe, podem igualmente ser adquiridas as janelas das Caldas da Rainha. Estão à venda reproduções que tomam por base aquelas que existem em edifícios revestidos a azulejo e que se encontram em ruas caldenses como a R. Capitão Filipe de Sousa, na Praça 5 de Outubro (ex-Peixe) e na Cova da Onça.