Eduardo Schwalbach [1860/1946] foi um ilustre jornalista e um popular escritor de peças de teatro e de literatura infantil.
De feitio extrovertido, amigo do seu amigo, não perdia a oportunidade quando tal se tornava necessário, de utilizar palavras mordazes, quais setas afiadas arremessadas ao alvo.
Em 1944 foi publicou um livro intitulado “À Lareira do Passado”, que à laia de diário relata os factos mais predominantes da sua agitada vida, finalizando com vários relatos que têm por protagonistas os seus mais íntimos amigos. Dessa lista consta o nome de Rafael Bordalo, acerca de quem Schwalbach escreve: “Se me propusesse ser teu biógrafo, colhendo todas as pedras de toda a tua rica joalharia artística, só contigo encheria um grosso volume com as mais delgadas folhas; mas bem mais fraco é o meu trabalho – trazer-te para aqui como aos teus companheiros de Canteirinho, num quási permanente dia a dia durante um certo período, só «com o você, você aquilo». Todavia dentre deste «Você», quanta intimidade de espíritos, quanta mútua amizade, e quanta admiração ainda pelo teu (anda cá G maiúsculo) grande valor! […]
A sua estima por mim era visível, manifestava-se na afabilidade da palavra, no aconchego do estar, no entusiamo por quanto eu produzia – o seu lápis esbanjava talento a enaltecer-me; ao coração abria-lhe de par em par as portas para eu caber todo inteiro, lá dentro. Como a todos os outros meus queridos, vejo-o e sinto-o ainda hoje como então – quási alto, encorpado, muito simpático, expansivo, cabeça grande proporcionada ao corpo, farta cabeleira negra de risco ao lado e airosas popas, olhos brilhantes, expressivos, a falarem tanto como a sua boca, de ironia sempre a crispar-lhe por entre o bigode. […]
Vê-lo trabalhar prendia-nos: na fábrica das Caldas da Rainha, …
A visita à fábrica, fica para daqui a uma semana; há tantas coisas a ver e tanto a aprender que agora vamos descansar para nos prepararmos para entrar naquela catedral do barro…