Crónicas de Bem Fazer e de Mal Dizer – XXXVIII

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Gazeta das Caldas
Isabel Castanheira
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UMA RAINHA ENTRE RAINHAS

Gazeta das Caldas“A Mulher na História de Portugal” é um livro de formato e aspecto muito respeitável. O meu exemplar, encadernado em meio amador, com uma lombada com nervos, decorado com belíssimos ferros, é um trabalho de encadernação que faz jus a esta arte, infelizmente cada vez mais rara.

Com um formato de 24×17 cms, impresso em papel de forte gramagem, é um livro feito para perpetuar a sua mensagem. Impresso “no dia de exaltação da Santa Cruz, aos 14 de Setembro de 1940, no Centro Tipográfico Colonial, situado no Largo Bordalo Pinheiro n.ºs 17 a 29, em Lisboa.”

Da autoria de Bertha Leite, são os textos das “palestras comemorativas dos Centenários proferidas ao microfone da Emissora Nacional”, sendo as ilustrações da autoria do pai da autora.

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Curiosamente a ilustração escolhida para decorar a capa do livro é a da Rainha D. Leonor de Lencastre, ilustração essa repetida na página 168 a que se segue o respetivo texto.

São 31 as personalidades femininas referenciadas no livro, na sua grande maioria rainhas, senda a primeira D. Teresa Afonso (mulher de Egas Moniz) e a última é a Rainha D. Amélia. Todos os textos estão escritos numa linguagem de exaltação das figuras femininas, estilo este totalmente integrado no espírito da celebração do “Duplo Centenário da Fundação e da Restauração da Pátria”, muito ao sabor da política imposta à época.

Dediquemos um pouco da nossa atenção ao texto de Berha Leite, sobre a Rainha D. Leonor.

“A vida da Rainha D. Leonor foi um rosário de penitências.

O rei foi muitas vezes ameaçado de morte pelas repetidas conspirações na Corte.

O «Príncipe Perfeito» reagiu porém violentamente às provocações da Aristocracia com a soberana resolução de quem defende mais do que a vida, o poder real.

Fez alianças com o povo. O Duque de Bragança cunhada da Rainha, e o Duque de Viseu irmão de D. Leonor, tombaram por conjura, este último apunhalado pelo próprio rei.

D. Leonor tudo sofreu sem que deixasse de reinar a concórdia entre os esposos. Nunca traiu a fé jurada ao marido. Até hoje pelo menos nenhum documento nos prova o contrário.

Além da guerra aberta que D. João II declarou à família de D. Leonor, teve a Rainha de sofrer a separação do filho pequenino entregue em Moura a sua avó por motivo das Terçarias de Castela.

Outros grandes males a afligiram ainda.

Os ciúmes de D. Ana de Mendonça (formosa dama da Excelente Senhora D. Joana, segunda mulher de D. Afonso V) levaram-na longe de mais. Foi injusta e insofrida. Um erro não desculpa outro erro.

Perdendo a graça de Deus D. Ana de Mendonça esqueceu nessa vertigem amorosa por enlouquecido amor de el-rei, que a satisfação da ternura é um ato de desamor por aquela que não sendo livre, só pela renúncia pode ser dignamente amado.

Possuidora da graça incomparável de sofrer por um amor legítimo, D. Leonor devia a si própria menos dureza e mais descrição.

As explosões de ciúme são impróprias de uma Senhora, inconcebíveis numa Rainha e impossíveis no coração de qualquer mulher que conheça o verdadeiro sentido da abnegação.”

E com este conselho por aqui nos ficamos.

 

Isabel Castanheira

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