ANTIGUIDADES DAS CALDAS
Jaime Jorge Umbelino nasceu na Foz do Arelho, em 5 de Março de 1918. Professor e autor de vasta obra, hoje temos entre mãos “A Foz do Arelho na Lenda e na História”, 2.ª Edição, publicada em 2006.
É esta uma obra em que o autor nos dá uma completa panorâmica sobre as particularidades da sua terra natal, desde a explicação do topónimo, as fotos, à igreja, às casas senhoriais, à escola, à pesca, às festas tradicionais, às personalidades mais conhecidas, à flora e à fauna.
A páginas tantas, encontramos a descrição de facto pouco divulgado, que pela sua curiosidade transcrevemos:
– O FAUFRÁGIO DO ROUMANIA – “ No final do século XIX e nas primeiras décadas do século XX, era assunto de animadas conversas o naufrágio do Roumania, um navio inglês que, no dia 28 de Outubro de 1892, abalroou junto da nossa Lagoa, mesmo defronte dos rochedos do Gronho, como podemos verificar por informação publicada no Diário de Notícias do dia 30 desse mês.
Tinha saído de Liverpool, com destino a Bombaim, carregado de mercadorias, na sua maioria vinhos e tecidos, e trazia 156 passageiros e 76 passageiros, tendo morrido a maior parte dessas pessoas.
Acontece que, ainda nessa altura, numa grande extensão, ao longo das terras do Bom Sucesso, tinha a Lagoa um profundo baixio, a que chamavam varga, até à entrada do mar, o que dava origem a que as bateiras, normalmente conduzidas à vara, tivessem de ser conduzidas a remos, por as varas não chegarem ao fundo. Tal como eu, ainda existirão pessoas da Foz que se lembram disso.
Como é óbvio, esse baixio (verga) prolongava-se pelo mar, acontecendo que, nas marés baixas, ficavam à vista os rochedos e os recifes que se estendiam em frente do Gronho. E foi nesses rochedos que o navio ficou abalroado, na posição norte/sul, podendo ainda há anos, e nas marés baixas, ver-se o seu casco, paralelamente à costa, bastante destroçado, com os seus mastros a pique.
Hoje, o que resta desse casco está soterrado nas areias que, com toda a certeza, trazidas de roldão pelas correntes que se precipitaram precipitavam pela citada verga da Lagoa, iam nele encalhar, o que, pouco a pouco deu azo a uma sedimentação, causadora por consequência do assoreamento hoje existente. Os mastros, contudo, ainda se veem, de quando em quando, nas marés baixas.
Muitos dos mortos que o mar levou à costa, entre a Foz do Arelho e São Martinho, foram sepultados no cemitério da Serra do Bouro, em talhão separado, por motivos de religião. Hoje, já lá estão muito poucos por os seus familiares terem feito transladações para Inglaterra.
Como é natural, à medida que os temporais iam destroçando o navio, as várias mercadorias (tecidos, madeiras e até móveis, iam sendo depositados na costa. Mas foi acontecendo que, embora as autoridades marítimas fossem vigiando, muitas dessas coisas foram sonegadas, dando origem a que na Foz, e localidades vizinhas, muitas pessoas guardassem tecidos e objetos do Roumania.
Até madeiramentos de casas se fizeram com as madeiras encontradas e subtraídas à vigilância.”
Este exemplar é muito mais valioso do que inicialmente se poderia pensar; a carinhosa e amiga dedicatória do autor comprova-o.