A violência no namoro pode tomar muitas formas. Uma delas é o cyberbullying, de que foi vítima Sérgio Carvalho, um professor de Leiria que conta a sua história no livro “Tu foste um intervalo na solidão” (Chiado Editora), onde relata uma conturbada relação que viveu com uma namorada controladora que o vigiava e mantinha controlo cerrado sobre as suas comunicações.
A sessão de apresentação deveria ter-se realizado na Biblioteca Municipal no dia 24 de Fevereiro, mas como só apareceram três pessoas, teve de ser adiada. O autor, formado na ESAD, acabou por contar a sua história aos jornalistas.
“Tu foste um intervalo na solidão” é uma obra autobiográfica sobre uma relação amorosa que durou 496 dias. A história passou-se em Aveiro, enquanto Sérgio Carvalho se encontrava a tirar o seu mestrado entre 2009 e 2011. A jovem com quem se envolveu era uma rapariga que não trabalhava nem estudava pois tinha feito uma paragem nos seus estudos superiores. Conheceram-se num pic-nic e, como no início de todas as relações, “tudo era alegre e colorido”, explicou o autor. Passado pouco tempo, e quando já viviam juntos, ele percebeu que a sua namorada sentia uma grande insegurança em relação às suas relações sociais. “Ela começou a controlar-me. Eu percebi que estava a ser supervisionado dado que ela via tudo o que escrevia e tudo o que eu falava com as outras pessoas”, disse.
É claro que a namorada tinha acesso aos seus e.mails e redes sociais porque ele próprio, como prova de confiança, lhas tinha cedido.
“Por amor, nós somos doidos e fazemos tudo”, disse Sérgio Carvalho, que passado pouco tempo desta nova relação percebeu que não podia aceitar um convite de alguém para um jantar ou um café.
A sua namorada tinha uma auto-estima muito baixa e não se dava com ninguém. “Ela vivia num espécie de bolha no mundo da internet”, disse Sérgio Carvalho, que estava a cada dia mais controlado e com receio de tudo.
“Eu tinha medo de aceitar uma amizade, eu não tinha paz, tudo era motivo para discussões e ciúmes”, contou o autor, acrescentando que a situação se tornou “recorrente e viciosa”. Aos poucos, a situação ficou incomportável e Sérgio Carvalho considera que foi vítima de cyberbullying, palavra que só aparece na última página do seu livro.
E qual é a definição que o autor lhe dá? “É a violência psicológica através das tecnologias de comunicação e informação”.
Sérgio Carvalho diz que tipo de violência é “pior” do que física pois “é como uma agulha que se espeta, que nunca alivia e que causa uma dor permanente”. Chegou inclusivamente a dizer à namorada que “não a podia amar e ter medo dela em simultâneo”. A gota de água foi quando Sérgio Carvalho viu que ela tinha na sua mochila os seus cadernos com os seus contactos. Foi o fim da relação.
Ainda assim, a namorada controladora disse ao autor que gostava dele… ”Ela não soube gerir as emoções e não soube criar uma linha de segurança para me fazer sentir seguro…”, contou Sérgio Carvalho, explicando que escrever esta obra foi como uma espécie de terapia. “Foi o meu luto”, disse, explicando que o livro foi lançado quatro anos depois daquela relação conturbada.
Na sua opinião, o cyberbulliyng é hoje em dia um problema “transversal e que está a aumentar” pois todos nós “estamos na internet e é fácil controlar os outros…”, afirmou.
Sérgio Carvalho explica que os problemas podem mesmo continuar para lá da relação. “A informação que têm sobre nós pode ser usada posteriormente”, disse.