Um documentário do realizador caldense Miguel Costa dá a conhecer a vida e obra do artista plástico Ferreira da Silva. “Em teu corpo meu corpo” é o título do filme de 65 minutos que, além de conversas com o autor, reúne entrevistas de profissionais e amigos que privaram com aquele que é considerado um dos maiores artistas da cidade.
Carismático, sonhador, apaixonado pela arte e também um grande trabalhador, foram algumas das características atribuídas a Ferreira da Silva, que actualmente, aos 84 anos, continua a trabalhar, agora dedicando-se mais à pintura.
“O que me diverte é o imprevisível da cerâmica”, afirma o artista plástico logo no início do documentário, enquanto trabalha na concretização de um painel nas oficinas do Cencal.
Durante o filme, que foi apresentado no passado domingo, o ceramista diz que o trabalho que executa actualmente não tem nada a ver com o seu percurso inicial. “Faço manifestações que têm mais a ver com o homem rupestre do que com o homem de hoje”, referiu o artista, que produz mais quando está apaixonado, mas que trabalha todos os dias.
O documentário, que foi realizado o ano passado, durante sete meses, contém imagens do artista a trabalhar, das suas obras e também testemunhos de figuras de destaque do mundo cultural português, como é o caso do artista José Santa-Bárbara, do critico de artes-plásticas Edgardo Xavier e do director do CCC, Carlos Mota.
Entre os entrevistados estão também os directores da Gazeta das Caldas, José Luís de Almeida e Silva, e do Jornal das Caldas, Jaime Costa, o ex-director do Cencal, Octávio Félix, o ex-director do Centro Hospitalar das Caldas, Mário Gonçalves, o técnico de cerâmica, António Cardoso, e o amigo do artista homenageado, José Carlos Nogueira.
O historiador João Serra contou o percurso do artista nascido no Porto em 1928 e que fez a sua primeira incursão na área a trabalhar na Cerâmica Bombarralense, passando depois por cerâmicas e olarias em Alcobaça, até que chegou à Secla, nas Caldas da Rainha.
Ferreira da Silva dirigiu o estúdio Secla onde trabalhou e privou com artistas e figuras de renome internacional como Júlio Pomar, Hansi Stael, António Quadros, Santa Barbara, Alice Vieira, Querubim Lapa, Luis Pacheco, Almeida Monteiro, António Cardoso, entre outros. Ganhou o prémio nacional de escultura com a obra “O grito” na sequência de diversas exposições na Sociedade Nacional de Belas Artes e foi bolseiro da Gulbenkian em Paris.
Desde 1985 que é um dos artistas residentes no Cencal, que ajudou a criar. Entretanto, e desde 1999, tem também trabalhado com a empresa caldense Molde. Ultimamente tem-se dedicado à realização de vitrais, numa empresa da Marinha Grande.
“Uma montagem excepcional, muito bem urdida”
No final da apresentação do documentário Ferreira da Silva disse estar encantado com o que viu e teceu os maiores elogios ao realizador Miguel Costa, que fez uma “montagem excepcional, muito bem urdida”. Mostrou-se ainda muito surpreendido com a presença de tantos amigos, que lotaram o pequeno auditório do CCC para ver o filme em estreia.
O documentário demorou sete meses a ser feito, mas foi “bastante aprazível”, conta Miguel Costa, acrescentando que foi “fantástico descobrir toda a obra maravilhosa de Ferreira da Silva”. O realizador já conhecia parte da obra do artista, mas toda a sua dimensão foi uma novidade, que foi descobrindo à medida em que foram realizadas as entrevistas.
Agora estão a trabalhar nas traduções para inglês do filme, que será legendado, e depois vão tentar levá-lo a festivais e tentar vender para um canal de televisão, para exibição.
“Estou satisfeito com a receptividade de Ferreira da Silva e também do público”, disse, no final da exibição.
Miguel Costa está também a realizar um documentário sobre a pianista Olga Prats para a RTP2, que já está na fase da pós-produção, e está também a realizar um documentário sobre o maestro António Vitorino d’Almeida, que também está a filmar há mais de um ano e que tentará terminar até Dezembro.
Fátima Ferreira
fferreira@gazetadascaldas.pt