Escritores locais reunidos em volta das cidades

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José Ricardo Nunes, Henrique Fialho, Isabel Gouveia, Carlos Querido e Isabel Xavier (PH)
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Quatro escritores que vivem nas Caldas da Rainha acederam ao convite do Património Histórico (PH) para conversar sobre a escrita e as cidades. A segunda tertúlia daquela associação teve lugar a 20 de Fevereiro no café do CCC. Em Março será a vez dos artistaS

José Ricardo Nunes, Henrique Fialho, Isabel Gouveia e Carlos Querido foram os convidados do PH a participar na segunda tertúlia do ciclo, dedicada à escrita e às cidades. Os três primeiros são poetas e, como tal, deram a conhecer poemas seus relacionados com a vivência nas cidades. Isabel Gouveia vive nas Caldas há 56 anos. Houve um período que viveu em Alcobaça e contou às 30 pessoas presentes como era o seu quotidiano entre as duas localidades oestinas. Na sua intervenção, a autora lembrou grandes nomes ligados à cultura local como Bordalo Pinheiro, Malhoa, Manuel Mafra e Armando Correia, mas salientou também dois artistas caldenses cuja obra merece maior reconhecimento: os pintores Manuel Taraio e José Pires. Henrique Fialho fez um périplo por obras dedicadas às cidades tendo feito referências à Cidade de Deus de Santo Agostinho e às Cidades Invisíveis de Italo Calvino. O escritor, que é natural de Rio Maior e aos 17 anos foi estudar para Lisboa, vive há duas décadas nas Caldas. Enquanto “cidadão adoptado” gosta de contactar com “um certo travo a ruralidade” quando vai à Praça da Fruta. Henrique Fialho salientou ainda os sentimentos de solidão e de isolamento que podem sentir os habitantes que vive nas grandes urbes.
José Ricardo Nunes vive nas Caldas há 53 anos e um dos seus livros de poesia tem no título uma das artérias da cidade, “Rua 31 de Janeiro”, onde ficava a prisão das Caldas da Rainha, onde o autor iniciou a sua carreira profissional. Tal como o orador que o antecedeu na tertúlia, concorda que há “um lado decadente e de ruína”, muito visível em edifícios como os Pavilhões de Parque que, mesmo assim, continuam a encantar caldenses e visitantes, enquanto aguardam pela reabilitação. Em alguns dos seus poemas, há referências a algumas cidades, além da sua terra natal, como Lisboa. Nalguns dos últimos textos, lidos na sessão, Ricardo Nunes refere os nomes de alguns dos seus amigos, com quem partilha vivências caldenses.
Carlos Querido, o juiz-escritor de Salir do Porto, possui várias obras passadas nas Caldas como “A Redenção das Águas” e “Praça da Fruta”. O autor sublinhou o facto de “a água e do barro fazerem parte do ADN da cidade”. Naqueles livros, há personagens que “manifestam o seu profundo sentimento de pertença às Caldas da Rainha”. O autor referiu o narrador de “A Redenção das Águas” [escudeiro do Infante D. Manuel] enquanto vagueia pela vila das Caldas, afirma: “Percorri vilas e cidades sem conta. Nunca encontrei duas que se assemelhassem ao ponto de se confundirem. Notam-se diferenças subtis mas definitivas, na forma como respiram, na atmosfera que as rodeia, na pulsação das praças, das ruas e dos mercados. Penso que é a memória que as individualiza, uma memória que vem de longe, em constante construção, uma memória feita de fragmentos que por serem tão diversos fazem de cada uma delas um caso único. Só as conhecemos quando conseguimos senti-las”.
A próxima tertúlia terá lugar em Março e contará com convidados artistas.

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