A execução da pintura mural dedicada à temática da “intemporalidade do amor” de Jorge Charrua contou com público atento ao longo do fim de semana
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Jorge Charrua e Filipa Morgado fizeram pinturas murais em fachadas de casas da aldeia de Moledo, no concelho da Lourinhã, durante o passado fim de semana. Os artistas foram convidados pela iniciativa Moledo Acontece, em parceria com a revista Fome. A última autora, é uma arquitecta caldense que está a planear uma iniciativa artística que promete animar e dar nova vida a Cortém. Trata-se de uma aldeia da freguesia dos Vidais que pertence ao concelho das Caldas da Rainha e que vai contar com intervenções artistícas

Durante o passado fim de semana, os artistas Jorge Charrua e Filipa Morgado deixaram as suas intervenções de arte urbana inscritas em duas fachadas no centro da aldeia de Moledo, na Lourinhã. O primeiro artista, que se dedica à arte urbana desde 2004, deixou uma peça monumental, que ocupa quase toda a fachada de um edifício habitacional, onde se encontram representados um casal, talvez um Pedro & Inês da contemporaneidade.
Trata-se de uma obra onde “quis representar a intemporalidade do amor”, disse Jorge Charrua à Gazeta das Caldas, durante uma pausa na execução desta peça de pintura mural. O artista, formado em Pintura nas Belas Artes de Lisboa, adorou a experiência de trazer arte urbana ao meio rural e notou uma grande receptividade por parte da população à sua intervenção.

Uma galeria a céu aberto

O autor que também se dedica à pintura convencional aprecia o trabalho nas localidade e sempre que possível em interacção com as comunidades. “No trabalho na tela, as decisões são individuais ao passo que no trabalho no exterior há diálogo e por vezes o que se pinta até pode ser decidido após uma reunião e em diálogo com as pessoas”, referiu o autor que foi um dos convidados da Revista Fome para fazer parte desta iniciativa em parceria com a “Moledo Acontece”. Segundo João Leirão, artista e responsável pela Moledo Acontece há dez anos que se desenvolve esta iniciativa de fazer acontecer arte no meio rural. “Defendemos esta ideia de descentralização e de arte para todos”, contou o organizador que explica que neste momento nesta aldeia podem ser apreciadas 42 obras, feitas ao longo dos anos e que transformam Moledo numa galeria a céu aberto.
Há várias das obras estão ligadas à temática de Pedro e Inês pois, segundo os historiadores, “ela viveu seis anos escondida em Moledo e teve três dos seus quatro filhos”, referiu João Leirão acrescentando que os artistas que fazem residência artística nesta aldeia, são bem recebidos pela comunidade local e são por exemplo convidados a fazer as refeições nas casas dos habitantes.
Margarida Mata, uma das responsáveis da Revista Fome que se dedica a dar a conhecer artistas emergentes também desenvolve várias iniciativas e programas culturais sobretudo na margem Sul. Um dos programas, designado Acordar espaços dedica-se a programar em locais onde não é habitual acontecer cultura. “No último ano e meio já realizámos 15 exposições e participámos em vários festivais”, contou a responsável, acrescentando que em este programa em Moledo incluía ainda a realização de uma mesa redonda, exposições e um concerto que foram adiados para Novembro, por causa da pandemia. “Apenas mantivemos a execução das pinturas murais, mas está estabelecida a ponte entre Moledo e a programação cultural da Revista Fome”, afirmou Margarida Mata. Jorge Charrua e a própria iniciativa Moledo Acontece já foram alvo de destaque nesta revista que se dedica às artes e à programação cultural.

Oferecer uma paisagem à paisagem

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Outra das convidadas da revista Fome para participar nesta iniciativa foi Filipa Morgado. A arquitecta caldense, que também se dedica à arte urbana deixou outra intervenção,a preto e branco, noutra fachada de Moledo. Mais orgânico e de aposta na gestualidade, a autora contou que vai pintando o que vai sentindo e assim nasceu uma peça onde se encontram representadas as quatro estações, onde não faltam elementos da fauna e flora locais, assim como algumas alusões às temáticas do amor e da fertilidade, também ligados às lendas locais. “Sinto que estou a oferecer uma paisagem à paisagem local”, afirmou a autora durante uma pausa no seu trabalho. Filipa Morgado salientou que durante o fim de semana enquanto executava o seu trabalho esteve em permanente interacção com os habitantes de Moledo, que a interrogaram sobre o que era a sua intervenção.
“Passei o dia inteiro a conversar com pessoas da aldeia”, contou a autora, feliz pois assistiu a um reencontro entre habitantes daquela localidade “que se não falavam há mais de 20 anos por morarem em zonas distantes!”. Como tal, além do aspecto artístico, a autora referiu que a sua participação nesta iniciativa – que une o Moledo Acontece e a Revista Fome – estava a cumprir o seu propósito e até a exceder as expectativas dos próprios participantes. Além de terem sido muito bem recebidos pelos habitantes contaram com adesão dos donos das habitações que agora têm os seus edifícios valorizados com peças de arte urbana. “É importante ter este tipo de iniciativas a acontecer à porta das pessoas”, referiu a artista que está a liderar uma iniciativa congénere numa aldeia do concelho das Caldas.

Arquitecta caldense lidera projecto artístico que vai animar Cortém

A arquitecta caldense Filipa Morgado vai realizar em Cortém, aldeia da freguesia dos Vidais, no final deste ano, a iniciativa CAU – Cortém Aldeia Urbana. Esta contemplará residências artísticas e vai contar com a participação de arquitectos, designers, artistas plásticos, ceramistas, um músico e uma bailarina. “As obras de arte vão nascer com inspiração no próprio local, nas gentes, nas paisagens e nas serras que circundam a aldeia”, disse a artista que se candidatou a vários programas para obter apoios para esta realização.
A iniciativa deverá ter inicio nos últimos meses de 2020 e já tem alguns eventos programados para 2021. Em Fevereiro, Filipa Morgado realizará uma exposição de pintura que vai ser apresentada num pomar. O CAU vai incluir a execução de obras de arte ao vivo e ainda a criação de um atelier de cerâmica “que gostaríamos que mais tarde se transformasse num centro de investigação”, informou a mentora da iniciativa. A arquitecta acrescentou que os participantes farão as suas obras e apresentações “inspiradas nas pessoas e na própria dinâmica da localidade”. 

Filipa Morgado executando a sua peça numa das fachadas da aldeia de Moledo
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